quarta-feira, outubro 15, 2025

Olhamos quase sempre para a árvore e não para a floresta


A discussão na mesa era sobre o comunismo e os comunistas, sobre a forma como se aguentavam, contrariando todas as previsões, especialmente nas autárquicas.

Disse-se muita coisa parva. Ainda há quem olhe para os comunistas como uma praga ou um vírus. Provavelmente por não conhecerem nenhum comunista...

Ao contrário do que se disse na conversa, os comunistas (pelo menos a maioria dos que conheço...) são pessoas cultas, solidárias, amigas e que gostam de ter qualidade de vida. Sim, ao contrário do que se disse, a mais que uma voz, a luta social dos comunistas é que toda a gente viva melhor e não que sejamos "todos pobrezinhos".

Foi também por isso que escolhi o exemplo das árvores como título, também a pensar no primarismo como se olha para os militantes e simpatizantes do partido.

Para mal dos pecados de todos estes "anticomunistas", o PCP parece estar também apostado em morrer de pé.

O Rui disse que a minha proximidade e amizade com os comunistas da Margem Sul, me toldava as ideias. Nova risada colectiva. Claro que lhe respondi, que era precisamente o contrário, que o que faltava a todos eles era terem um ou dois amigos comunistas.

Quando o Carlos chamou "sapateiro" ao secretário geral do PCP, sorri (o meu pai usava muito esta expressão para se referir a políticos manhosos, sem jeito para a coisa, normalmente mais das direitas...), por ele estar certo. Quando um partido tem dirigentes como João Oliveira ou João Ferreira e prefere um Paulo Raimundo, há alguma coisa de errado no interior do partido...

Felizmente, desta vez não falámos da Ucrânia ou da Venezuela. São estas incongruências que fazem com que as pessoas olhem com mais facilidade  para a árvore que para a floresta...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal - escolhi esta fotografia porque havia algum receio do Seixal passar directamente da CDU para a extrema-direita...)


terça-feira, outubro 14, 2025

As várias velocidades do olhar...


Gosto cada vez mais de fotografia. Sinto que ela é, muitas vezes, o prolongamento do meu olhar. 

Não perco muito tempo com a "técnica e a táctica", gosto sobretudo do "improviso". É por isso que gosto mais de falar com fotógrafos amigos que de ler livros de fotografia.

E quando gostamos de coisas diferentes, ainda se aprende mais...

É com eles que percebo que não sou propriamente um fotógrafo. Sou simplesmente um gajo que gosta de tirar retratos, de ver o mundo por dentro da câmara, talvez por saber que a fotografia que sai, nunca é exactamente o que os nossos olhos viam.

Quando eles me começam a dizer que a fotografia x demorou cinco horas... ou em casos mais sérios, anos (sim o Aníbal diz que a sua fotografia "A Poeira no Caminho", demorou anos, até descobrir o Sol e a poeira perfeitas... Sorrio, por saber que raramente fico à espera de uma fotografia (a sensação é contrária, sinto muitas vezes que deixei fugir o momento, que a fotografia não vive de hesitações).

Comecei a escrever e a fugir ao tema da última conversa que tivemos, as "várias velocidades do olhar". Sei que até parece uma coisa surrealista, mas existe mesmo, e é facilmente compreensível...

Não vemos a mesma coisa, sentados, de pé a caminhar, a passear de bicicleta, a viajar de carro ou de comboio. Não é nada de mais. Mas são coisas em que raramente pensamos e ainda menos discutimos, com exemplos práticos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, outubro 13, 2025

A revolução que não aconteceu (e ainda bem)


Felizmente a "revolução" não aconteceu, nem mesmo no Algarve. O país autárquico, ficou quase igual, para tristeza dos muitos analistas, que encomendaram vários funerais ao PS ao mesmo tempo que estendiam passadeiras vermelhas à extrema direita, que fingem "detestar" (não é João Miguel?).

Alguns devem estar a passar por uma coisa rara, no comentário politico, a  dita "crise de ideias". Claro que se trata de uma coisa passageira. Amanhã já estão preparados para novas aventuras na "república portuguesa", que recebe bananas da Madeira, mas também da latina-américa... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, outubro 12, 2025

A bela praia que gosta de se intrometer nas eleições...


Ontem como estava perto do mar, resolvi passar ao lado das praias da minha infância.

Não esperava encontrar tantos veraneantes tardios, embora os médicos continuem a recomendar o Sol e o ar marítimo, com o célebre iodo, para algumas doenças, como as ósseas, por exemplo.

Fiquei a pensar que, se hoje estiver novamente, "um dia daqueles", há alguns candidatos que vão ficar com menos votos...

(Fotografia de Luís Eme - São Martinho do Porto)


sábado, outubro 11, 2025

Saber onde (e em quem...)

 

A primeira vez que vi este cartaz publicitário, li "outra coisa".

Mas pensei que não podia ser, eles não podiam andar por aí a dizer estas coisas, quase a ensinar a "saber votar". 

Depois de uma segunda leitura, percebi a mensagem. Queriam apenas que víssemos onde íamos votar amanhã.

E claro, o meu olhar crítico, olhou para os últimos resultados das eleições e ficou com a sensação de que esta gente que me rodeia, também não sabe muito bem em quem votar, ou seja, é mais masoquista do que parece...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, outubro 10, 2025

A moda de governar para "ganhar eleições"...


Nem se pode dizer que a moda de governar para ganhar eleições, tenha começado com o PSD.

António Costa, por exemplo, foi bom a governar desta forma. Embora fosse menos descarado que o "conde monteverde", foi desta forma que se conseguiu manter tanto tempo no poder...

Olhando para a actualidade, os reformados são o "público-alvo" das maiores atenções do primeiro-ministro, que se habituou a criar, um mês ou dois antes das eleições, um qualquer suplemento que faz as delicias dos mais idosos. Acredita que, mesmo que a memória já não seja a mesma, eles não o esquecem quando vão votar. 

