No dia 25 de Abril de 1974 tinha apenas onze anos e vivia numa Cidade pacata, sem grandes laivos revolucionários.
Mesmo assim sempre gostei deste dia e da feliz ideia de crescer num país mais justo, fraterno e livre, que aquele que existira até então.
E também gosto do que aconteceu no PREC, mesmo que tenha sido um período de grandes batalhas entre as esquerdas, os centros e as direitas. Embora nesses tempos andasse mais entretido a brincar, sei do que falo porque tenho lido muitos jornais, revistas e livros, e claro, ouvido o testemunho de tantos amigos mais velhos, que viveram esses anos inesquecíveis de 1974 e 1975, com os sonhos quase a flor da pele.
É por isso que me espanta, que 41 anos depois da Revolução, a possibilidade da existência de um governo com o apoio da esquerda (maioritária no parlamento) assuste tanta gente e liberte tantos fantasmas...
Hoje ouvi uma história pela primeira vez, da violência que era exercida sobre os operários não comunistas na Lisnave. Embora a fonte esteja longe de ser credível, não deixei de ficar espantado pelo relato, em que alguns elementos nem sequer para o duche se deslocavam sozinhos.
E mesmo que seja verdade, porque razão estas pessoas não esqueceram todos esses excessos, próprios das revoluções (e a nossa até foi das menos sangrentas que se conhecem)?
E porque razão não confiam na palavra dos comunistas?
Não consigo compreender todo o ressentimento e ódio que têm enchido as páginas de alguns jornais.
Talvez o problema tenha sido ter apenas onze anos no dia 25 de Abril de 1974 e viver até aos dezoito anos numa Cidade pacata, sem os tais grandes laivos revolucionários.
Ou talvez não. Provavelmente o problema está nos meus pais, que nunca alimentaram na nossa casa qualquer tipo de ódio ou ressentimento.
E como lhes agradeço, de todo o coração.
A fotografia é de Bill Perlmutter, a prova de que a Vila da Nazaré não foi descoberta por McNamara.
A fotografia é de Bill Perlmutter, a prova de que a Vila da Nazaré não foi descoberta por McNamara.
Como sabe eu não vivi aqui o 25 de Abril, nem quase o período do PREC, pois regressei no final de Julho e esse período terminou em Novembro. A única coisa que me lembro, dessa época, além do facto de o marido militar, ficar de prevenção quase dia sim dia não, foi de ver aqui mesmo, na minha varanda que dá directa para a estrada, o pessoal das fábricas aqui do parque industrial da Telha a fugirem da polícia se choque. Parece que não se limitaram a fazer greve, cercaram a zona e não deixavam entrar os patrões. Vi alguns arremessarem pedras à polícia, e vi estes distribuírem cacetadas a todos os que se aproximavam deles.
ResponderEliminarSei porque li e porque a família me contou que houve muitos excessos na altura. Há-os em todas as revoluções do mundo. Nada que se comparasse com o que vi e vivi em Luanda.
Mas também havia um instigar na população de medo em relação aos comunistas, que já vinha lá do estado novo. A história que corria por aqui, entre o povo da Seca, ou das fábricas, é que os comunistas iriam instalar uma outra ditadura, que iam despojar as pessoas dos seus bens, que toda a gente ia ser obrigada a contribuir com parte do salário para o partido,e mais umas quantas baboseiras a que só faltava mesmo a tal história de que comiam criancinhas ao pequeno almoço.
O povo não tinha instrução, mas tinha filhos e netos. E se encarregou de incutir-lhes esse medo. Que a direita tem mantido aceso ao longo destas quatro décadas.
Um abraço e bom domingo.
É verdade, Elvira.
EliminarTantos medos, tantas cobardias...