quinta-feira, agosto 31, 2017

É Sempre Importante Vestirmos a Pele do Outro, Antes de Falarmos...


Sempre que há um tema polémico em discussão, faço um exercício, que nem custa muito: tento "vestir a pele" dos protagonistas, e só depois de pensar um pouco, é que dou a minha opinião (quando dou...).

Por exemplo, era incapaz de escrever este primeiro parágrafo do artigo de opinião da jornalista Joana Petiz publicado hoje no "D.N.": «E mais de 20 anos depois veio a greve. Uma paralisação inédita na Autoeuropa, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários e nem sequer o homem que conseguiu incríveis regalias para quem ali trabalha, enquanto representante dos funcionários, e que fez cair a Comissão de Trabalhadores - que negociou um acordo chumbado por aqueles que representava. O problema: a produção do novo modelo da Volkswagen. Não é que sejam retirados direitos aos trabalhadores. Pelo contrário, a empresa até lhes garantia mais um dia de férias e 175 euros por mês, além das regalias previstas para os turnos, em troca dos sábados de trabalho obrigatório durante dois anos. Nada que seja estranho para quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou mesmo nos media. Mas os senhores da Autoeuropa garantem que não estão disponíveis para trabalhar ao sábado, que isso não é vida que se concilie com uma família e que muitos deles nem sabem onde hão de deixar os filhos nesse dia.»

Em primeiro lugar porque este texto está cheio de "certezas" e de "ficções". Em segundo lugar, porque não se deve comparar o que não é comparável. 

Quando a senhora jornalista diz é uma paralisação inédita, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários, gostava de lhe perguntar como foi possível parar a produção da fábrica, com tão pouca aderência. E se é uma paralisação inédita (a primeira greve em vinte anos), é porque a proposta apresentada pela empresa representa um retrocesso no dia-a-dia destes trabalhadores (que não têm nada que ser comparados com quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou nos media). 

Mas esta mania tão portuguesa, de querer sempre nivelar por baixo, tem destas coisas...

Num país em que normalmente se "come e cala" (em nome da crise, que raramente chega às administrações...), gosto de ver trabalhadores a lutarem pelos seus direitos.

6 comentários:

  1. Luís, não escreveria este texto porque tem contradições e, portanto, nessa medida está mal escrito. Nem é preciso vestir a pele do outro.

    Se muitos trabalhadores não concordam com a paralisação e a greve aconteceu com impacto na produção, teriam sido obrigados a fazer greve?

    Se não são retirados direitos aos trabalhadores ou se eles não o entendem desta forma, para que fariam greve? Para chatear, para brincar?
    Se ela considera que não são retirados direitos, é outra conversa e devia dizê-lo com clareza para se perceber que é uma opinião dela.

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    1. O jornalismo há muito que serve interesses obscuros, Isabel.

      Quem escreve já nem esconde os credos políticos, a mão direita e esquerda com que sublinham os seus textos.

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  2. Porém... o ponto 2 do artigo dessa Joana Petiz (ou será petite) é ainda mais aberrante... Blheque!!!

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    1. Mas eu nem sequer falo da "criatura", Graça.

      Cheira mal. Ainda bem que abre a boca poucas vezes.

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  3. Achado no facebook. Vai em duas partes que é grande. Pode ajudar os que acham que partidos e sindicatos conseguiam manipular os 74,8% de (quase 3500) de trabalhadores da AE que votaram contra o acordo da obtido pela administração e pela comissão de trabalhadores:

    «Tenho seguido com algum interesse as notícias sobre a "greve histórica", como lhe chamam os jornais, que decorre ali por Palmela, nos portões da Autoeuropa. Por ter vestido a camisola (literalmente) no início do século e por ter sido o meu único empregador em Portugal, sigo com alguma atenção o que por aqueles lados acontece desde 2006, altura em que bati a asa.
    Importa-me pouco discutir a justiça ou não da greve ou sequer os seus contornos. A comunicação social encheu algumas páginas nestes dias com o tema pelo que teria pouco de factual para acrescentar.

