«Não se lembrava da última vez que entrara numa igreja. sabia apenas que tinha sido há muito tempo. Talvez tivesse sido ainda do tempo do latim. Talvez...
Na sua cabeça ainda conseguia ouvir as palavras romanas ditas pelo padre. Há coisas que se ouvem em criança e que nunca mais se esquecem...
Felizmente os filhos tinham casado apenas pelo registo civil, poupando-o de todo aquele jogo teatral, encenado pelos padres, que têm como ponto alto as juras de amor eternas.
Não lhe fez bem nem mal, estar ali sentado, a olhar para as paredes, para os tectos, tal como fazia na infância, quando era obrigado a assistir à missa de domingo.
Não se lembra da maior parte das palavras do padre, entretido em explicar o porquê dos baptismos... ao mesmo tempo que responsabilizava os pais e os padrinhos pelo percurso do neto. O seu filho estava a cometer o mesmo erro que o seu pai cometera, quando deixou que o baptizassem. Ambos se deixaram levar pelas mulheres, que por conviverem mais de perto com a "culpa" e o "pecado", queriam aproximar os seus filhos de Deus.
Quando o neto começou a chorar, por não ter achado piada ao "banho santo", começou a sorrir. Estava esperançado que o seu neto, que herdara o seu nome próprio, também "roesse a corda", tal como ela fizera, assim que pôde. Até por que também não foi ouvido e achado, nesta entrada de mansinho no reino de Deus.»
(Fotografia de Nacho Costa)
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