terça-feira, maio 08, 2018

«As gajas estragam-se muito mais que nós»


A frase foi mesmo esta. Ainda estive para a substituir por mulheres, mas ia "colorir" a conversa, que tive com o Alex, músico a quem o tempo roubou a estrela de famoso, como guitarrista de uma das várias bandas históricas do rock português (e que finge ter apagado na sua "história", pois evita falar disso...), e com o Bernardo, que escreveu em tempos que já lá vão, em jornais, tal como eu.

A "gaja" de quem falávamos era uma moçoila, cinquentona como nós, que estava a pouco mais de três metros da nossa mesa, e segundo eles, quase irreconhecível, graças à soma de algumas rugas com uns bons trinta quilos. Nem os seus bonitos olhos claros escaparam, tinham perdido o brilho, tal como o louro dos cabelos.

Fiquei a saber que era a "boa" da rua do Bernardo, e como costuma acontecer neste casos, não lhes dava qualquer confiança. Fez passagens de modelos em discotecas e alguma publicidade, antes de casar com o filho do dono de uma rede de boutiques, que foram engolidas pelo "progresso" (acho que já não existe nenhuma, nem mesmo lá para a Cruz de Pau...). 

«A exclusividade às vezes paga-se caro», insistiu o Alex, com seu sorriso malandro. O Bernardo também sorriu, antes de dizer ao amigo que nem todos podem ter a fisionomia elegante dos "roqueiros", alimentada pelos muitos quilos de erva, filtrados pelos pulmões, e claro, pelas centenas de litros de bagaço, wisky e outras mistelas que ficam a fazer cócegas ao fígado, para todo o sempre.

A Alex disse que sim, pelo menos deviam  ajudar a queimar gorduras e deu os exemplos da Kate Moss e do Keith Richards, sem perder a graça.

E depois concluiu com o óbvio desenhado pelos seus olhos: «Não há qualquer dúvida, as gajas estragam-se muito mais que nós.»

(Fotografia de Luís Eme)

8 comentários:

  1. Luís, é verdade que normalmente o envelhecimento é mais notório nas mulheres, mesmo já havendo bastantes a ter mais cuidados para contrariar esta tendência.
    O facto de o envelhecimento ser socialmente mais estigmatizante para as mulheres, também ajuda à festa.

    ResponderEliminar
  2. Nem sempre, Luís, nem sempre. Agora com as plásticas, algumas já parecem filhas de si mesmas.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é, devia ter lembrado o Alex da Lili. :)

      Eliminar
  3. É bem verdade, Luís! As gajas têm filhos, têm menopausa, têm depressões tratadas a quilos de antidepressivos. E nem todas têm possibilidades físicas ou monetárias para ginásios e plásticas... C'est ça...

    Beijinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, a vida continua a ser mais fácil para nós, Graça... até fisicamente.

      Eliminar
  4. Acho que não se pode generalizar mas achei muito bonito este texto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro que não, Marta, foi só uma conversa de homens. :)

      Eliminar