segunda-feira, abril 20, 2020

A (não) Valorização das Palavras Escritas...


Se o jornalismo, como profissão, nunca foi muito valorizado no nosso país (já foi sim, moda... mas era mais o televisivo, antes de alimentarem essa coisa deliciosa que é a "fama instantânea", em que o único talento que se exige é estar à vontade à frente das câmaras e ter lata para "aparecer" em todos os momentos), nem sei que dizer da literatura...

Ser escritor no nosso país, sempre foi tudo, menos uma profissão. A principal razão para que isso acontecesse (e continue a acontecer...), é o facto de sermos um país pequeno e com poucos leitores. Ou seja, com muito pouco "espaço" para gente que se queira dedicar à literatura a tempo inteiro.

Mesmo nos nossos dias, devem contar-se pelos dedos de uma mão, os escritores que não fazem mais nada, a não ser escrever livros. Sei que há alguns que "fingem" ser profissionais, mas vêem-se forçados a escrever crónicas todas as semanas, para jornais e revistas, para ganharem uns trocos suficientes para a "sopa".

Penso que a grande culpa é dos escritores com outras ocupações (quase todos...). Como não dependem economicamente dos livros que escrevem, têm dificuldades em encarar a literatura como profissão, é por isso que visitam escolas, sem cobrar um cêntimo, mesmo que além do tempo que oferecem, finjam esquecer os trocos gastos em transportes ou alimentação.

Embora quem os convide, também nunca está à espera que peçam "cachet"...

Sei que a profissão de escritor não  tem a "urgência" de um canalizador, eletricista, mecânico ou pedreiro, mas podia (e devia), merecer um outro olhar da sociedade.

Da mesma sociedade que é capaz de pagar aos tais "famosos", que não têm nada que os distinga socialmente - a não ser aparecerem na televisão e nas revistas -, pelas suas ditas "aparições"...

(Fotografia de Luís Eme - Óbidos)

5 comentários:

  1. Luís, na tua opinião escreve-se 'melhor' se se for profissional da escrita?

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    1. Penso que sim, Isabel. Como acontece com qualquer profissão, quanto maior for a dedicação, maiores (e melhores) serão os frutos.

      A literatura (especialmente o romance) exige um recolhimento muito grande, a necessidade de te isolares para escrever e por algum tempo, só existires tu, as personagens e a história do teu livro...

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    2. Mas eu não estava a falar da "profissionalização", nesse campo, Isabel. Estava a falar da não valorização da actividade literária, feita pelos outros.

      Existiram muitos escritores com segundas profissões, que sentiam que a sua principal era a escrita. Mas eram embaixadores, jornalistas, médicos, professores, num tempo em que tinham quase "todo o tempo do mundo" para escrever e para se isolarem do "mundo"...

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  2. Lê-se muito pouco em Portugal. Pelo Natal fui de comboio para o Algarve. A meio da viagem fui ao WC e para tal atravessei toda a carruagem nº 5 do Alfa. Tudo a mexericar nos telemóveis, não vi uma única pessoa a ler.
    Abraço e uma boa semana

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    1. E a tendência é para piorar, Elvira.

      O paradigma da leitura está em mudança...

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