Foi por isso que voltou a repetir a façanha, agora, mesmo que estas eleições não o elejam, sejam apenas para as autarquias. Revela-se um bom amigo dos autarcas sociais democratas, mesmo que estes (e os outros, como os socialistas em Almada...) também insistam em colocar novos tapetes de alcatrão, para tapar os buracos de quatro anos, na semana das eleições...

Mas as benesses não se ficam por aqui, até se corta a erva dos jardins, o que nos faz pensar muitas vezes que não era má ideia existirem eleições anuais nos lugares onde habitamos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, outubro 09, 2025

As "mulheres-turistas"...


Não sei explicar porquê, mas cruzo-me com mais "mulheres-turistas" (duas a duas, três a três ou mais), que com "homens-turistas", pelas várias avenidas das duas margens do Tejo.

Fico com a sensação que elas viajam mais que os homens, pelo menos para o nosso país.

Posso estar enganado. Podem ser os meus olhos que se fixam mais nas mulheres.

A única certeza que tenho, é que, pelo menos o Ginjal e o Jardim do Rio são mais visitados pelas mulheres que pelos homens que chegam do mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, outubro 08, 2025

Os anónimos que ainda acreditam na ideia de bem...


Nestes tempos de "podridão humana", onde há demasiado espaço para a gente que passa o tempo a servir-se dos outros e a empurrá-los para trás (o meu olhar está fixado apenas no nosso país não viajo para as "guerras"...), é uma alegria encontrar pessoas genuinamente solidárias, que nos dão alento para pensar que ainda há esperança no meio dos humanos, que ainda há quem pense nos outros e lhes dê a mão, mesmo sem os conhecer de parte alguma.

Hoje aconteceu isso. Vi duas pessoas que ajudam os outros, apenas por humanismo, apenas por acreditarem na tal ideia de bem, quase urgente, para que o mundo onde vivemos fosse muito mais saudável e melhor para todos, em todos os campos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, outubro 07, 2025

Será que se está a preparar em Gaza um episódio parecido com a "guerra de Solnado"?


Se há coisa que já se percebeu, é que tanto Trump como Netanyahu, são capazes de tudo, para atingirem os seus objectivos pessoais, que por vezes tentam fingir ser colectivos.

É por isso que tenho algumas suspeitas de que o Presidente dos EUA está a querer "acelerar" um acordo de paz em Gaza (que tem tudo para ser parecido com o de "judas"...), por ver que se está a aproximar a atribuição do seu tão sonhado "Nobel da Paz".

Prémio que tem "exigido" em quase toda a parte onde discursa, ao ponto de inventar guerras que terminou sem elas começarem. Embora seja quase anedótico, que um ditador mentiroso, possa ter tais aspirações, no mundo actual parece que tudo é possível.

O que é verdadeiramente grave, é a notória falta de carácter dos principais líderes europeus, que a única coisa que têm deixado no ar, na relação com Trump e com os EUA, é a sua cobardia e hipocrisia (onde nem falta um português de apelido Costa...), ao ponto de estarem prontos a apadrinhar um "prémio" completamente imerecido, mesmo que os seus júris, só de vez em quanto, escolham os melhores...

É por isso, que este episódio é parecido com a "guerra do Solnado" (que parava aos fins de semana, para descanso do "inimigo"...), embora essa fosse completamente inofensiva, ao contrário do que se passa diariamente em Gaza. 

Nada nos diz, que depois de Trump receber o tão desejado "Nobel da Paz" (parece que é mesmo uma possibilidade...), não volte a existir uma marcha atrás no acordo e o Israel se mantenha firme, no propósito de aniquilar todos os Palestinianos...


segunda-feira, outubro 06, 2025

Os políticos ainda não se lembraram de dizer, que a culpa é das mães e dos bebés, que têm demasiada pressa em nascer...


Estava a ver uma notícia sobre a quantidade de partos feitos no interior de ambulâncias, com os Bombeiros da Moita com um número que até já pode ser recorde: 15 partos feitos nas suas viaturas, antes de conseguirem chegar a um hospital ou urgência de obstetrícia.

Em vez de pensar no exagero de urgências e maternidades fechadas, de Norte a Sul, lembrei-me que os governantes de hoje são do melhor a olhar para o lado positivo das coisas, pelo que só falta começarem a dizer, que a culpa é das mães e dos bebés, que são de tal forma despachadas e despachados, que se pode dizer que hoje vivemos uma nova era. Ou seja, um tempo quase sem "partos difíceis"...

E ainda me lembrei de mais um argumento: podem sempre dizer que a culpa é dos bombeiros, que andam numa lufa-lufa para entrar no "guiness", ao ponto de escolherem sempre os caminhos mais longos na direcção dos hospitais e maternidades.

Sei que não devia estar aqui a oferecer ideias aos "pantomineiros" que nos governam, mas como dizia o bom do Dinis, o que nos safa, é conseguirmos ver sempre o lado mais engraçado das coisas (mesmo no meio das desgraças...).

Adenda: Já no começo da manhã do dia seguinte, a primeira notícia que apareceu no canal de notícias, assim que liguei a "caixa mágica", foi o nascimento de um bebé, no chão de um hospital em Gaia...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, outubro 05, 2025

Um almoço amigo e republicano...


Embora não fosse esse o motivo do almoço da meia-dúzia de vizinhos e amigos, que de vez em quando se juntam, como aconteceu hoje, o bonito domingo e feriado revelou-se, como sempre um convívio alegre e democrático (ser o dia da comemoração da implantação da República foi apenas uma coincidência feliz).

