Pensamos quase sempre coisas diferentes, e muitas delas (diria mesmo, quase todas), ficam-se apenas pelas nossas cabeças. Pois é, não somos assim tão iguais, como nos querem fazer crer.
São aquelas coisas que se sentem e não se dizem, por isto ou por aquilo.
Pensei nisso, poucos minutos depois de assistir ao começo de uma discussão sobre o "fazerem-se ou não se fazerem filhos", entre um casal, que se aproximava vertiginosamente dos quarenta anos.
Naquela "mesa de ideias", éramos sete e só dois tínhamos filhos. Eu com apenas dois, parecia quase um "fenómeno do entroncamento". A Inês tinha uma miúda, já adolescente. Os outros deviam ter imensas desculpas para não quererem aumentar a população mundial, mas acabámos por ficar todos em silêncio, com algum receio de que aquela conversa chegasse aos lugares, onde existem placas com sentidos únicos.
Mas não se foi tão longe, o Rui limitou-se a dizer que se fosse mulher, há muito que tinha filhos. A Clara começou a rir-se e depois disse: «Pois é. É uma pena, nunca conseguirmos ser iguais. Adorava que os homens também pudessem ter filhos, períodos, enxaquecas e consultas de ginecologia.»
Começámos todos a rir, inclusive o Rui. E a conversa ficou por ali.
Voltámos ao trabalho.
Quando vinha para casa acabei a pensar no assunto. Era uma coisa tão óbvia, que nunca me fez confusão na cabeça, mesmo que fosse estranha.
Eram as mulheres que determinavam o aumento da população no nosso país e no mundo e ponto final.
Embora raramente fosse uma opção solitária, à verdade é que eram elas as únicas que podiam ter filhos e tinham sempre a última palavra sobre o assunto, mesmo que fingissem que não...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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