domingo, julho 06, 2025

Os comboios que só passam uma vez na nossa estação...


Conheço a Sandra há quase trinta anos. Falamos menos do que devíamos, em parte porque a minha companheira nunca lhe achou muita piada. E a maior parte das vezes que nos encontramos no café, que partilhamos ao fim de semana, estou acompanhado.

Às vezes somos surpreendidos pelo meio da semana que nos marca lugar na esplanada do nosso café e colocamos a conversa em dia.

Foi o que aconteceu na última vez que nos encontrámos. Estávamos os dois sozinhos e para não sermos egoístas, ocupámos a mesma mesa. Foi bom, falámos de tudo e mais alguma coisa, menos dos papeis secundários que ela passa a vida a fazer, tanto no teatro como nas telenovelas. Não é por falta de talento ou de graça, é porque "nunca calhou" e porque "agora começa a ser tarde".  Sim, a Sandra já está a aproximar-se dos cinquenta, uma idade terrível para as actrizes...

Às vezes penso na quantidade de gente com talento que conheço, que não conseguiu chegar à parte do céu onde poisam as estrelas. Como o Gui diz, muitas vezes, há comboios que só passam uma única vez na nossa estação...

Mas não é apenas isso...

Por uma questão de educação, personalidade, e sobretudo dignidade, não conseguimos "fazer tudo", muito menos irmos na conversa das pessoas que estão quase a "cobrar bilhetes", à entrada da "carruagem dos nossos sonhos". 

E o tal lugar estrelar, vai ficando, cada vez mais longe para a Sandra, como ficou para a Luísa ou para o João e para tantas outras pessoas, que passam o tempo a "lamber as feridas"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


2 comentários:

  1. Tanta gente que fica a ver passar o comboio que não pára!

    Abraço

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    1. É verdade, Rosa.

      Ainda existem esses, que "nunca param nas (nossas) estações"...

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