O belo repasto preparado pelas duas anfitriãs, foi acompanhado por conversas abertas sobre a actualidade, local, nacional e internacional. O primeiro tema de conversa foi a nossa rua. Da janela do terceiro andar vimos que tinham cortado o "matagal" (finalmente...), demasiado perigoso neste Verão farto em incêndios, porque devido à falta de lugares para todos os carros da vizinhança, muitos acabavam por estacionar rente aquele "barril de pólvora" (as vezes que disse ao meu filho para não estacionar o carro por ali...). 

Apesar do "passa culpa" e de "responsabilidade" do Município e da Junta de Freguesia (mesmo sendo ambos da mesma família política...), são ambas responsáveis pela sujidade e descuido das ruas, onde a acumulação de lixo rente aos contentores é já uma imagem de marca da Cidade. Todas nós sabemos (menos os responsáveis....), que há mais gente a fazer lixo, e por conseguinte, têm de existir mais recolhas pelos serviços camarários (nem sequer são feitas dia sim dia não em Almada...).

Também falámos da cultura e do associativismo local, com conhecimento de causa. Dos "tiros nos pés" dados por vários dirigentes e do aproveitamento dos governantes, para cortar apoios (não é por um mero acaso que continuam a fechar colectividades no Concelho...).

Já não sei porquê, mas a Joana, "extremamente desagradável", também acabou por surgir na conversa e foi aí que ouve alguma controvérsia, por não estarmos de acordo em relação aos limites do humor. Já em relação à sentença, sorrimos todos, por acharmos ridículo alguém pedir mais de um milhão de indemnização por uma piadola. Achámos que os "anjinhos" ficam muito bem com os custos das despesas judiciais.

Depois viajámos pela actualidade internacional, pela "flotilha" e pela "doença e cobardia" das redes sociais e de alguns comentadores políticos, que parecem ter duas mãos direitas e se esforçam em transformar uma missão humanitária num apoio a terroristas (com a cumplicidade do ministro da Defesa...).

Provavelmente, por sermos sobretudo, humanistas, estívémos em acordo em quase tudo, num almoço de amigos, que se prolongou até meio da tarde.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, outubro 04, 2025

Existe mesmo uma "idade da sabedoria"...


Lembrei-me de uma das conversas que tive com o Alberto, há já meia dúzia de anos, sobre o pequeno mundo cultural e associativo  de Almada. Foi quando ele me contou o bem que lhe sabia, dizer não, a alguns convites que recebia para participar em mesas redondas e quadradas, onde se falava de tudo e mais alguma coisa, sem que sobrasse ou se resolvesse coisa alguma.

Depois disse-me que eu estava quase a chegar à "idade da sabedoria" e que também iria começar a dizer não, cansado das tais conversas estéreis...

Não o levei muito a sério, limitei-me a sorrir. 

Meia dúzia de anos depois, não só sinto, como sei que ele estava certo. A partir dos sessenta, passamos a ter menos paciência para tais as conversas de circunstância e para as futilidades. Só continuamos nessa vidinha, se não tivermos nada de interessante para fazer, além de olharmos  para o nosso espelho favorito, que até é capaz de nos encolher a barriga e colocar mais cabelo na cabeça, apenas porque sim...

Se ainda tivermos vontade de fazer algumas coisas, começamos a ser mais selectivos, agarrando-nos ao que realmente nos interessa.

E às vezes, sabe tão bem dizer não...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, outubro 03, 2025

O silêncio dos culpados...


Não sei se sou só eu que reparo, que cinquenta anos depois de Abril, há quem queira "encolher" o nosso país, que apesar de ter o tal "mar plantado", no seu lado ocidental, sempre esteve longe de ser o "paraíso" dos poemas e da prosa poética.

Descubro um país com menos escolhas e também com menos espaço para as diferenças.

Um país com mais "verdades absolutas", mesmo que a maior parte das vezes, não passem de deturpações da realidade. 

Tal como aconteceu noutros tempos, em que a realidade era pintada diariamente com cinzentos, este país parece querer voltar atrás no tempo. Parece querer avivar os medos, como por exemplo, o medo das palavras. 

E atrás deste medo, vêm outros medos, que tornam cada vez mais difícil perceber onde começa a ficção e acaba a realidade no país e nas nossas vidas.

Se um juiz pode ser escutado e perseguido durante três anos, apenas porque há alguém no ministério público que lhe quer colocar um autocolante de "corrupto" na testa, pode-se fazer quase tudo às nossas vidas.

Curiosamente (ou não), os políticos dos partidos e os governantes dos muitos poderes existentes, ficaram em silêncio. 

Já nem sequer dizem a frase batida, que só cumprem quando lhes dá jeito: "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça."

Infelizmente, é cada vez mais audível, o silêncio dos culpados...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, outubro 02, 2025

A Paz, o Pão e a Liberdade a Sério, que tanto falta fazem na Palestina...


Já todos percebemos que a direita e a extrema direita, com a ajuda de vários comentadores (e até de jornalistas...), estão apostados em serem os "pais" da "extrema esquerda portuguesa", mesmo que ela continue ausente no nosso espaço político, se pensarmos nos partidos que defendem os valores democráticos.

O único partido que tenta não cumprir nem respeitar a nossa Constituição, é o "albergue venturioso", que tanto aceita fascistas como bandidos (os "casos de justiça" falam por si...).

É por isso que acaba por ser estranhamente normal escutarmos - e lermos - as muitas adulterações que têm sido feitas à "Flotilha de Gaza", até mesmo de ministros, como o da nossa defesa.

Digam o que disserem, é sobretudo uma acção humanitária, promovida pela esquerda europeia, que apoia a Palestina. A esquerda que não esconde os valores que defende nem o que pensa sobre o genocídio de Gaza, levado a cabo por Israel.

(Fotografia de Luís Eme - Setúbal)


quarta-feira, outubro 01, 2025

O tempo deste tempo...


