Com os meus mais de cinquenta anos de idade, já vivi algumas coisas e observei outras mais, com as pessoas que vivem à minha volta, quer num círculo mais reduzido, quer num círculo mais largo.
É por isso que digo que somos preconceituosos, em relação a tudo o que é diferente de nós. Desde a opção sexual, à escolha religiosa, passando pela cor da pele... e por vezes, até com os nossos gostos políticos e desportivos...
É uma coisa histórica, sim. Há pequenas coisas que vêem de geração em geração. Ultimamente tenho-me lembrado bastante de que na infância, sempre que eu, o meu irmão, um primo ou um amigo se portava mal, uma das primeiras palavras que escutava em família ou na vizinhança, era "judeu". Palavra que comecei logo por interiorizar que era sinónimo de pessoa má...
Em relação à cor de pele, não senti tanto a "diferença", através de palavras. Provavelmente por viver numa cidade de província, em que os poucos negros que por lá viviam estavam integrados, normalmente jogavam bem futebol (uma das boas heranças sociais deixadas por um Espírito Santo, um Matateu, um Coluna e um Eusébio...). Ou seja, não existiam "guettos". E a palavra "preto" não tinha a carga negativa que mais tarde percebi ter...
Em relação à homossexualidade, havia um silêncio quase ensurdecedor, não era tema de conversa en casa, até por não existirem casos familiares conhecidos. No exterior, sim, os poucos assumidos que andavam pelas ruas (dois ou três), eram alvo de todo o género de piadas de mau gosto, e de muita risada.
É por isso que me faz confusão que colem aos portugueses o "selo" de não racistas, quando temos um historial tão feio, atrás de nós. E não é preciso ir aos tempos da escravatura, basta buscarmos exemplos ao nosso "império colonial", ainda tão próximo...
É por todas estas coisas, que não gosto nada desta mania que temos, de mostrar que somos umas "pessoas porreiras", escondendo, tantas vezes, o que na realidade sentimos e pensamos.
(Fotografia de Luís Eme)
Somos sim, Luís. Ninguém gosta de mostrar as suas feridas sejam elas causadas por outrem, ou pela nossa própria ignorância ou maldade. Somos racistas, homofóbicos e preconceituosos.
ResponderEliminarA maioria das pessoas que conheço dizem que não são racistas, mas se um filho ou filha começa arranja um companheiro negro,cai o Carmo e a Trindade. O meu cunhado, não podia ver um jovem tatuado, que era logo drogado. A minha sobrinha que foi sempre boa miúda, excelente estudante, gosta de tatuagens. Adulta, já formada, casada com um dos nossos mais conceituados arqueólogos, começou a fazer tatuagens. Por enquanto num ombro e num braço.
Agora quando ele diz que um jovem tatuado é um drogado, a minha irmã diz-lhe logo.
"Então a tua filha também é uma drogada" E ele responde "A Carla é outra coisa"
Ou seja, o mesmo peso, duas medidas.
Abraço e boa sexta-feira 13