E se estiverem na "base" deste grupo, correm o risco de serem empurrados para os subúrbios da cidade com cada vez "menos sonhos", para que algum espertalhaço lhes surrupie a casa e ganhe mais uns tostões (antes que a "galinha" decida não colocar mais "ovos"...).
A tal primeira linha está reservada para o grupo que vem de fora, a que chamamos turistas, não de pé descalço, mas de "sandália e meinha" (desde que tragam dinheiro para gastar em comida, dormida, "recuerdos" e museus, todo o mau gosto é permitido...) e para as gentes como o "conde monteverde", os alcaides de Lisboa e de Grândola, ou ainda a senhora que finge que governa Almada. Todos eles fazem questão de ir "vendendo o país a retalho".
E depois há a terceira linha, que agora está na moda "desancar" e fingir "correr para fora", que são o suporte económico de toda esta "fantasia". Têm muitos mais deveres que direitos, trabalham muito e recebem pouco e chegam ao nosso país quase sempre com uma mão à frente e outra atrás, sem o conforto e a liberdade dos donos dos "vistos de ouro" (que até podem ter a mesma cor e o mesmo cheiro deles, mas usam carteiras diferentes).
Não era para escrever sobre isto, mas os dedos decidiram ir para aqui, talvez a pensar nos "turcos" que nos servem o café, e que devem estar alojados num qualquer "galinheiro" das traseiras do edifício comercial... ou então, chateado por ver a "idade média" a aproximar-se, mesmo que parecesse uma daquelas coisas inimagináveis.
A conversa interessante que escutei (sem querer, até me apeteceu tapar os ouvidos...) fica para amanhã...
(Fotografia de Luís Eme - Algarve)
Temos um país cada vez mais desigual. É uma tristeza.
ResponderEliminarTudo de bom.
Um abraço.
E promete piorar com as novas leis do trabalho e da imigração, Graça...
EliminarÉ muito triste, mesmo.
"A senhora que finge que governa Almada."
ResponderEliminarEu, que não moro em Almada, é esta a ideia que eu tenho desta "autarca".
É uma cidade que parece parada no tempo, Severino.
EliminarSuja e esburacada, mesmo em ano de eleições...
Há cada vez mais gente às portas da cidade, empurrada pelos donos disto tudo.
ResponderEliminarE os que nos servem também vêm desses territórios fora de portas.
Todos demoram horas a chegar ao trabalho e a regressar a casa.
Não está fácil a vida para milhares de portugueses e imigrantes.
Abraço
Não sei se esta gente pensa que o turismo vai durar para sempre, mas acho que sim, Rosa.
EliminarEm vez de se preocuparem com quem quase só contrata trabalhadores "ilegais" (imagino o que se passa na agricultura e na restauração...), para fugir aos impostos, apontam o dedo às vítimas...
GUERRA JUNQUEIRO, EM 1896]
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [.]
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.]
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.