Recebi há cerca de uma semana um livro, enviado por correio pelo autor, José do Carmo Francisco, um amigo poeta e jornalista do Oeste.
Quando recebi esta encomenda estranhei o tamanho pouco habitual da biografia, "Vitor Damas, a Baliza de Prata" (14 x 10,5 cm), editada por "Gato do Bosque, Editores".
Depois de começar a ler a obra, não só me fui identificando com o seu conteúdo, como fui achando graça ao formato (este sim, é um autêntico livro de bolso, este cabe mesmo nos bolsos do casaco ou até das calças...), por o levar para vários sítios, com uma facilidade e ligeireza pouco habituais.
A pouco mais do meio do livro sou surpreendido pela transcrição de uma entrevista que realizei ao Vitor Damas, não como o extraordinário guarda-redes do Sporting, mas sim como treinador do Atlético Clube de Portugal, do bairro de Alcântara.
Ainda hoje recordo a afabalidade com que fui recebido pelo Damas, a maneira simples e honesta como conversámos, dentro e fora da entrevista. Entrevistei muito mais gente do futebol (jogadores e treinadores...). mas as únicas entrevistas que me ficaram na memória, pela forma aberta como conversámos, foram as do Vitor Damas, do Quinito e do Jaime Graça (esta entrevista teve ainda outro aspecto curioso, foi a única que realizei para o "Record" na minha Cidade Natal, ele era ao tempo treinador do velho Caldas).
Em relação ao livro, é uma biografia positiva, muito bem escrita, que se alimenta de transcrições de jornais e também da memória de muitos dos companheiros do antigo guarda-redes do Sporting, que recordam a pessoa simples, tímida e amiga, mas também o extraordinário guardião, ágil como um felino, com uma grande colecção de "defesas impossíveis" no seu palmarés. E além disso tinha uma figura elegante, era alto e esguio, e possuía uma característica pouco habitual nesses tempos: era capaz de jogar com a bola nos pés, como qualquer jogador de campo.
Apesar de ser benfiquista, sempre gostei do Damas, pelas suas qualidades invulgares como guardião e pela sua presença na baliza - era dos poucos que conseguia impor respeito aos adversários, apenas com o seu sentido posicional e a sua personalidade - e também pela sua aparente rebeldia e vontade própria (era tudo menos uma "maria vai com as outras"...).
Esta é uma daquelas prendas que não se esquecem, vinda de um bom amigo, que me fez pensar, mais uma vez, que os livros nunca se mediram aos palmos.