Outubro começa, os termómetros continuam a andar próximos dos trinta graus. Para uns é uma maravilha, para outros, nem por isso.

Quem gosta muito, muito de mar, daquele mar que tem praia, sol, toalhas, corpos pintados, ainda se pode deitar na areia e brincar com as ondas.

Quem tem de se levantar cedo, apanhar transportes para o trabalho, depara-se com outros quadros... A minha companheira, sensível a cheiros, queixa-se por ter de viajar no mesmo comboio das pessoas que não tomam banho todos dias nem mudam de roupa diariamente... 

São viagens diárias, de pé, com uma proximidade pouco agradável, porque além dos cheiros sujos, há os toques pouco inocentes, de outra gente, com idade para ter juizo.

É o tempo deste tempo...

O tempo que faz com que Benidorm ou Valência, aqui mesmo ao lado, fiquem quase submersas...

É o Outono que começa, curiosamente, menos melancólico, que o costume.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, setembro 30, 2025

Gente que tem a profissão errada (e nem sequer desconfia...)


Penso que vai acontecer ao "conde monteverde" o que aconteceu à "múmia paralítica", mesmo que esta tenha exercido funções de Estado durante mais de duas décadas.

Nunca irão perceber qual é (e foi) o seu papel, pelo menos enquanto primeiros-ministros do País, por mais ficções que inventem. 

Era preferível terem escolhido outra profissão, porque lhes falta a inteligência,  a humildade, o sentido de Estado e a percepção (palavra tão ao seu gosto...) de que nas suas funções, estão a representar 10 milhões de pessoas.

É no mínimo triste (e até ultrajante...), ver um primeiro-ministro a reclamar, e a achar, que só deve responder às questões que lhes apetece e não às perguntas legítimas que lhe são feitas sobre a actualidade política, pelos jornalistas - oferecendo antes o seu sorriso cínico, que ficará, decerto, como a sua imagem de marca, num país, que todos sentimos, que já teve dias melhores...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, setembro 29, 2025

«São precisos dois para dançar o tango...»


Ela disse-me esta frase ainda na cama.

É uma frase que se tornou corriqueira e que é usada pelos políticos, quando lhes convém, mesmo que a sua dança seja outra.

Não sei se ela e eles sabiam que estavam enganados.

Soube-o em Agosto, quando entrei num bar, que tinha a música rainha da Argentina a espreitar para a rua.

Embora estivéssemos a meio da tarde, o ambiente da sala era de quase média luz, contrastando com a luz e o calor fortes de um Verão que já cansava e que nos aguardava lá fora.

Sentei-me rente ao balcão, pedi uma cerveja e fiquei a olhar para as paredes cheias de gente, onde não faltava o Deus Maradona, embora o espectáculo decorresse no meio da sala. Fiquei entre o pasmado e o agradado, a olhar para o homem, sexagenário no mínimo, mais magro que elegante, que dançava sozinho entre o balcão e as mesas, um tango dos bons. Aliás deslizava...

Dançava muito bem, sozinho. Provavelmente, ainda dançava melhor com um par feminino à sua medida. Mas naquele momento só se encontravam homens naquele bar, cinco, como os dedos de uma mão.

Depois de beber a cerveja e de ver o homem sentado num dos cantos da sala, a refrescar-se com uma água com gás, paguei e vim embora. Antes de sair, fiz-lhe uma pequena vénia e ele levantou o copo, como se estivesse a fazer uma "saúde" aos dois.

Sai para a rua satisfeito e esclarecido. Afinal nem sempre são precisos dois para dançar o tango...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, setembro 28, 2025

Ser escritor todos os dias (sem medos...)


Mais um domingo em que "acordo com as galinhas" (pois é, parece que são madrugadoras como eu...), mesmo que não exista nenhum galo nas imediações a cantar.

Ainda antes do pequeno almoço, comecei a escrever pequenas notas, de mais um livro que está a crescer dentro de mim.

Por curiosidade, fui ler algumas coisas antigas e a acabei a pensar que não me lembrava de saber todas aquelas datas (que entretanto tinham sido esquecidas, para dar espaço a outras "novidades"...), mesmo que estas fossem de conhecimento comum.

Já o disse por aqui, provavelmente mais que uma vez, que gosto muito destas manhãs produtivas.

É a prova de que sou escritor todos os dias. Não recuso as ideias que aparecem ao sábado e domingo, para não correr o risco de ser "escritor de fim de semana" (lembro-me sempre da frase atribuída a Fernando Calhau, que se recusava a ser "pintor de domingo"...).

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, setembro 27, 2025

O número político do PSD à volta de outro número "moderado"...


Os jogos do poder do Governo que está em funções, são cada vez mais estranhos, abrindo espaço  à provocação, à loucura e também à recreação, onde se nota um prazer especial em se "atirar barro à parede".

Lançam coisas absurdas para a opinião pública, cum um único objectivo: confundir as pessoas, com a cumplicidade de um jornalismo cada vez menos livre e independente.

Eles sabem que enquanto se fala de "amamentação" ou de "rendas milionárias moderadas", a atenção das pessoas é desviada do que realmente importa, tanto no mundos do trabalho como no mercado habitacional. 

O passo seguinte é aproveitar a "distracção" e continuar a política de direita, que defende o patronato e os proprietários, tornando a vida das pessoas mais difícil e o país cada vez mais pobre e desigual...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, setembro 26, 2025

A tentativa de falsear a história nas páginas dos jornais


As pessoas que escrevem nos jornais, vão descendo cada vez mais baixo, na tentativa de "acabar com os perigosos extremistas de esquerda", que vivem à sua volta (eu acho que é mais nas suas pobres cabecinhas...). Se não me admiro nada do que uma tal Maria João Marques escreve no "Público", tal como um Francisco Mendes da Silva, não esperava que João Miguel Tavares seguisse a mesma "cartilha". 

