quarta-feira, setembro 20, 2023

As pessoas que nos aparecem nas paragens de autocarros...


Estava numa daquelas paragens em que passa um autocarro por hora, quando se aproximou um homem que vinha agarrado a um cigarro. Ficou a dois três metros de mim, mantendo a "distância humana" que nos ficou da pandemia.

Também estava ao lado da paragem, onde o respectivo banco estava ocupado por três mulheres maduras que conversavam, provavelmente sobre os nadas da nossas vidas. Também mantive a tal distância. 

Sei que quando cheguei disse bom dia e que ninguém respondeu ao cumprimento. E aquele subúrbio até tinha qualquer coisa de aldeia... Talvez não tivesse um bom ar (não me apeteceu fazer a barba nessa manhã...). 

Nada de preocupante. Sabia que as pessoas nunca economizaram tanto as palavras como hoje...

Entretanto o cheiro do cigarro foi-se aproximando e não foi a melhor coisa do mundo, provavelmente por falta de hábito. Foi quando me lembrei da primeira "tertúlia" a que pertenci em Almada, do Victor, que fumava muito, mas que não me incomodava nada como fumador. Era como se ele engolisse todo aquele fumo que se torna desagradável e só nos deixasse aquele cheiro, que a par do café, eram "perfumes" destas casas onde as pessoas se encontravam para conversar...

(Na semana passada também me lembrei do Victor, porque ele deixou-nos vitima da mesma doença da Natália Correia. Deixou de fumar de repente e o organismo não aguentou a falta daquele fumo que lhe pintara os pulmões de negro... Ou então foi um problema psicológico, a falta daquele "amigo" de todas as horas, que o ajudava a descontrair e a enfrentar o mundo... Tal como poderá ter acontecido com a Natália...).

E entretanto chegou o autocarro...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


4 comentários:

  1. A indiferença diária. Nem a tragédia anunciada no cartaz as esporeava.A imagem do desespero de Fedra. Quem seria Hipólito? Ou aquele senhor negro Rogério de Carvalho encenando há cinquenta anos em Almada,na Escola Emídio Navarro. Tragédias actuais,quase diárias.

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    1. Espero que na província as coisas continuem diferentes, se fale mais com a voz que com os dedos, José...

      (Ainda hoje vi o Rogério no café...)

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    2. Na província não sei. Aqui a província sou eu mesmo.Falei brevemente com o encenador haverá cinquenta anos,acabara de me/nos apresentar um amigo comum,à mesa do Central.Já conhecia o trabalho,a dedicação e exigência dele mesmo com os alunos.
      Reparei no reclamo da paragem que assim continua.Só alguém assim exigente se lembraria de apresentar uma tragédia da Grécia Clássica como se de agora o fosse.
      E são,basta ler as notícias diárias.
      Um ou dois anos depois saí definitivamente dessa cidade,ciclo fechado até hoje. Irreversível.Sem mágoas nem saudades.
      Correspondem-me sempre afavelmente ao cumprimento diário as negras,menos os branquelas como eu.
      Cumps.
      josé

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    3. A vida é isso, José. :)

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