quinta-feira, abril 14, 2016

«Não te cansas das pessoas?»


Há muito tempo que não ficávamos sós, mesmo que fosse por apenas cinco minutos.

Talvez tenha sido por isso que a Rita me perguntou: «Nunca te cansas das pessoas?»

«Claro que canso. Já me conheces um bocado e sabes que estou longe de ser um desses humanos adocicados, que só despertam bons sentimentos nos outros.»

Ela sorriu antes de replicar: «Isso existe?»

Também lhe ofereci um sorriso antes de lhe responder: «Claro que existe, então na santa terrinha da hipocrisia, são aos molhos.»

Foi então que ela foi directo ao assunto: «Há uma gaja da contabilidade que me anda a querer tirar do sério.»

«Talvez precise de um abre olhos ou um abanão.» Respondi eu, como se fosse muito entendido nos conflitos femininos.

«Isso não resulta muito com os sonsos, Luís. Temos de usar um tratamento mais refinado.»

Concordei com ela: «Tens razão, essa gente é capaz de passar a vida toda a fingir que está certa e tem razão. Nunca partem pratos e tentam sempre sacudir a água do capote para cima dos outros.» 

Quando já se avistavam dois companheiros que também queriam conversa a Rita concluiu: «Se usasse a palavra Deus no meu vocabulário, dizia agora: Deus nos livre desta gente que  come hóstias e já comprou um terreno no céu.»

Felizmente o Carlos Alberto trouxe uma mão cheia de banalidades e até uma anedota sobre os meninos e as meninas que aprendem a ser grandes no Colégio Militar.

(Fotografia de autor desconhecido)

8 comentários:

  1. Sempre interessantes as opiniões da Rita.
    Abraço

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  2. Com o tempo aprende-se a evitar quem nos cansa :)

    Beijinhos

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    1. É verdade, Glória.

      É também por isso que existem passeios nos dois lados da rua e até montras capazes de nos distraírem. :)

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  3. como eu entendo a Rita...

    :(

    mais um belo texto!

    beijinho

    :)

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    1. Há pessoas que gostam de transformar a vida num coisa ainda pior do que ela já é, Piedade.:)

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  4. Luís, assim em abstracto eu não me canso das pessoas e gosto muito de gente, mas há pessoas que me cansam muito. Neste caso, quando posso prescindir delas e não há os mínimos de empatia, faço-as desaparecer da minha vida. Quando sou obrigada, por exemplo por razões profissionais, o contacto fica reduzido ao estritamente necessário.
    Excessivo investimento, "chover no molhado" como se costuma dizer, desgasta e não é salutar para ambas as partes.

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    1. Todos os que temos dois dedos de testa, fazemos isso, Isabel.

      Eu consigo mesmo esquecer a existência de algumas pessoas. :)

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