quinta-feira, abril 09, 2020

Uma Páscoa sem Andorinhas, Oliveiras e Procissão...


Há praticamente duas décadas que íamos passar a Páscoa à Beira Baixa. Tornou-se mais que uma tradição...

Se a razão "maior" era abrir a casa de família, que por lá está fechada o ano inteiro, as "menores" não lhe ficavam atrás. Sim, acordar com o chilrear das imensas aves de pequeno porte, que animavam os campos, com destaque para as andorinhas que todos os anos faziam ninho na varanda do primeiro andar; espreitar à janela e ficar encantado, porque a única coisa que se vêem são campos floridos cheios de oliveiras, que se perdem no horizonte; ou entrar dentro da noite com um céu completamente estrelado, são coisas inesquecíveis para quem vive na cidade...

E depois, na sexta-feira santa, ainda tínhamos a "procissão cantada", que costumávamos apanhar a meio caminho, onde era possível ver a "Verónica", a subir um banco e a estender o pano com o rosto de Cristo, num grito quase cantado. Procissão que dava a volta pela Aldeia e era digna de se ver...

Este ano a nossa Páscoa, será diferente, assim como a de milhões de pessoas, por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Alcafozes)

4 comentários:

  1. Sammy, o paquete09/04/20, 17:55

    O Carlos Pinhão nasceu na Rua do Grilo, ali a Marvila.
    Contava a história de quando ia a Marvila, apanhava um táxi de regresso e dizia ao motorista: «Para Lisboa». Em Lisboa estamos nós, dizia o motorista. «Claro, desculpe, é o hábito: nós aqui dizíamos sempre: vamos a Lisboa. Lisboa era então muito longe. O Beato era a nossa aldeia.»
    Nasci em Lisboa, alto da Penha de França.
    De como não ter terra pode ser assim um gesto melancólico que se transporta agarrado à pele.
    Abril de 2011, segunda feira de Pascoela.
    Terá sido o primeiro texto que guardei deste Largo:
    «Volto de novo à terra, Doiro acima de comboio, a carreira à minha espera no largo da estação, para me levar até ao planalto, a fiel carreira da Meda que, às dezasseis e trinta, me deixará nos Pereiros.
    À chegada será Primavera clara ou quase e eu seria capaz de reconhece-la em qualquer parte do Mundo, pelo perfume das amendoeiras em flor, pelo chilrear dos pássaros, pelo zumbido das abelhas, pelo cheiro a terra lavrada, pela simbiose perfeita entre estes cheiros, sons e cores.».
    Um texto lindíssimo, mas só quem não tem terra, o percebe muito claramente...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é, mas eu tenho "várias terras", Sammy.

      Sou de Caldas da Rainha, vim para a Capital aos 18 anos (para Cruz Quebrada) e escolhi Almada para viver (já lá vão 33 anos...). E o meu pai era da Beira-Baixa, assim como os meus sogros...

      (e eu sem sonhar que o Sammy conhecia o "Largo", pois só alguns anos depois é que descobri o "Cais do Olhar", mas a blogosfera é isso, um mundo sempre aberto à descoberta...)

      Feliz Páscoa.

      Eliminar
  2. É verdade, está a ser uma Páscoa diferente para milhões de pessoas por todo o mundo!
    Eu acredito que para quem vive na cidade e estava habituado a ir para o campo ou para onde há mais natureza esteja a estranhar mais!
    Mas agora o mais importante é termos saúde, paz e amor junto daqueles que nos é permito estar!

    Boa Páscoa para si, a sua mulher e filha!
    Abraço

    ResponderEliminar