Para aquele "camarada" de voz inflamada o médico do BMW e dos fatos de marca nunca podia ser comunista.
Todos aqueles que o podiam chamar à razão, olhavam para o ar e para os lados. Sabiam tal como eu que a ignorância nunca deixará de ser atrevida, e em muitas situações limite, até cega e ofensiva. Ninguém quis gastar um pouco de "latim", para trazer aquele homem à razão, tirá-lo, nem que fosse por momentos, do "mundo das sombras", libertando-o das suas certezas...
Até que houve uma mulher cheia de coragem, que foi capaz de lhe dizer que mais importante que o carro do médico e as roupas que vestia, era a sua prática diária, ser incapaz de levar dinheiro por uma consulta a todos aqueles que não tinham dinheiro para a pagar. E encaminhar os que precisavam para os hospitais públicos e não para as clínicas privadas.
Depois de um silêncio ensurdecedor que durou alguns segundos, ouviu-se um eco de apoio generalizado àquela mulher-coragem. O homem cheio de certezas, baixou a cabeça, só não sei se se apercebeu da facilidade com que nos deixamos levar pelo verbo e conseguimos ser injustos...
A realidade mostra-nos que o século XXI acabou com os proletários, somos todos "burgueses", quanto mais não seja pelos hábitos de vida que nos são impostos socialmente.
Mas mesmo no passado sempre houve militantes e amigos do PCP com poder económico. Há tantas histórias por contar de doutores e engenheiros que esconderam militantes na clandestinidade nas suas casas e depois os transportaram nos seus carros até à fronteira...
Continuo a pensar que mais importante que qualquer ideário, é a prática com que vivemos o nosso dia-a-dia, não ignorarmos que esta sociedade que fabrica ricos muito ricos (cada vez menos) e pobres muito pobres (cada vez mais) não serve ninguém.
Até porque os ideários - mesmo que por vezes isso possa parecer possível - nunca transformaram pessoas em marcianos...
(Fotografia de Eduardo Gageiro)
É mais fácil arrumar o mundo quando se divide tudo com muita certeza.
ResponderEliminarAs pessoas e coisas que não cabem nas gavetas são uma chatice.
Claro, e as certezas só nos fazem errar, Carla. :)
EliminarAs pessoas valem por tudo aquilo que fazem e quem faz de coração faz sem alarido e de uma forma discreta :)
ResponderEliminarBeijinhos Luís e um bom fim de semana
Mas o "mundo" é um gajo muito distraído, Glória. :)
EliminarLuís, fui confirmar se as etiquetas tinham preconceito. Certo. E tem silêncios, que neste caso são maus silêncios.
ResponderEliminarÉ que eu estou estafada de conversas, criticas, que julgam o recheio pela embalagem, que tomam uma pequena parte pelo todo, que não conseguem descolar-se da imagem.
O que conta é o que as pessoas fazem ou deixam de fazer, pois, porque a nossa responsabilidade também passa pelo que deixamos de fazer e isto é muito grave.
E as vezes em que se presencia maltratar alguém, mesmo em contextos menos 'espectaculares' como o local de trabalho, e não se faz nada? Pois...
A vida ensina-nos a não nos precipitarmos-nos, mas há quem não consiga parar de fazer desenhos no corpo dos outros, Isabel...
EliminarTotalmente de acordo com o texto.
ResponderEliminarContudo, há situações que me parecem absurdas como a notícia que hoje ouvi numa estação de Rádio e que me deixou incrédulo -Domingos Abrantes do PCP, membro do Conselho de Estado, lucra na bolsa-; terei ouvido mal?
Estás a ser um bocadinho preconceituoso, Severino. :)
Eliminar(o homem pode ser um "jogador")