Penso que só neste dia, quando se "contaram as armas", é que a possibilidade de uma "Guerra Civil" deixou de ser uma ameaça séria. É preciso recordar que tinham sido distribuídas milhares de armas aos partidos políticos, tanto do lado mais esquerdo como do lado mais direito do MFA e que o país estava "partido" ao meio (o Tejo era a fronteira)...
Carlos Guilherme foi dos meus melhores amigos nos últimos vinte anos. Era "Capitão de Abril" e fez parte das operações do 25 de Novembro de 1975. Tivemos muitas conversas sobre algumas datas importantes, como foram o 16 de Março de 1974 (eu tinha um interesse particular por ser de Caldas da Rainha...), o 11 de Março de 1975, e claro, o 25 de Novembro.
Tão boas como as nossas conversas foram os almoços para os quais ele me convidou, na Associação 25 de Abril, onde depois do repasto havia sempre uma palestra com um dos vários intervenientes deste período decisivo para Portugal. Eram sempre contados vários episódios importantes, bastante esclarecedores sobre alguns erros históricos e uma ou outra "mitologia", distante da realidade. Recordo as intervenções de Torcato da Luz e de Almada Contreiras sobre estes acontecimentos (na época estavam no lado esquerdo do MFA...), tal como os contributos de outras camaradas presentes, como realce para Otelo ou Vasco Lourenço.
Todas as movimentações que se deram nestes dias de Novembro, foram sobretudo militares. Mesmo o PS, teve uma importância relativa. A "contagem de espingardas" deu-se entre os militares moderados e os revolucionários, com a vitória dos primeiros, que estavam em maioria e defendiam um regime democrático, com eleições livres, assim como a aprovação de uma nova Constituição, pela Assembleia Constituinte, eleita a 25 de Abril de 1975.
O curioso, é que quem quer fazer, hoje, deste dia uma festa, em 1975 caminhava em sentido contrário. É preciso dizer que as famílias políticas mais conservadoras, que agora agarram o 25 de Novembro com as duas mãos (como é o caso do CDS e da IL) tinham fugido para Espanha e para o Brasil. Ou então andavam entretidas a incendiar sedes comunistas no Norte do País e a realizar atentados bombistas, que fizeram várias vítimas mortais (o Padre Max é a mais conhecida...).
Estavam longe de lutar pela democracia, queriam sim, o regresso da ditadura e do sistema social desigual, que lhes tinham roubado e de que tanto gostavam, pois fazia-os sentirem-se "reis" e "rainhas" num país, que ainda era "para menos pessoas" que na actualidade...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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