E agora a segunda e última despedida à francesa, que coincide com o fim da história...
«[...] Ao olhar para a paragem da camioneta de
carreira, houve algo que lhe chamou a atenção. Aproximou-se e descobriu um
cartaz teatral no mínimo curioso, que disputava o espaço publicitário com o
anúncio descolorido de uma tourada do ano passado. Sem saber explicar porquê
achou piada ao título da peça de teatro, “A Mulher que Falava com os Morcegos”.
Podia ser apenas uma piada, mas pensou que era capaz de não ser má ideia
aparecer por lá no começo da noite e conhecer esta personagem curiosa.
As sete pancadas de Molière anteciparam a
entrada de uma actriz no palco, que descobriu que ia andar por ali, quase uma
hora, a falar com as sombras…
O mais engraçado foi descobrir que o
monólogo era interpretado por uma cara conhecida. Nada mais nada menos que a
Eva, a “conversadora do café”. Embora a personagem se chamasse Laura e a actriz
do cartaz fosse identificada como Cristina Nunes...
Não morria de amores pelo género teatral
que ficava entre o absurdo e o intelectual, mas sentiu-se bem na sala. A
espaços encontrou aquela magia que de vez em quando surge nos palcos. Acabou
por ficar agradado, por que havia por ali uma autenticidade diferente, virada
do avesso, com várias nuances, com a Laura a movimentar-se muito bem, quase
como se estivesse num baile de máscaras.
Percebeu ao longo da quase uma hora, que
ela era uma boa actriz.
E até tiveram um momento só deles, quando
ela parou de representar por breves segundos.
Aproximou-se da ponta do palco, olhou para
ele por mais de um segundo e sorriu. Depois fez um pequeno silêncio e disse, completamente
a despropósito, apontando para cima: “Ele veio”… Embora estremecesse com a
surpresa, fingiu o melhor que pôde, que não tinha nada a ver com aquele
assunto. Os espectadores da plateia, por distracção ou desatenção, também de
comportaram como se aquela frase curta fizesse parte do acto. E ainda bem.
No final houve muitos aplausos, Laura veio
três vezes ao palco agradecer a generosidade do público beirão, que acabou a
bater palmas de pé.
Se fosse numa outra cidade e numa outra
vida, tinha passado pelo camarim, para lhe deixar flores e oferecer um sorriso,
agradado pelo espectáculo e até pela pequena referência.
Mas preferiu imitá-la e fazer o que ela lhe
tinha feito no café, nada mais nada menos, que o que alguém, para os lados de
Paris, popularizara como “despedida à francesa”…»
Mais um excelente momento de leitura. Gostei muito.
ResponderEliminarMais uma vez muito obrigado.
Abraço e feliz dia
E não faz mal que a leitura tenha sido feita de trás para a frente, porque cada parte tem o seu espaço, Elvira.
Eliminar