segunda-feira, novembro 22, 2021

«Tudo se compra e vende, menos a dignidade. Ponto final.»


Encontrei hoje um amigo que já não encontrava há meses. Entre outras coisas, acabámos por falar dos livros que foram de um nosso amigo comum, que agora estão à venda num alfarrabista. Pelo meio contou-me duas ou três histórias, ainda mais sinistras, com a cara destes tempos modernos.

Falou-me com preocupação desta gente que só vê dinheiro à frente dos olhos e para quem tudo tem preço. Para eles tudo se compra e vende. Coisas tão simples como o amor ao próximo, a generosidade ou a honestidade, parecem pertencer ao século passado e só são praticadas por "otários"...

Contou-me mais dois ou três exemplos de espólios artísticos de pessoas conhecidas, que desapareceram mal os seus donos fecharam os olhos. Os livros, os discos, as peças de cerâmica e os quadros, coleccionados uma vida inteira com amor, foram imediatamente colocados à venda. Nem as obras de arte, que normalmente valorizam com o tempo, escaparam a esta "corrida ao ouro"...

Num destes casos, a viúva, mãe e sogra, ainda com alguma autonomia e lucidez, foi "depositada" num lar, como se já estivesse incapaz de decidir o que era melhor para si própria. Ao mesmo tempo que os dois filhos colocavam tudo o que estava dentro de casa em "leilão"...

Quando se despediu, este meu amigo, sem esconder a desilusão, disse-me: «Tudo se compra e vende, menos a dignidade. Ponto final.»

Quando vinha para casa, tentei desvalorizar a colagem destes casos a este tempo, dizendo para os meus botões, que sempre existiram pessoas capazes de vender tudo, até a alma. 

Talvez sim, mas eram muito menos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


7 comentários:

  1. Dizem que todo o homem tem um preço e o de alguns é muito baixo.

    Abraço

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    1. E nos tempos de dificuldades, é quando há mais gente em saldo, Rosa...

      Mas nem é o caso. É mesmo muito amor ao dinheiro, aos carros, ao conforto. O resto que se lixe.

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  2. Bom dia
    A dignidade deve ser atualmente uma das coisas mais raras e mais caras , por isso nem deve haver cotação para tal .
    Sem querer ferir suscetibilidades.

    JR

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    1. Pois não, Joaquim.

      E começa logo pelos nossos governantes, a classe mais indigna que circula à nossa volta.

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  3. Que história mais triste; há gente para tudo.

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  4. são mesmo...minimalistas! ;)

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