sábado, março 04, 2017

Ler as Palavras dos Outros


Nem mesmo aos fins de semana consigo ficar mais tempo na cama. Talvez isso aconteça porque dormir muito nunca foi o meu forte.

Comi qualquer coisa, sentei-me ao computador e antes de dar um salto pelos jornais visitei dois blogues, de duas mulheres, a Isabel e a Elvira, que "moram perto" e passam praticamente todos os dias pelo "Largo". Fiquei a pensar nas suas reflexões e também no que comentei...

A primeira constatação é que a vida mudou mesmo muito. Passámos a viver com mais conforto e fomos-nos tornando cada vez mais exigentes. Socialmente também crescemos muito, e ainda bem.

Sei que alguns homens (daqueles que aderem com facilidade às histórias de não sei quantas virgens...), gostavam mais de viver num tempo em que as mulheres continuassem a ter mais deveres que direitos. Um bom exemplo desta  "filosofia" são as palavras ditas por um deputado polaco esta semana no parlamento europeu. Num resumo simplista, disse que as mulheres eram menos inteligentes e mais fracas fisicamente, por isso não podiam querer ser iguais a nós, homens.

Sei que só posso falar por mim, mas sempre me fez confusão a minha mãe ser criada do meu pai, como eram praticamente todas as mulheres da sua geração. E soube desde cedo que não queria viver assim.

É também por isso que percebo muito bem que ninguém queira voltar atrás no tempo. Porque não é normal as pessoas casarem-se e irem viver para um quarto alugado. Podia ser há sessenta anos, onde não havia água, luz ou casas de banho em noventa por cento das casas das aldeias do nosso país. E quase tudo era bom para se fugir à fome ou à vida de escravidão nos campos...

Por isso é que existiam tantos bairros de lata à volta de Lisboa ou até Paris, povoados por gente que sonhava com uma vida diferente, e que mais tarde ou mais cedo (com muito sacrifício), conseguiam mesmo mudar de vida.

Mas não precisavam de esquecer. Nem de esconder a vida que tiveram dos filhos e netos. Tinham tornado tudo mais fácil...

Sei que agora está a falar o "historiador", mas olhar para o passado sempre foi uma das melhores ajudas para compreendermos o presente e enfrentarmos o futuro.

Foi por isso que gostei de reflectir com as palavras da Elvira e da Isabel.

(Fotografia de Walker Evans)

6 comentários:

  1. Duplamente surpresa. Primeiro, porque o post do Largo me aparece lá no link exatamente igual ao do Casario. Segundo porque chego aqui e me vejo referenciada o que me deixou sem palavras e sem saber como comentar dei meia volta e sai, pensando não fazê-lo, mas ao mesmo tempo pareceu-me uma indelicadeza e voltei. Curioso que na sua reflexão, fale de Paris e dos bairros de lata, porque eu vou falar deles, nomeadamente do "bidonville" Champigny-sur-Marne, da vida dos portugueses por lá, e do que os faz fugir de
    Portugal, lá mais para a frente naquela história.
    Obrigada pela visita, fico feliz por a leitura lhe ter agradado, e agradeço a referência.
    Um abraço e bom domingo.

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    1. Pois apareceu, porque me enganei, Elvira. Pensava que o estava a colocar no "Casario" e estava no "Largo" (é o que faz ter mais de um blogue...).

      E claro que as histórias da Elvira fazem pensar... esta então faz mesmo parte da nossa história, de um outro tempo.

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  2. Já vi que ando a dar trabalho. :)
    Obrigada, Luís!

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    1. Trabalho? Não.

      Quanto muito dás que pensar, Isabel. :)

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  3. Respostas
    1. Pois é, Laura.

      Uma das vantagens da "net", é tornar próxima tanta coisa bonita.

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