Claro que o problema é meu. Pensava que o fulano gostava de polémicas, mas era intelectualmente honesto. Mas não é.

Só se pode e deve falar da existência de uma "extrema-esquerda", ruidosa e perigosa, durante o PREC. Comparar o Bloco de Esquerda ou o Livre com o Chega, é um insulto à inteligência de qualquer português.

Como não nos chegavam as "trumpadas", estes comentadores aproveitaram os ventos que sopram da américa e começaram a comparar o fascismo com o comunismo, ao ponto de terem o desplante de escrever que há poucas diferenças entre ambos os regimes. Como sempre, vão buscar os exemplo do stalinismo, escondendo o ideário de Marx nas suas gavetas.

Imagino o que devem pensar, todos aqueles que lutaram contra as ditaduras salazarista e marcelista, mesmo os que não se reviam no PCP...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, setembro 25, 2025

Um encontro dos bons, com livros e com uma pessoa especial...


Nunca nos tínhamos encontrado. 

Um livro foi a razão do nosso encontro, e claro, alguma curiosidade, à volta da construção do ensaio biográfico, sobre alguém que sempre me disse muito, e que passou a ser também especial para ela, depois de todo o trabalho de investigação realizado, que culminou com a edição de uma obra admirável.

A curiosidade foi satisfeita, mas com o decorrer da conversa, acabou por acontecer uma coisa diferente. Começámos a falar e fui eu a contar-lhe a "história da minha vida" (aliás, escrever "várias vidas", é o mais correcto...).

Não deixa de ser curioso, que neste tempo em que as palavras ditas, misturadas com olhares, parecem estar fora de moda, seja possível encontrarmos alguém, com quem seja possível partilhar tantas coisas. Sentir que podíamos estar horas e horas sentados numa esplanada a ir buscar coisas ao quarto dos fundos das nossas memórias viajando  dentro de histórias e momentos únicos, que além de nos ajudarem a crescer, tornaram-nos melhores pessoas...

Nota: A escolha deste retrato, não é de todo inocente. Além da conversa com pessoas e livros ter sido agradável, foi bom ver tanta gente com livros nas mãos e nos olhos, deitadas ou sentadas no jardim.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 24, 2025

A Guerra Colonial e os vários "comboios da liberdade"...


Ontem tive uma conversa extremamente rica, com alguém que viveu intensamente, os primeiros anos da década de setenta do século passado, um tempo de grande união, em que se lutava contra um inimigo comum, o marcelismo (que era apenas o salazarismo retocado...).

Foram tempos em que a maior parte das pessoas, que gostavam de liberdade e de democracia (dos mais conservadores aos mais revolucionários), eram capazes de esquecer as diferenças e baterem-se pelo que achavam melhor e mais justo.

A Guerra Colonial deveria ser um dos aspectos mais abrangentes da sociedade de então, até por que deixavam todas as mães em alvoroço (mesmo as de boas "famílias"...). Eram demasiados os exemplos de jovens que morriam ou ficava incapacitados para todo sempre...

E foi por isso que aumentou no final dos anos 1960 (mesmo que não existam dados, era uma estatística que interessava muito pouco ao governo de então...) a fuga de jovens para as Europas, com a cumplicidade dos pais, familiares e amigos...

Ela foi uma das jovens que ajudou muitos amigos a darem o salto para Espanha, de onde apanhavam o "comboio para a liberdade", que só parava em terras francesas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, setembro 23, 2025

Um dos sorrisos mais bonitos do cinema


Claudia Cardinale deixou-nos hoje.

Foi uma das actrizes que mais encheu as telas com o seu sorriso bonito, num tempo em que a beleza era fundamental na sétima arte.

O curioso, é nunca ter sentido qualquer ameaça de uma Marylin Monroe, de uma Ava Gardner, ou de geografias mais próximas, de uma Sophia Loren...

Sim, nunca lhe faltaram filmes, bons, maus ou assim assim. Em qualquer deles, a Claudia dava nas vistas, muito graças ao seu sorriso, que fazia com que qualquer assassino do Oeste baixasse as armas...

(Fotografia de autor desconhecido)


domingo, setembro 21, 2025

«O que é um mau autarca?»


Deverão existir dezenas de definições e explicações do que é um mau autarca.

Claro que a pergunta que me fizeram, trazia "água no bico", queriam que eu concretizasse as críticas que faço, de vez em quando (são menos do que as que devia, reconheço...), à autarca cá do burgo.

Foi por isso que resolvi não pessoalizar a questão.

Disse apenas que um mau autarca é alguém que consegue, quando comparado com o seu antecessor, fazer pior em praticamente todos os domínios, desde a higiene (contentores cheios de lixo e ruas sujas e mal cheirosas...) às artérias (mau estado do piso e mau fluxo de viaturas...), passando depois por os outros sectores mais sensíveis, como são a melhoria dos espaços verdes (sem os tornarem uma "selva", fazendo com que sejam agradáveis para todos...) ou ainda a oferta social, cultural ou desportiva.

Ou seja, alguém, que em vez de melhorar, piora a qualidade de vida dos seus concidadãos.

E nem falei dos dinheiros, de quem gosta de gastar mais do que tem e mal, muito menos dos compadrios, demasiado visíveis, quando se tem o desplante de arranjar empregos para a família e para os amigos...

Claro que depois houve "retratos" para todos os gostos, onde não poderia faltar o sorriso cínico do alcaide de Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, setembro 20, 2025

A Constituição é a Mãe de todas as Democracias


Aquilo que chamamos democracia tem a grande vantagem de permitir a troca de argumentos entre rotos, gente com roupa remendada e, imagine-se, fulanos com fatos engomadinhos de domingo.

