Estava a olhar o Rio da janela do cacilheiro quando duas vozes maduras atrás de mim me chamaram a atenção.
Pelo jeito de falar percebi que eram alentejanos e falavam de uma mulher qualquer como se fossem dois adolescentes. Não tinha um nome, era apenas a "magana", como às vezes escutamos em anedotas.
Um deles gabou-se de dançar com ela numa festa, acrescentando que foi cá uma esfrega, ao mesmo tempo que o marido emborcava copos de vinho no bar. O outro para não ficar atrás contou um episódio romanesco que aconteceu num café, em que ela se ofereceu quase toda.
A conversa só acabou quando a barca laranja chegou a Cacilhas e os dois sessentões desapareceram no meio da multidão que se deslocava na direcção das paragens dos autocarros.
Não me lembro de ver dois homens de cabelo esbranquiçado a conversar com tanto entusiasmo de uma "magana", que era do clube das "frescas" (foi outra das palavras mais batidas no diálogo quase quente), pelos exemplos relatados...
(Fotografia de Luís Eme)
Luís, esses devem fazer parte do clube que tem por lema "a presunção da tua virilidade é directamente proporcional à exibição das gajas que conseguires fazer acreditar que comeste".
ResponderEliminarComo é que eles interpretariam este tipo de linguagem na boca de uma mulher? Uma porca, depravada...
Ainda não nos livrámos disto: para um homem, muita rodagem em matéria de casos, relacionamentos, faz currículo; para uma mulher é cadastro. As próprias mulheres alimentam isto. Basta o detalhe de muitas se apressarem a referir: "não tive muitos, não é isso que quero dizer... alguma coisa." Partem assim do princípio que o ter pouco as torna melhores.
Mais uma coisa que não gosto nada. A gabarolice deles e a necessidade de evidenciar recato pela parte delas.
Penso que não era bem isso, Isabel.
EliminarApenas escrevi por achar que se tratava de um diálogo mais de adolescentes e de homens novos que de "avôzinhos".
Penso que as mulheres falam das mesmas coisas, são apenas mais comedidas em público.
Mas tens razão em relação aos "rótulos sociais".
(e também não gosto de "papagaios" e de "virtuosas". :))
Nunca compreendi a necessidade de alguns homens de se gabarem das suas conquistas. Fico sempre a pensar na história da raposa e das uvas.
ResponderEliminarUm abraço e bom domingo
É algo que faz parque da "cartilha do macho", Elvira. :)
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