segunda-feira, maio 23, 2016

A História da Educação e dos "Empresários de Sucesso" no Nosso País


A história dos "contratos de associação" feitos entre o Estado e os colégios privados, acaba por ser idêntica a tantas outras que se viveram nos últimos duzentos anos do nosso país (para não recuar mais no tempo...), de gente que só conseguiu alimentar os seus negócios à sombra de um Estado monopolista e  proteccionista.

É por isso que os argumentos de alguns empresários são bafientos e nada mudaram. A sua falsa "superioridade moral" até podia caber nos governos antes de 1974, ou nos mais recentes, de triste memória, de Passos Coelho e de Sócrates. Mas felizmente estamos num outro tempo. A única novidade que nos surge, é a tentativa de se transformarem em "sindicalistas" - essa classe que tanto abominam -, utilizando professores, pais e alunos (as vitimas de todo este processo...) para defenderem o indefensável, vestidos de amarelo.

Se fizermos uma análise honesta à história de vida de uma boa parte daqueles que se auto-intitulam "empresários de sucesso" em Portugal, percebemos que sem Estado (muitas vezes de forma ruinosa para todos nós...), eles não seriam nada. Os negócios da banca e as parcerias público-privadas das construções de hospitais e auto-estradas, são o melhor exemplo de quem se serve do Estado, sempre que pode, para ganhar dinheiro e não para contribuir para o bem público. Com a educação privada as coisas não diferem  muito.

Claro que não coloco em causa instituições com mais de cinquenta anos que foram fundamentais para o ensino em lugares onde a rede de escolas públicas era deficitária. Coloco em causa sim a maior parte dos estabelecimentos de ensino (especialmente universidades, com os resultados que todos conhecemos, dos Relvas e dos Sócrates doutores e engenheiros...) que nasceram nos últimos vinte anos, sempre à sombra do poder e dos interesses particulares da gente ligada aos partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS).

Até posso dar dois exemplos, da Cidade onde vivo e da onde cresci. O Externato Frei Luís de Sousa de Almada, que surgiu em 1956, antes de qualquer Liceu ou Escola Técnica do Estado, continua a ser exemplar, reconhecido por todos pela qualidade do seu ensino. O Colégio Rainha D. Leonor das Caldas da Rainha foi construído apenas há dez anos no bairro da minha meninice, onde já existia a Escola Secundária Raul Proença, sem que existisse qualquer necessidade educativa. Nasceu sobretudo como um bom negócio. 

(Fotografia de Robert Doisneau)

10 comentários:

  1. Subscrevo. Este tema já mete nojo e os jornais e as televisões não se calam! Nem o PSD, claro!...

    Beijinho.

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    1. Como de costume, há demasiada "intoxicação", Graça.

      São muitos os interesses instalados...

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  2. ~~~
    Tem toda a razão.

    Faltou acrescentar que os professores - não convidados
    - para não caírem no desemprego são explorados ao máximo.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Exactamente, Majo, trabalham mais horas e ganham menos que os professores do sector público.

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  3. Absolutamente de acordo. Indecente as campanhas da imprensa e do PSD; especialmente a juventude desse partido. Se a JSD é a alternativa de governação daqui por uns anos, o futuro dos nossos filhos e netos, não será nada de invejável.
    Um abraço e uma boa semana

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  4. Luís, não conheço ao pormenor os problemas que referiste, mas pela argumentação concordo na generalidade.

    O que me parece estar mais na ordem do dia, e por isso se tem discutido mais, é a questão dos colégios privados.
    No ginásio tenho ouvido bastante porque é frequentado por um número significativo de professores.

    Em prol da igualdade de oportunidades é evidente que o Estado deve proporcionar as melhores condições de ensino/aprendizagem, sem haver necessidade de recorrer ao privado, o que só acontece por parte de quem pode pagar. E, portanto, nos sítios em que, em quantidade são bem cobertos pela rede pública, O Estado não deveria injectar dinheiro no privado. (Apenas em casos muito circunscritos em que tal não acontece.) E essa injecção de dinheiro deveria ser canalizada para beneficiação da rede pública.

    Se tem havido uma aposta satisfatória no ensino público? Não, em muitos casos. O que leva a que alguns pais, os que podem pagar, optem pelo privado. E a desigualdade a crescer.

    Há um tempo li um trabalho, que já não consigo situar, que referenciava que os alunos vindos do privado ao ingressarem na universidade tinham melhores resultados, mas que ao fim de pouco tempo tal diferença era esbatida.

    Portanto, limitei-me a referir alguns aspectos avulso, pois não tenho bases suficientes para discutir o assunto em profundidade.

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    1. Mas o que está em causa é o aproveitamento de alguns colégios, que estão longe de fazer serviço público, Isabel.

      Muitos deles estão proibidos de fazer selecção de alunos, mas arranjam sempre artimanhas para escolherem quem querem...

      Depende dos colégios. Claro que os colégios com cinquenta anos e mais, são reconhecidos pela excelência de ensino. Mas há outros recentes, só conseguem melhores notas graças ao "facilitismo". E nestes casos, os alunos acabam por serem prejudicados quando entram na universidade (conheço casos concretos...).

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  5. Ah, esqueci-me de dizer que reconheci logo a foto do Doisneau... Gosto imenso desta imagem!

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    1. Eu também, Isabel. :)

      Já a publiquei aqui mais que uma vez.

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