Ouço mais vezes do que queria a frase: «Não andas mesmo cá. Vives mesmo noutro mundo.»
Para caracterizar quem escreve nem é uma frase descabida de todo... Mas normalmente quer ir mais longe, colocar o dedo também irresponsabilidade, falta de interesse, distracção...
Acho que isso se deve sobretudo à minha capacidade de abstracção (que eu gostava de conseguir manter para todo o sempre...), o não ficar a matutar o mesmo problema, horas e horas, dias e dias, ou seja, conseguir descobrir um foco qualquer e mudar de rua...
O que me custa compreender é que as pessoas, mesmo as maduras, finjam não perceber que nunca fomos, nem seremos, fotocópias. Cada um de nós, não só reage de uma forma diferente ao mesmo problema, como também faz uma leitura particular de cada acontecimento. E são estas pequenas particularidades que acabam por provocar tantos desentendimentos conjugais...
Mesmo assim há quem não desista e ande a vida inteira a tentar moldar o outro, como se fossemos feitos de barro...
(Ilustração de José Morell)
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