sábado, julho 02, 2016

Os Ideários não Transformam as Pessoas em Marcianos

Para aquele "camarada" de voz inflamada o médico do BMW e dos fatos de marca nunca podia ser comunista.

Todos aqueles que o podiam chamar à razão, olhavam para o ar e para os lados. Sabiam tal como eu que a ignorância nunca deixará de ser atrevida, e em muitas situações limite, até cega e ofensiva. Ninguém quis gastar um pouco de "latim", para trazer aquele homem à razão, tirá-lo, nem que fosse por momentos, do "mundo das sombras", libertando-o das suas certezas...

Até que houve uma mulher cheia de coragem, que foi capaz de lhe dizer que mais importante que o carro do médico e as roupas que vestia, era a sua prática diária, ser incapaz de levar dinheiro por uma consulta a todos aqueles que não tinham dinheiro para a pagar. E encaminhar os que precisavam para os hospitais públicos e não para as clínicas privadas.

Depois de um silêncio ensurdecedor que durou alguns segundos, ouviu-se um eco de apoio generalizado àquela mulher-coragem. O homem cheio de certezas, baixou a cabeça, só não sei se se apercebeu da facilidade com que nos deixamos levar pelo verbo e conseguimos ser injustos...

A realidade mostra-nos que o século XXI acabou com os proletários, somos todos "burgueses", quanto mais não seja pelos hábitos de vida que nos são impostos socialmente. 

Mas mesmo no passado sempre houve militantes e amigos do PCP com poder económico. Há tantas histórias por contar de doutores e engenheiros que esconderam militantes na clandestinidade nas suas casas e depois os transportaram nos seus carros até à fronteira...

Continuo a pensar que mais importante que qualquer ideário, é a prática com que vivemos o nosso dia-a-dia, não ignorarmos que esta sociedade que fabrica ricos muito ricos (cada vez menos) e pobres muito pobres (cada vez mais) não serve ninguém.

Até porque os ideários - mesmo que por vezes isso possa parecer possível - nunca transformaram pessoas em marcianos...

(Fotografia de Eduardo Gageiro)

8 comentários:

  1. É mais fácil arrumar o mundo quando se divide tudo com muita certeza.
    As pessoas e coisas que não cabem nas gavetas são uma chatice.

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    1. Claro, e as certezas só nos fazem errar, Carla. :)

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  2. As pessoas valem por tudo aquilo que fazem e quem faz de coração faz sem alarido e de uma forma discreta :)

    Beijinhos Luís e um bom fim de semana

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    1. Mas o "mundo" é um gajo muito distraído, Glória. :)

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  3. Luís, fui confirmar se as etiquetas tinham preconceito. Certo. E tem silêncios, que neste caso são maus silêncios.
    É que eu estou estafada de conversas, criticas, que julgam o recheio pela embalagem, que tomam uma pequena parte pelo todo, que não conseguem descolar-se da imagem.
    O que conta é o que as pessoas fazem ou deixam de fazer, pois, porque a nossa responsabilidade também passa pelo que deixamos de fazer e isto é muito grave.
    E as vezes em que se presencia maltratar alguém, mesmo em contextos menos 'espectaculares' como o local de trabalho, e não se faz nada? Pois...

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    1. A vida ensina-nos a não nos precipitarmos-nos, mas há quem não consiga parar de fazer desenhos no corpo dos outros, Isabel...

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  4. Totalmente de acordo com o texto.

    Contudo, há situações que me parecem absurdas como a notícia que hoje ouvi numa estação de Rádio e que me deixou incrédulo -Domingos Abrantes do PCP, membro do Conselho de Estado, lucra na bolsa-; terei ouvido mal?

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    1. Estás a ser um bocadinho preconceituoso, Severino. :)

      (o homem pode ser um "jogador")

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