    Interessa-me mais abordar o linchamento público dos funcionários da autoeuropa e como a ignorância nos prejudica enquanto povo.
    Compreendo que a informação que circula não vem carregada de detalhes e para a opinião pública passa a parangona de que os funcionários não querem mais dinheiro para trabalhar aos sábados. São uns calões e ganham balúrdios. Ponto final. É isto que chove nas redes. Não sei porque insisto em ler comentários de notícias mas vou assumir, para me sentir melhor, que é uma espécie de guilty pleasure da azeitonice.

    Li coisas como: "não querem trabalhar aos sábados? Então devíamos fechar os hospitais ao fim-de-semana para os gajos da autoeuropa!" ou "mas quando querem pão fresco ao sábado o padeiro não diz que não, seus chulos!". Entre outras pérolas dignas de qualquer boca numa taberna da Madragoa, como se bens alimentares ou cuidados de saúde se pudessem escolher no calendário. Ou como se uma fábrica fosse um serviço aberto ao público e dependente de horários melhores para visita.»…

    Compreendo que exista míngua de emprego no nosso país e que muitas pessoas se esfolem para aguentar cada mês, mas isso não nos pode retirar a lucidez de entendermos o que é a luta dos trabalhadores pelos seus direitos. Se os funcionários da AE cederem sempre a pressões, naquela que é a empresa modelo do país, o que acontecerá a cada um de vocês que trabalha em micro-empresas onde os trabalhadores nem piam?

    A conversa de "se não aceitarem a produção do modelo X vai para a fábrica Y" é mais velha que o obrar de cócoras e é usada desde sempre. Ouvi isso há 12 anos na altura do modelo EOS e depois com o Scirocco. Agora ouvem com o T-roc ou lá como se chama a lata nova.
    Em cada negociação lá se trocava trabalho extra por férias ou dias por aumentos congelados e por aí fora. As greves foram sempre evitadas e a produção sempre a crescer com novos modelos. Mas até quando? Até quando se dá asas à imaginação para aceitar mais trabalho sem dinheiro que se veja?»...

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  4. (continuação)
    … «Quem agora chama nomes aos funcionários da AE já trabalhou numa linha de montagem? Já teve duas pausas de 7 minutos por dia para mijar? Já passou 20 anos todo dobrado a fazer os mesmos movimentos? Se acham que é tudo fácil e maravilhoso, porque não vão para lá? Entre 2000 ou 3000 que lá trabalham deve haver espaço para os génios do comentário no FB.
    O que é que acham que um operador de linha, um técnico ou um engenheiro ganham na AE? Eu respondo: uma merda. Ganham uma merda. Ganham aquilo que alemão algum aceita na casa mãe, com condições que sindicato nenhum permite no desterro de Wolfsburgo.

    O governo português deu incentivos por mais de uma década para a VW ter a fábrica ali. Depois tiveram mais uma década de salários baixos, aumentos miseráveis e down days. Em 4,5 anos a trabalhar ali, o meu salário aumentou 15 eur líquidos. Um operador de linha trazia 800 eur para casa, um técnico um pouco mais, um engenheiro cerca de 1100. Depois criaram uma empresa de trabalho externo (autovision) para reduzirem ainda mais os custos com os contratados e terem menos responsabilidades sociais.

    Portanto...se 10 anos volvidos a técnica é a mesma e continuam a querer apertar quem trabalha, eu acho muito bem que não aceitem sábados obrigatórios e muito menos se não forem pagos como trabalho extraordinário.
    Se os alemães querem explorar e manter o superávit do país, pois que o façam à custa do seu próprio povo.

    É uma questão de defesa da dignidade e do tempo familiar de cada trabalhador. Exactamente os bens mais preciosos no país que criou a marca. Não compreender isto e insultar quem tem a coragem de dizer "não", é não entender o que o domínio económico alemão na europa está a fazer aos países periféricos...

    por Tiago Franco»

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