sábado, julho 09, 2016

O que Os Olhos dos Outros Vêem...

Quando encontrei um dos vizinhos da minha sogra na rua e fui cumprimentado de uma forma estranha, além de ter deixado um dos meus pés atrás, percebi que havia por ali algum filme à procura de um pano branco. 

Estava longe de pensar que ele ia manter o seu sorriso malicioso, até encontrar espaço e tempo para me perguntar baixinho, ao lado do filho da nora e do neto: «Quem era aquela mulher com quem estavas a conversar no outro dia?» 

Sorri-lhe e ingenuamente tive o desplante de lhe dizer a verdade: «Não sei.» E naquele momento não fazia mesmo a mais pequena ideia de quem é que ele estava a falar. 

Ele insistiu. «Era pequenina mas tinha tudo no sítio.»

Foi então que se fez luz na minha cabeça com a palavra "pequenina". Percebi que não me lembrava porque a única relação que mantinha com a mulher era de camaradagem nas culturas. Por distracção, ou não, nunca lhe descobri os predicados que este homem com idade para ser meu pai via... E falávamos de trabalho. Sei que se lhe dissesse ele não ia acreditar. Ou então era capaz de perguntar se costumávamos fazer serão, com o mesmo sorriso.

E eu que pensava que os homens quando têm casos com  outras mulheres a última coisa que fazem é passear com elas nas ruas da sua Cidade.

Percebi mais uma vez que para alguns homens (e para algumas mulheres, claro...) de outras gerações, ainda é complicado encontrarem um homem e uma mulher a conversarem sozinhos na rua ou num café...

(Fotografia de Ed Van Der Elsken)

6 comentários:

  1. Acho que não é algo associável à idade mas a uma forma de pensar que se mantém presente. Isso e ser demasiadamente curioso para assuntos que não interessam :)

    Beijinhos Luís

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    1. Mas a idade também conta, Glória.

      A nossa geração é mais aberta que a dos nossos pais e avós...

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  2. Luís, este texto dava para estar a escrever aqui umas horas. Como não pode ser, vou resumir a duas ou três coisas.
    Eu não consigo achar a mínima piada a 'este olhar dos outros', mas gosto muito do teu texto e que trouxesses aqui o assunto.
    E não consigo vislumbrar um fio de piada porque considero esse tipo de olhar invasivo, e por isso violento, a que acresce a lembrança de circunstâncias em que fui o alvo.
    Aborrece-me com todas as minhas forças que se façam filmes acerca da vida privada. Mais: detesto aquele ditado que afirma que "à mulher de César não basta ser séria, que é preciso parecê-lo".

    Sim, na cabeça de um homem, há que não passear com as mulheres com quem tem casos.
    ("Casos", caraças que isto soa-me mal.)
    Na cabeça de uma mulher, há que fazê-lo precisamente para despistar.

    Reparo ali que se fala da idade, de gerações... Sim, deram-se alguns passos nesta matéria em relação à época dos nossos pais, mas menos expressivos do que muitas vezes se quer fazer crer.
    Mas talvez me arrepie mais certos laivos de tacanhez nesta área, que não são assim tão avulsos, vindos da geração a seguir à nossa.

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    1. tens razão, avançou-se muito pouco, Isabel (os casos de violência doméstica dizem tudo...).

      Para muitos homens a mulher é uma propriedade, um feudo pessoal.

      O que eu achei mais curioso, foi a lata do homem, pois embora o cumprimente sempre que o veja, não temos qualquer intimidade.

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  3. ai que eu estou a ver a cena...
    "pecam mais pelo que pensam do que pelo que fazem"
    boa semana.
    beijo
    :)

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    1. Acho que sempre foi assim, Piedade. :)

      Muita gente a fazer telenovelas foleiras nas suas cabecinhas (e outros pior, filmes quase porno).

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