Não houve qualquer telefonema, apenas um encontro fortuito depois da inauguração de uma exposição...
Fiz uma visita rápida (gosto sempre de passar depois, para olhar as coisas sem perturbações...) e quando me preparava para me "despedir à francesa", ouvi uma voz a chamar-me. Olhei para trás e descobri uma mulher a caminhar na minha direcção. Era ela mesmo. Deve ter vindo ver se o Tejo ainda estava no mesmo sítio, naquele que era o meu miradouro preferido de Almada...
Depois da dúzia de palavras de circunstância habituais, ela disse que também se ia embora e quis fazer-me companhia...
Fomos andando e conversando (embora eu fosse praticamente só ouvinte...). Os dramas dos seus últimos meses foram saltando cá para fora, deixando-a mais livre e solta, à medida que caminhávamos, com os olhos a ficarem mais húmidos aqui e ali.
Fomos andando e conversando (embora eu fosse praticamente só ouvinte...). Os dramas dos seus últimos meses foram saltando cá para fora, deixando-a mais livre e solta, à medida que caminhávamos, com os olhos a ficarem mais húmidos aqui e ali.
Há um momento em que tive mais dificuldade em esconder o ar surpreso, quando me perguntou se eu ainda a achava uma "gaja gira", dei uma volta sobre ela e disse que sim, com um sorriso. Chamou-me mentiroso (chamam quase sempre para confirmarmos o que dizemos...). Além de confirmar acrescentei mais algumas palavras doces, por perceber que a sua auto-estima precisava de ser puxada para cima.
Antes de nos despedirmos disse-lhe que me podia telefonar sempre que quisesse. Abraçou-me com aperto, apesar do dia ser de Verão. Antes de escapar para o passeio do outro lado da rua ainda vi uma lágrima a escapar do seu rosto que queria sorrir...
Continuei a minha marcha até casa, concluindo o óbvio: «quando a vida amarga, ninguém nos oferece rebuçados...»
(óleo de Rudolf Schlichter)
Quanta solidão, amigo! E às vezes basta uma palavra, um sorriso, um aceno para fazer a diferença.
ResponderEliminarUma história contada com imensa sensibilidade.
Um abraço, Luís.
Sim, Graça.
EliminarHá uma série de coisas que se fazem menos, até falar e olhar os outros nas ruas...
Gostei.
ResponderEliminarÉ bom ser positivo e às vezes um gesto desses pode fazer uma enorme diferença para quem o recebe.
Boa semana:)
Olá Isabel, bem vinda ao Largo.
EliminarClaro que é bom ser positivo, faz toda a diferença acreditar que amanhã pode ser melhor.
amanhã é sempre diferente...
ResponderEliminarDizem que sim, Laura. Mas acho que não é para todos...
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