Recebi há já algum tempo, um convite raro, para falar sobre o que quisesse, perante uma plateia interessada nas coisas da cultura. Podia falar de livros, do jornalismo, de associativismo ou de outra coisa qualquer. Agradeci a deferência e disse que sim, que iria arranjar um tema que pudesse despertar o interesse das pessoas.
No início estava inclinado para falar sobre jornais e jornalismo, por ser uma coisa que é praticamente inexistente em Almada neste novo milénio. Por saber que teria falar de coisas que não me interessam muito, de apontar dedos e de ser crítico de uma realidade translúcida, que interessa preferencialmente a quem não gosta de "contraditórios", acabei por mudar de ideias.
O associativismo nunca foi sequer hipótese, porque também teria de ser polémico e repetitivo. Por muito que aprecie Gil Vicente, não quero fazer o papel do "diabo", muito menos utilizar algo que foi tão importante na vida dos almadenses, como mera "personagem" de discurso, com mais palha que substancia.
Inevitavelmente, sobram os livros... A minha experiência de mais de vinte anos, a marcar presença nos "campeonatos regionais" e na "terceira divisão" da literatura. A Rita deve ter alguma razão, quando diz que sou como aqueles jogadores que dão uns toques com a bola, mas como têm medo de se deslumbrar com a fama, não aceitam as propostas "indecentes" de alguns empresários.
Como tenho escrito um pouco de tudo, sei muito bem onde começa a "inspiração" e acaba a "transpiração" no jogo de palavras.
E também já não consigo discordar de que todas as coisas que escrevemos são autobiográficas, mesmo as que não foram vividas por nós. Pode parecer contraditório, mas não é. Todas as histórias, com e sem dono, quando entram dentro de nós, ficam sempre com "a nossa marca".
(Fotografia de Luís Eme)
Luís, também por isso, estranho cada vez mais a pergunta 'é mesmo verdade?', em relação aos meus escritos.
ResponderEliminarIsso pode acontecer por escreveres muito na primeira pessoa e sobre o quotidiano, Isabel. :)
EliminarSei que é por isso, mas o que quero evidenciar com essa estranheza é que se escrevi é porque existe, é verdade, nem que seja para o personagem que eu construa. Ser verdade para o personagem, se ele existir, não é menos importante, que coincidir com a minha verdade.
EliminarLuís, isto para mim é muito claro. Não sei se o é para outras pessoas que habitualmente escrevem.
Pois não, Isabel.
EliminarPara mim é claro com a luz de Lisboa (não de hoje...).
será por isso que tanta vez me pergunta se as minhas histórias são autobiográficas?
ResponderEliminarUm abraço
Também, Elvira. :)
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