quarta-feira, julho 10, 2024

"Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas"


Nestas férias voltei a Maria Judite de Carvalho e às suas "Palavras Poupadas" (prémio Camilo Castelo Branco).

Como de costume foi um prazer. É por isso que transcrevo um bocado de um parágrafo do conto "Uma História de Amor":

«Descia do eléctrico e tinha de fazer um pedaço de caminho a pé. Encurtava-o passando pela minha antiga rua. Divertia-me, mas a maior parte das vezes, perturbava-me ver à mesma porta, à mesma janela ou a sair da mesma loja as pessoas que há dez anos eu ali havia deixado. Dir-se-ia que só tinha corrido dentro do tempo, e que ele era para outras pessoas uma entidade estática. Um dia entrei por simples curiosidade, a fim de me documentar, na tabacaria da esquina e vi que o dono da loja conversava com o mesmo homem de um dia qualquer dos meus verdes anos, sobre um desafio de futebol que talvez não fosse o mesmo da outra vez, mas que não era com certeza muito diferente. Era como se as pessoas não tivessem crescido ou como se o tempo se tivesse esquecido delas.»

Acho que isto só não aconteceu (ou algo parecido), a quem nunca mudou de casa e de rua...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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