O que não permite é que não se cumpra a Constituição, que rege os países democratas, onde estão inscritos os deveres e os direitos de todos, sem qualquer tipo de discriminação. Sim, nas Constituições não há maiorias e minorias, cidadãos de primeira ou de segunda.

É por isso que as verdadeiras democracias não permitem dizer,  - ou fazer tudo o que nos apetece -, às pessoas de quem não gostamos ou com quem não concordamos. Mas não somos nós que impomos os limites, é a Constituição.

Ou seja, até podemos gostar de "xafurdar" em pocilgas, falar aos gritos ou dizer os nomes piores que conhecemos. Não temos é de obrigar os outros a fazerem também estas coisas, que parecem contribuir para a nossa felicidade.

Agora está na moda falar de "linhas vermelhas". Só que normalmente cada um traça as linhas que quer, mais curtas ou mais compridas, ou seja, conforme lhe dá jeito. 

É também por isso, que nunca foi tão importante o papel do Tribunal Constitucional, que até aqui tem funcionado de forma equilibrada, nas escolhas dos seus juízes (embora as direitas, que agora estão em maioria no Parlamento queiram desiquilibrar a balança...).

Tudo isto para dizer que há limites nas democracias. Não é o Presidente da República ou o Primeiro-ministro que os impõem (muito menos os líderes partidários), é a nossa Constituição.

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)


sexta-feira, setembro 19, 2025

Um grande jornalista desmonta, num excelente livro, o maior embuste da nossa democracia: o Chega


Embora algumas personagens fabricadas pela televisão, acreditem que é no "espelho", que está o segredo do sucesso, que basta dizer muitas vezes à imagem que aparece à nossa frente, quase, quase, igual a nós, que somos os melhores, que nos tornamos uns "gigantes", elas sabem que não é suficiente. Por muitos disfarces que usem falta sempre qualquer coisa...

O que nos torna realmente grandes, é o nosso trabalho, aquilo que fala por nós, sem ter à frente e atrás o nosso retrato.

Eu já sabia que o Miguel Carvalho era um grande jornalista. E fiquei a saber que também era um grande ensaísta e investigador, quando escreveu um livro único sobre o Verão Quente. Livro que deve ser amaldiçoado por todos aqueles que agora tentam agarrar com as duas mãos o 25 de Novembro de 1975, mesmo que nesses tempos andassem mais entusiasmados em queimar sedes do PCP na região Norte, que em participar em golpes revolucionários (a participação do PPD no 25 de Novembro é residual e a do CDS praticamente nula...). Estão lá os nomes todos...

Falo de Quando Portugal Ardeu - Histórias e Segredos da violência Política no pós-25 de Abril.

E agora voltou a oferecer-nos outro grande livro, cheio de peripécias. Falo de Por Dentro do Chega - a Face Oculta da Extrema-direita em Portugal.

Falo em "grande", não pelo tamanho (mesmo que ultrapasse as setecentas páginas...), mas pela qualidade, pelo excelente trabalho de investigação realizado. 

As ameaças, os boatos e as perseguições feitas ao Miguel, promovidas por este grupo de malfeitores que anda por aí disfarçado de partido político, com o sucesso que todos conhecemos, não conseguiu vencer a realidade nem a história. 

Sim, neste livro não se poupa qualquer palavra sobre o antes e o durante de uma quase "seita", que nunca escondeu ao que vinha, nem por quem era patrocinada, embora ande por aí demasiada gente distraída. Gente que além de adorar mentiras, parece estar saudosa dos regimes autocráticos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, setembro 18, 2025

Dias de "São Mourinho"...


Ontem e hoje o país foi quase só "José Mourinho", que regressou a Portugal, para treinar o Benfica.

Confesso que depois dos dois últimos jogos dirigidos por Bruno Lage, pensei que era boa ideia começar a  deixar de gostar do Benfica. Como se isso fosse possível...

Pensei nisso, mais a pensar nas exibições que nos resultados, mesmo que as derrotas do Caldas e do Benfica, normalmente me deixem triste. Sabia que o treinador tinha os dias contados, por falar de mais e a equipa jogar de menos, e claro, por estarmos cada vez mais perto das eleições.

Eleições com uma mão cheia de candidatos. Não compreendo o regresso de Vieira, que é passado. Embora goste de Rui Costa, sei que tem cometido demasiados erros como presidente. Penso que uma mudança era bem vinda, para acabar de vez com hábitos antigos.

No campo técnico acredito que o Benfica vai mudar para melhor, mas também sei que o futebol de Mourinho não vai rivalizar com o de Jorge Jesus, que mostrou a todos os benfiquistas que era possível ganhar e dar espectáculo para as bancadas, distanciando-se em qualidade do vulgar jogo do "chuto na bola".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 17, 2025

«O que seria de nós, sem as utopias?»


Os nossos filhos discutiam, acaloradamente, estes momentos estranhos que vivemos.

Faziam viagens rápidas, ora pelos EUA de Trump, com passagens por Gaza, e depois, faziam várias paragens pela Capital, a deles, a do "zé das moedas"... e claro, a dos outros.

Às vezes quase que gritavam. Percebíamos que raramente estavam de acordo. Quando tens vinte anos, quase que queres obrigar os outros a pensarem como tu...

Andei para trás no tempo e pensei que talvez fosse pior que eles, com aquela idade, tanto no ambiente de trabalho como em família. Quando comecei a trabalhar, a sério, era o "menino". Os outros rapazes, também jovens, levavam-me no mínimo quatro anos de avanço. Isso fazia com que houvesse alguma condescendência pela minha juventude e rebeldia. Em família, nem por isso. Um ou outro tio, achava que era demasiado novo, para falar disto ou daquilo. Talvez tivessem um bocado de razão. Um bocado não, apenas um bocadinho.

