segunda-feira, julho 28, 2025

Uma sociedade cada vez mais "classificada" e classicista


Nem todos damos por isso, mas realidade é o que é, e diz-nos que os nativos de qualquer cidade com manias de grandeza, há já algum tempo que são tratados como cidadãos de segunda.

E se estiverem na "base" deste grupo, correm o risco de serem empurrados para os subúrbios da cidade com cada vez "menos sonhos", para que algum espertalhaço lhes surrupie a casa e ganhe mais uns tostões (antes que a "galinha" decida não colocar mais "ovos"...). 

A tal primeira linha está reservada para o grupo que vem de fora, a que chamamos turistas, não de pé descalço, mas de "sandália e meinha" (desde que tragam dinheiro para gastar em comida, dormida, "recuerdos" e museus, todo o mau gosto é permitido...) e para as gentes como o "conde monteverde", os alcaides de Lisboa e de Grândola, ou ainda a senhora que finge que governa Almada. Todos eles fazem questão de ir "vendendo o país a retalho".

E depois há a terceira linha, que agora está na moda "desancar" e fingir "correr para fora", que são o suporte económico de toda esta "fantasia". Têm muitos mais deveres que direitos, trabalham muito e recebem pouco e chegam ao nosso país quase sempre com uma mão à frente e outra atrás, sem o conforto e a liberdade dos donos dos "vistos de ouro" (que até podem ter a mesma cor e o mesmo cheiro deles, mas usam carteiras diferentes). 

Não era para escrever sobre isto, mas os dedos decidiram ir para aqui, talvez a pensar nos "turcos" que nos servem o café, e que devem estar alojados num qualquer "galinheiro" das traseiras do edifício comercial... ou então, chateado por ver a "idade média" a aproximar-se, mesmo que parecesse uma daquelas coisas inimagináveis.

A conversa interessante que escutei (sem querer, até me apeteceu tapar os ouvidos...) fica para amanhã...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


7 comentários:

  1. Temos um país cada vez mais desigual. É uma tristeza.
    Tudo de bom.
    Um abraço.

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    1. E promete piorar com as novas leis do trabalho e da imigração, Graça...

      É muito triste, mesmo.

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  2. "A senhora que finge que governa Almada."
    Eu, que não moro em Almada, é esta a ideia que eu tenho desta "autarca".

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    1. É uma cidade que parece parada no tempo, Severino.

      Suja e esburacada, mesmo em ano de eleições...

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  3. Há cada vez mais gente às portas da cidade, empurrada pelos donos disto tudo.
    E os que nos servem também vêm desses territórios fora de portas.
    Todos demoram horas a chegar ao trabalho e a regressar a casa.
    Não está fácil a vida para milhares de portugueses e imigrantes.

    Abraço

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    1. Não sei se esta gente pensa que o turismo vai durar para sempre, mas acho que sim, Rosa.

      Em vez de se preocuparem com quem quase só contrata trabalhadores "ilegais" (imagino o que se passa na agricultura e na restauração...), para fugir aos impostos, apontam o dedo às vítimas...

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  4. Marques Aarão29/07/25, 08:03



    GUERRA JUNQUEIRO, EM 1896]

    "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [.]

    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.]

    A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

    Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

    Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

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