terça-feira, abril 07, 2020

Livros, Memórias e Livreiros...


Embora não tenha nada a ver com a situação que se vive actualmente, achei curiosas as palavras de Santos Fernando, no seu livro "Sexo 20" (a primeira edição é de 1975), que também é de memórias, sobre a relação que a PIDE tinha com a literatura, e também sobre a "habilidade" e "capacidade de adaptação" dos livreiros a esses tempos... 

Transcrevo as suas palavras com a devida vénia:

«Lembro-me, numa manhã de Dezembro, ter visto entrarem na "Ler" dois burjessos que, munidos de autos de apreensão do modelo 325, por determinação superior, segundo constava do auto em papel almaço azul (da cor dos descobrimentos marítimos) caçaram dois meses depois da abertura da caça, 125 exemplares de "Sobre a Emancipação da Mulher", da autoria de Engels, Lenine e A. Kollantai, e alguns exemplares de "Pessoas Livres", do padre José Felicidade Alves.»

«Os livreiros aprenderam os seus truques, passaram a fazer o seu bom negócio com o fruto proibido, vendendo não só a maçã do pecado, como ainda o Adão, a Eva e a serpente, por baixo do balcão e às escondidas.»

«Os livros proibidos escondiam-se nos sítios mais incríveis e inacessíveis. Algumas vezes uma obra de Neruda ou de Fidel Castro era embrulhada com o rótulo exterior de "Discursos de Marcelo Caetano".»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

2 comentários:

  1. Habilidades dos tempos fascistas. Cada dia era um massacre vivido por gente simples e honesta às mãos dos canalhas bem vestidos. O meu pai, pobre trabalhador do campo, sofreu horrores às mãos dos PIDES. Malditos sejam sempre.

    Abraço

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    1. A repressão é terrível em qualquer lugar, Ricardo.

      A PIDE e a censura cometeram crimes durante quase 50 anos, prejudicando milhões de pessoas...

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