Quarenta anos depois, ali estava eu, a assistir aquele espectáculo raro, ver a nossa juventude a falar e a pensar, em vez de estarem ligados ao rectângulo do costume, com umas coisas nos ouvidos.

Percebia à légua que a minha filha era a "rainha das utopias". A mãe disse-me qualquer coisa, que estava ligada ao mundo dos sonhos.

Eu limitei-me a sorrir e a dizer: «O que seria de nós, sem as utopias?»

(Fotografia de Luís Eme -  Caldas da Rainha)


terça-feira, setembro 16, 2025

Robert Redford: um dos raros actores que era tão, ou mais importante, que os filmes onde brilhava...


Embora este "Largo" tenha "Memória", ultimamente não tem feito homenagens às pessoas com mais de "dois metros", que nos vão deixando, como aconteceu agora com Robert Redford.

Redford foi muito mais que um actor bonito, conseguiu acrescentar sempre algo, aos seus papeis no cinema. Foi um dos raros actores que conseguia ser tão ou mais importante, que os filmes que protagonizava. São muito poucos os que têm este talento. Os primeiros nomes que me ocorrem são os de Robert De Niro e Meryll Streep, mas há também um Tom Hanks ou um Al Pacino, e pouco mais... 

Não esqueço Os Homens do Presidente, um filme de culto do jornalismo e da política (foi exibido, estudado e criticado no Curso de Jornalismo que fiz no Cenjor...). Embora ele tenha deixado a sua marca em todos os filmes que entrou (largas dezenas), mesmo os mais banais.

Além de actor também dirigiu alguns filmes, tendo mesmo ganho o óscar de melhor realizador com Gente Vulgar (que também foi melhor filme).

Mas Robert Redford não se ficou por Hollywood, nem viveu à sombra dos seus louros ou da sua imagem, foi o principal responsável pela criação do melhor festival de filmes independentes dos Estados Unidos da América, o Sundance Film Festival.

(Fotografia de autor desconhecido - uma cena de Os Homens do Presidente, onde contracenou com Dustin Hoffman)


segunda-feira, setembro 15, 2025

Foi aberta a nossa "caixa de pandora"...


As acusações contra um actor e encenador do Porto abriu a nossa "caixa de pandora", onde estão guardados muitos dos casos de assédio e de abusos sexuais do nosso mundo artístico.

Pensava que as histórias que ouvia falar, aqui e ali, iam ficar perdidas no tempo (embora nunca fossem esquecidas pelas vítimas...), porque a globalização e a a popularidade das redes sociais tinham acabado com o nosso tradicional atraso entre países como os  EUA ou o Japão.

Parece que estava enganado. Pelo menos é o que a realidade conta. O "Me Too" está a chegar, com o atraso do costume...

Sim, as denúncias públicas e a desmontagem dos método de trabalhos da escola de teatro do Porto,  onde o assédio e a humilhação, fizeram parte do dia a dia dos alunos (preferencialmente os mais bonitos e mais frágeis), durante anos, parecem ter chegado em força. E o mais provável é que não se fiquem apenas por um actor ou encenador...

Sempre achei estranho que apenas as mulheres se queixassem do abuso de homens, quando os maiores escândalos (e perversões...) sexuais se passavam no mundo masculino, pelo menos nas artes cénicas e na moda (nas europas, nas américas e nas ásias...).

Quem conheceu e conhece (as coisas não devem ter mudado assim tanto...), ainda que de uma forma leve, os bastidores do meio mais apetecível e popular do espectáculo, a televisão, sabe que este sempre foi dominado pelo chamado "lobby gay". E sabe também como se "abriam e fechavam portas"...

A questão que acaba por ficar no ar, é se todas estas denúncias vão ficar apenas por um único caso...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 14, 2025

«Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»


Por ter feito jornalismo desportivo e por nunca ter sido um adepto ferrenho (tanto do Caldas como do Benfica...), normalmente, discuto futebol sem grandes estados de alma.

Foi por isso que não me manifestei muito no começo da discussão sobre se esta modalidade era um arte ou um simples jogo. Só depois de uma acesa troca de palavras entre os meus amigos Jorge e Gonçalo, é que resolvi "desempatar"...

Claro que lhe faltam vários parâmetros para entrar no mundo das artes. O principal talvez seja o facto de ter um número muito reduzido de artistas, a maior parte dos jogadores limitam-se a ser bons profissionais, cumprindo a sua missão sem terem a preocupação de "fazer arte". 

Foi por isso que disse: «Não. O futebol não é uma arte. É apenas um jogo, que por vezes é jogado por um ou outro artista.»

Depois falámos dos ordenados obscenos que se pagam aos futebolístas, tal como da desculpa, quase esfarrapada, de que é um negócio que movimenta milhões. De facto o futebol movimenta muito dinheiro, só que este está longe de ser bem distribuído. A maior parte dos clubes têm de inventar mais do que deviam, entrando inclusive em alguns negócios no mínimo pouco claros, para conseguirem equilibrar as contas. E mesmo assim, os  passivos são quase sempre superiores aos activos...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, setembro 13, 2025

As artes e as letras como "ganha-pão" (ou não)


Eu sei que, de certa maneira, sou um purista (para outros costumo ser coisas piores...), por não conseguir olhar para o mundo das artes e letras como uma profissão igual às outras.

Claro que sei que quem escreve, quem pinta, quem canta, quem faz teatro, tem de viver como as outras pessoas, ou seja, tem de ganhar dinheiro com as suas actividades criativas. E também sei que se quiser ser alguém, acima da média, não pode continuar a ser artista apenas ao final do dia ou aos fins de semana.

O curioso é que estas discussões normalmente não nos levam apenas a um lado, são demasiado complexas para se ter um olhar simples. Não deixou de ser curiosa a expressão do Jorge, de que apenas alguma boa fotografia e algum bom cinema, são a preto e branco. E mesmo esses nunca dispensam os cinzentos...

