domingo, outubro 16, 2016

Esfregar Escadas e Escrever Poesia...


Fiquei mais alegre que surpreso, quando me disseram que a Cristina escrevia poesia e até já tinha um livro publicado.

Sei que se pode escrever poesia alimentada por estes tempos cruéis, em que qualquer emprego, por mais insignificante que seja, tem filas de pessoas à espera. A senhora "cunha" voltou a ser importante. Há até quem sonhe trabalhar como varredor de rua (é a forma que encontram de entrar para a função pública, esquecidos que já não é trabalho para toda a vida...) e há quem se ofereça para esfregar escadas, passar a ferro, entre outras actividades domésticas...

Ainda não sei qual a melhor forma de lhe dizer que quero um livro. Por saber que isso implica uma conversa com perguntas. Sim, quero saber coisas. Que tenha escondido tudo isto das pessoas, é compreensível (os poetas continuam a ser os mal amados da literatura...), mas quero saber de onde vem a sua poesia, se consegue fugir dos seus dramas pessoais ou não...

Sim dramas, há uma dor que ela não consegue esconder e aparece aqui e ali no seu olhar. Mas como eu tenho a mania de esperar que me contem as suas histórias, continuo aqui sentado. 

Mudando de "poesia", noto que sempre senti mais curiosidade pelas coisas colectivas e públicas, que pelas privadas. Nos meus tempos de jornalista sabia que havia uma linha que não era para passar (essa mesma que se tornou banal e que agora quase todos passam...).

Há também um mistério que gosto que se mantenha nas pessoas. Talvez isso tenha a ver com o meu gosto de "imaginar", de criar histórias...

(Óleo de Naliwajko Marzena)

4 comentários:

  1. Luís, o teu penúltimo parágrafo levou-me a cruzar com uma situação recente.
    Tive acesso a documentação original de um poeta português que morreu há uns anos. Com os escritos e outro material nas mãos, e com informação paralela, estranhamente percebi a minha curiosidade a subir. Disse estranhamente porque nunca pergunto nada sobre a vida privada; apenas falo se abrem o assunto comigo. Mas também não me senti invasiva. Julgo que a diferença se deve ao facto de estar morto e de ser uma figura do conhecimento geral.

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    1. E quando conhecemos pessoas misteriosas, também gostamos de saber o que se esconde, o que não se mostra, Isabel.

      É uma curiosidade diferente da "coscuvilhice". :)

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  2. Felizmente que o talento não é incompatível com a condição social e muito menos com as possibilidades financeiras. Esfregar escadas ou fazer quaisquer outros trabalhos domésticos, como forma de subsistência, não interfere com as ideias que vão germinando na mente e no coração de qualquer pessoa.
    Que boa e libertadora é a sensação de passar os sentimentos para o papel. Seja em prosa ou em verso!
    Belo texto, Luís.

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    1. Pois não, Janita. Nunca foi e ainda bem.:)

      O que se segue ao talento é que pode condicionar e ser condicionado (a publicação por exemplo...).

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