Se há coisa que me faz confusão é o facto de nos últimos 40 anos, quase ninguém ter dado ouvidos à pessoa que melhor tem defendido o país em termos ambientais, sempre com propostas e respostas assertivas. Falo do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que o site da "Visão" recuperou com grande sentido de oportunidade, uma sua entrevista realizada no Verão de 2003, em que ele diz coisas como:
«(incêndios) A grande causa é um mau
ordenamento do território, ou seja, a florestação extensiva com pinheiros e
eucaliptos, de madeira para as celuloses e para a construção civil. O problema
foi uma má ideia para o País, a de que Portugal é um país florestal. Lançou-se
a ideia de que, tirando 12% de solos férteis, tudo o resto só tem
possibilidades económicas em termos de povoamentos florestais industriais.»
«Houve toda uma política de
desprestígio do mundo rural tendo por base a ideia de que era inferior ao mundo
urbano. Despovoámos os campos e essa gente toda veio para a cidade. Hoje,
enfrenta o desemprego. Esqueceram-se que o homem do futuro vai ser cada vez
mais o homem das duas culturas, da urbana e da rural. Hoje, 30% das pessoas que
praticam a agricultura económica na Europa não são agricultores. É gente que vive
na cidade, tem lá o seu escritório e tem uma herdade no campo onde vai aos
fins-de-semana. A expansão urbana aumenta e não podemos viver sem a agricultura
senão morremos à fome.»
«Defendi uma regionalização
há muito tempo, que deu origem a um documento de que os grandes partidos
fizeram muita troça. Dividia o País em cerca de 30 regiões naturais, áreas de
paisagem ordenada, que estavam já organizadas histórica e geograficamente.
São as terras de Basto, as terras de Santa Maria,
as terras de Sousa, a Bord'água do Tejo, etc. O País é isso e não é outra
coisa. Esta regionalização podia contribuir para a efectivação dos planos de
ordenação da paisagem, com uma participação democrática das respectivas
populações.»
Muito do que Ribeiro Telles diz quase todos sabemos, mas nunca se viu um único ministro ou secretário de Estado, a seguir as suas palavras... - alguns até são capazes de mudarem de passeio se o encontrarem na rua. Ou seja, andamos há décadas a destruir o nosso país, sem que quem exerce o poder, faça o que lhe compete: defender a natureza e o ambiente.
(Fotografia de autor desconhecido)
A população envelhece. Os filhos emigraram. Já não tem forças para cultivar grandes espaços. Cultivam um bocadinho que lhes chega para eles. E o resto do terreno? Pois plantam-se eucaliptos, crescem em dez anos, não dão trabalho, e nem despesas. Sei porque foi o que aconteceu com meus compadres, numa localidade perto de Cernache que ardeu na Segunda-Feira. E com outros vizinhos deles.
ResponderEliminarUm abraço
Mas o dinheiro não é tudo na vida, Elvira...
EliminarEu sei Luís. Só tento entender porque cada vez há mais terrenos com eucaliptos. A alternativa para quem já não tem forças para as sementeiras de milho batatas trigo etc, é o eucalipto porque se faz adulto em menos de metade do tempo, do que o pinheiro. Eu sei que o meu compadre pediu autorização pra o semear, há uns três ou quatro anos. E sei que esteve lá um engenheiro florestal, que não lhe deixar plantar mais do que x pés, com uma distância de vários metros entre si, de modo a que entre eles passasse sem dificuldade um carro, ou uma máquina de limpeza. Mas e os outros que não pedem autorização?
EliminarAbraço