Todos conhecemos pessoas que pintavam apenas para vender. E quando o mercado encolheu, muitos arrumaram os pincéis e as tintas  e começaram a fazer outras coisas, que lhe pudessem ajudar a pagar a renda. O Gonçalo atreveu-se a dizer que os pintores eram pessoas diferentes, para levar logo de seguida com o exemplo do Manuel Ribeiro Pavia, que morreu à mingua. E logo ele que se fartou de trabalhar, de fazer capas de livros e ilustrações para escritores, uns amigos outros apenas conhecidos, sem ter tabela de preços. Como a maioria só se lembrava do Manel Pavia quando precisava, ele foi embora quase sem que se desse por isso...

E depois houve alguém que trouxe o futebol para a mesa. E lá se começou mais uma discussão daquelas, porque para uns este desporto era uma arte e para outros apenas um jogo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, setembro 12, 2025

A bagunça ideológica e política em que estamos metidos...


A morte de um político conservador numa universidade norte-americana, diz muito de como vai este mundo, povoado de radicalismos, tanto à direita como à esquerda.

Não vou falar do apoiante de Trump, mas sim destes tempos, em que, em vez de se respeitarem pontos de vista diferentes, se apontam dedos e se lançam boatos, quase sempre sem sentido, sobre as pessoas de que não se gosta e que pensam de maneira diferente. E neste caso, prefiro fixar-me na actualidade do nosso país.

O maior exemplo desta bagunça ideológica, começa e acaba no líder do nosso partido de extrema-direita. Nunca nenhum político mentiu tanto, e em vez de ser penalizado, recebeu créditos pelas suas demasiadas deturpações da realidade. Ainda esta semana falou erradamente de gastronomia e não de cidadãos, para criticar a visita do nosso Presidente da República à Alemanha, que segundo o seu ponto de vista viaja demasiado (mas nunca as 1500 difundidas por ele, afinal são apenas 160...). Como sempre, não se retratou das duas mentiras que disse sobre apenas um tema...

O mais curioso, é que hoje apareceu pela primeira vez à frente nas sondagens realizadas para primeiro-ministro.

Não sei o que se passa na cabeça dos portugueses, cuja maioria vive com dificuldades, mas mesmo assim, prefere ir atrás das mentiras de um "bando de gente execrável" - esta semana foi também conhecida mais uma faceta criminal de um candidato às autárquicas deste partido -, que tem tentado virar o Parlamento de pernas para o ar e que se percebe, que mesmo sem estar no poder, já se sente "acima de qualquer lei"...

Talvez hoje tudo seja possível, até a passagem do Seixal, directamente da CDU para o Chega (este partido ficou em primeiro lugar nas eleições para as legislativas neste Concelho...), nas próximas autárquicas...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


quinta-feira, setembro 11, 2025

Os bairros não são as aldeias que pensamos (e sonhamos)...


Os bairros não são as aldeias que pensamos.

O bom dia e boa tarde, muitas vezes são enganos. Cumprimentamo-nos mais por empatia e hábito, que por outra coisa. Se pensarmos um pouco, não sabemos quase nada (ou mesmo nada...), destas pessoas com quem nos cruzamos diariamente.

Quem sabe muitas coisas é o ainda jovem merceeiro do bairro, que de vez em quanto fala-me que fulano é filho de sicrano, por me ter cruzado com alguém que me olha como se me conhecesse, sem que saiba alguma coisa da sua vidinha.

Quando nos deixamos de cruzar com estas pessoas, se já tiverem alguma idade, percebemos que desapareceram de circulação. Aconteceu com uma das personagens mais divertidas da rua de baixo, um antigo canalizador que adorava contar anedotas, de todos os géneros. Vivia sozinho e depois de uma queda em casa, os filhos colocaram-no num lar. Esteve lá apenas um mês...

Soube disto na mercearia, que graças à simpatia do dono, vai resistindo ao tempo e às pequenas e médias superfícies que se instalam por todo o lado. 

Ela é quase uma "âncora", onde as pessoas ainda se encontram para falar e saber novidades da vizinhança, mesmo que apenas comprem um pacote de arroz ou o pão para o lanche. Felizmente faz-nos navegar no engano e pensar que os bairros ainda são as aldeias dos nossos imaginários...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 10, 2025

«Falamos tantas vezes das coisas que não sabemos. Quase sempre, estupidamente.»


Um homem muito delicado e com alguma idade parava diariamente na esplanada do café, quase escondido, onde a Rita toma o primeiro café do dia. 

Um dia qualquer reparei que deixara de aparecer e perguntei à Rita por ele. Ela disse-me que falecera, há menos de um mês.

Nesse momento, senti-me estranho, por o conhecer durante meia dúzia de anos e nunca ter trocado uma palavra com ele, muito menos conversado. As palavras dele eram todas para a Rita, como se me quisesse meter ciúmes. Às vezes referia-se a mim na terceira pessoa, do género "o seu amigo isto ou aquilo". Eram sempre coisas simples e agradáveis, que apanhava das nossas conversas e que faziam a Rita sorrir. 

Depois a minha amiga fez um ligeiro esboço biográfico do homem bem vestido que eu apenas sabia que gostava de ler o "Público", no começo da manhã. 

Publicitário e poeta como o grande O'Neill (trabalhou com ele no começo...), deixava viúva uma professora e também duas filhas e um neto, que nunca conhecera. Uma vez ele ofereceu-lhe um livro, com uma dedicatória deliciosa...

Não falámos da sua aparente ambivalência sexual. Não era necessário.

Foi quando a Rita disse: «Falamos tantas vezes de coisas que não sabemos. Quase sempre, estupidamente.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)