segunda-feira, julho 17, 2023

"Agosto Azul" em Julho...


Nestas férias trouxe meia dúzia de livros para ler, como de costume. Um deles foi o "Agosto Azul" de M. Teixeira Gomes, que segundo consta foi um dos poucos Presidentes da República que além de resignar ao cargo, respirou de alívio por se livrar daquela "camisa de onze varas", durante a controversa Primeira República. 

Tenho este livro há bastante tempo, mas só agora, quando andei a fazer algumas mudanças, é que o deixei  de parte (com mais uma dúzia...), para ler nos próximos tempos. O gostar bastante da capa, toda azul, desta quarta edição (1984), também deve ter pesado um pouco na escolha.

Embora o livro não seja muito fácil de classificar, o que mais me apraz de realçar, é a forma como está escrito: a grande riqueza linguística,  cheio de expressões que caíram em desuso, tão comuns nos finais do século XIX e princípios do século XX. 

Não é difícil de perceber que Teixeira Gomes era um homem especial. Além de ser extremamente sensível, tinha uma ligação muito forte à natureza. Descendente de uma família abastada algarvia, teve a oportunidade de "conhecer mundo" desde cedo, como representante dos negócios do pai (venda de frutos secos). Natural de Portimão, tinha uma relação especial com o mar. Relação que está espelhada em várias páginas deste livro, como nesta transcrição:

«Vale-me a presença do mar e só posso pensar no mar... Que grande castigo seria passar sem ele! Eu não vivo contente em sítio donde lhe não veja luzir o azul por entre as árvores... É um segundo céu mais sugestivo por certo  do que o outro. A gente do sertão não tem mais do que um céu. e o mais pobrezinho... A proximidade do mar é o único lenitivo possível à torreira do Sol e a aragem que ele bafeja torna-se a bênção do Verão.»

Saindo do livro e voltando à sua vida, há um aspecto pouco singular (ou não... estamos a falar de um republicano e de um democrata que não devia morrer de amores por Salazar), foi o facto de ter vivido o final da sua vida exilado. Desde 1925 até 1941, data do seu falecimento, na Argélia, não mais voltou a Portugal, onde deixara a esposa e duas filhas...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


4 comentários:

  1. Fiquei com curiosidade em saber a razão do seu exílio, “auto-exílio voluntário”, em Argélia (mais até do que da sua obra literária), essencialmente devido ao facto de ter mulher e duas filhas. Na Wikipédia em português li que, quando tinha 39 anos, se apaixonou por Belmira das Neves que tinha 14 anos. Parece que viveram em união de facto por algum tempo, “facto que causou resistência por parte das famílias”, embora passasse quase todo a sua via adulta sozinho.
    Na versão inglesa da Wikipedia, li que a rapariga era filha de um pescador, com quem ele queria casar, mas que os seus pais (dele) não autorizaram.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito me contas, Catarina.

      Não senti muitas curiosidade em relação à Belmira, embora soubesse que era de famílias humildes e que era bastante mais nova que ele. Pensava que o "choque" social viesse da sua família (que devia ser das mais importantes de Portimão).

      Sei que também tentaram passar a mensagem de que ele era "gay" (devem ter sido adversários políticos rasteiros...). Infelizmente os boatos sexuais são os que mais ficam colados na nossa pele, mesmo que não passem de mentiras...

      Eliminar
    2. E pensaste bem quanto ao choque social. Naquele tempo teria sido um escândalo ainda maior se os pais dele - família da elite portimonense - tivessem autorizado o casamento. Fiquei ainda mais curiosa... O que o fez sair do país? Porquê Argélia?

      Eliminar
    3. Penso que foi a política, a forma como o trataram como Presidente da República, Catarina.

      Embora ele quando foi escolhido para Presidente da República, estivesse a exercer funções de Estado em Inglaterra (de 1911 a 1923). Foi Presidente de 1923 a 1925... E depois exilou-se, primeiro voluntariamente e não mais voltou...

      Eliminar