Quase todos os dias me cruzo com ele, entre as oito e um quarto e as oito e meia. Aproxima-se dos oitenta e ainda não perdeu a jovialidade, tem sempre alguma coisa engraçada para contar. As aventuras do "prof. Martelo na República de Belém" são muitas vezes motivo de conversa, outras o futebol, embora o seu Porto ultimamente não lhe dê grandes alegrias.
Hoje, por ser uma manhã mais fria que outras, perguntei-lhe porque razão não entrava no "emprego" depois das nove (sai de casa mais cedo que muita gente que trabalha e faz sempre o mesmo ritual: compra o jornal do povo e senta-se no café, a ler as "desgraças deste país" e a tomar o pequeno-almoço, enquanto os companheiros de tertúlia não chegam).
Ele sorriu e disse de uma forma natural (não notei que existisse qualquer malícia nas suas palavras, nem desencanto, apenas o reflexo da vida):
«Ficar na cama para quê? Já nem sequer como a carcaça que se deita comigo.»
Sorrimos ambos, sem nos lembrarmos que amanhã é sábado, dia de folga destes encontros quase diários...
Fiquei a pensar nesta - e noutras conversas que tenho com septagenários -, ciente de que a idade nos oferece serenidade para tudo, até para se falar de sexo (parece que nem o pudor se aguenta com a idade...).
(Fotografia de Robert Doisneau)
É verdade, Luís.
ResponderEliminarSendo um pedaço mais nova, já me dá para pensar que me é permitido dizer certas coisas.
Ontem, como acontece em mais dias, dei comigo a pensar que já tenho "legitimidade" para dizer rabo. No ginásio, quando me queixo da zona por causa dos exercícios, corrigem-me logo: "glúteos, Isabel". Já lhes disse que posso dizer rabo porque sou mais velha :)
Ainda por cima não dizes mal, Isabel. :)
EliminarVerdade, vejo isso pelo meu pai, que tem 88 anos e antigamente era muitíssimo mais preso, principalmente nas palavras.
ResponderEliminarNem tudo é mau na velhice, Laura. :)
EliminarNota-se isso com quase todas as pessoas à medida que a idade avança. Antes do Natal, meu marido foi a uma consulta de rotina com o Dr. Adriano Aguilar. Não sei a idade do senhor, mas já deixou a juventude há muito tempo. Em resposta a um comentário do médico sobre os problemas da idade, diz-lhe o meu marido. "Mas o senhor doutro está muito bem."
ResponderEliminarResposta pronta do médico
"Pois sim meu amigo. Você diz isso porque não dorme comigo. Olhe que a minha mulher não é da mesma opinião"
Um abraço
Pois nota, e ainda bem, Elvira. :)
EliminarÉ bem verdade! Ainda bem que já estou quase lá... :)))
ResponderEliminarBoa, Graça. :)
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