quarta-feira, novembro 11, 2015

Os Nomes de Guerra na Infância


Na infância e adolescência os erros são mais facilmente perdoáveis, porque não são idades de reflexão mas sim de brincadeira e risota. Ou seja, o disparate vive muito mais perto de nós.

Mesmo assim nunca me esqueci da lição de ética e moral dada por um professor no segundo ano do ciclo preparatório, que nem se preocupou por estarmos numa fase da história cheia de excessos de liberdade (PREC).

Fez-nos perceber o quanto era doloroso passarmos a vida a chamar coxo ao nosso colega que tinha uma perna mais curta que a outra e que não precisava de ser lembrado de que coxeava de verdade, a todas as horas. Deu-nos mais exemplos do humor fácil e baixo, que utilizávamos com abundância. E se ainda não se usava o termo "badocha", "havia "baleias" à farta no recreio.

Podemos não ter mudado muito no nosso comportamento na época, mas eu não esqueci aquela boa lição em várias situações pela vida fora...

Já adulto fiz parte de um grupo de amigos, em que posso afirmar que aquele que subiu mais na vida socialmente (cargo de chefia na banca), era o mais provocador e mais ordinário. Algo que lhe causou alguns dissabores na rua, inclusive ajustes de contas com maridos que não se ficaram com os piropos ordinários desta figura, que não vejo há uns bons dez anos.

Irritava-me solenemente que quando jantávamos em grupo, ele aproveitasse de imediato algum "aleijão" físico de um dos empregados para se armar em engraçado, utilizando termos como "vidros" ou "gordo", para chamar o tal funcionário. Mas de nada valiam as nossas chamadas de atenção. Talvez se aproveitasse da nossa companhia para se libertar de todas as horas em que era escravo da gravata, do terno e da etiqueta...

Tudo isto porque ao ouvir as aventuras de infância de dois amigos que moraram na mesma rua (perto da Alameda), voltei a recordar o professor. Disseram-me entre outras coisas, que na rua todos tinham alcunhas, mas nenhuma tinha alguma coisa que ver com a aparência física. Isto aconteceu porque uma das melhores pessoas daquela rua era um cego, que os encheu de histórias pela infância fora. Deram o bom exemplo do Leandro, o único preto das redondezas, que foi sempre o "King" da rua.

A fotografia é de Denise Colomb.

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