quinta-feira, janeiro 12, 2017

A Qualidade de Vida e a Mudança de Hábitos...


Nunca tinha pensado a sério numa das causas da mudança de hábitos das pessoas, que a partir de certa altura passaram a ficar mais tempo em casa e a deixar as ruas mais vazias.

Foi preciso ouvir alguém a recordar a "miséria" em que a maior parte das pessoas viviam nos anos quarenta, cinquenta e sessenta do século passado. E nem visitou os bairros de lata que existiram à volta de Lisboa, até pelo menos aos anos 1980...

Preferiu contar a história da sua vida. Quando casou continuou a viver num quarto alugado, porque as rendas na Capital eram altíssimas. Só quando a mulher ficou grávida do primeiro filho é que começou a fazer contas à cabeça, porque sabia que era demasiado desconfortável se ficassem os três a viverem naquele quarto...

Durante uns tempos andaram a ver casas, de Algés ao Cacém, até que se decidiram por Almada. O valor da renda e a facilidade de se chegar ao centro da cidade, onde ambos trabalhavam, venceram. E nunca se arrependeram de ter vindo para a Margem Sul.

E continuou a fazer o retrato do seu começo de vida em Almada...

Era uma casa com três assoalhadas, pequenas, mas que parecia uma palácio, quando comparada com o quarto onde tinham iniciado a vida a dois. Embora pouco tivesse a ver com a casa onde hoje vivem... Não havia uma sala com sofás e televisão. Nessa altura existia uma coisa chamada "sala de jantar", porque era comum as pessoas reunirem-se à volta da mesa aos fins de semana, com familiares e amigos. Pouca gente tinha dinheiro para ir a restaurantes.

Tudo aquilo para me dizer que a casa estava longe de ser o lugar mais agradável do mundo. Fez-se sócio da Incrível e era lá que passava uma boa parte do tempo, a conversar e a jogar às cartas com os amigos.

Só depois do 25 de Abril é que conseguiu comprar a casa onde vive hoje. E agora sim, sente-se de tal forma confortável, que quase não precisa de sair para a rua. Tem ali tudo...

Embora este estar confortável se deva a outros factores, como a menor mobilidade e também alguma insegurança nas ruas. Fiquei a pensar em coisas que normalmente me passavam ao lado...

(Fotografia de Luís Eme)

2 comentários:

  1. É uma realidade. As comodidades atuais prendem-nos em casa.
    Um abraço e bom domingo.

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