É um pouco estranho ver alguém que já andou por aí a cantar nos palcos, passar anonimamente junto das pessoas, sem precisar de se esconder atrás de uns óculos escuros.
Entrámos numa das carruagens do metro e ninguém nos olhou de uma forma insistente ou arrastada. Algo sem preço, pelo menos para alguém que tenha tido a oportunidade de experimentar o pior lado da fama, sem se "viciar"...
A primeira vez que nos encontrámos fui durante uma reportagem jornalística. Embora ela fosse a voz da banda, abriu a boca linda apenas para sorrir e nunca para falar.
Na altura não percebi, mas eram essas as regras, ela fora contratada apenas para cantar e devia limitar-se a fazer só esse papel.
Esta aventura durou menos de meia dúzia de anos. Até acabar o curso e poder dizer até nunca mais, aos rapazes que sempre a trataram de uma forma estranha, provavelmente por gostarem de outros rapazes...
O começo do fim aconteceu durante um concerto em que o líder da banda lhe deu um estalo nos bastidores, por ela insistir em cantar e dançar no palco. Só a tinham contratado para cantar e ela no calor da música esqueceu-se... Hoje sorri, mas na altura não achou piada nenhuma e só voltou ao palco porque o baterista, o único fulano normal da banda a conseguiu acalmar com um abraço e com meia dúzia de palavras, que ainda recorda: «És maravilhosa, anda. Sem ti não somos nada.»
Continua a sorrir quando anda para trás, sabe que foi uma fase, um episódio bom enquanto durou. Felizmente nunca a deixaram ser "vedeta" ou brilhar para lá dos palcos, o único lugar onde recebia o foco principal das luzes. Só desta forma foi possível ser psicóloga, sem passar o tempo a olhar para o passado a pensar que podia ter sido isto ou aquilo.
Embora perceba, até pela sua profissão, a quase multidão de jovens que quererem ser famosos, apenas por causa do tal minuto especial, sente-se feliz por nunca ter sentido isso, para lá do palco.
Somos todos diferentes e todos iguais. Por ela, aquele vestido amarelo com flores, ficará eternamente na montra...
(Fotografia de Georges Dambier)
Um texto muito bom, que nos mostra o outro lado do que é a vida nos palcos.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
As roseiras também têm espinhos, Elvira...
EliminarInfelizmente, por aí há muitas histórias destas. Quase todos conhecemos um caso ou outro.
ResponderEliminarLuís, a 'habilidade', se assim se pode chamar à capacidade de ultrapassar a adversidade, passa muito por conseguir apanhar o bom no mau.
Gostei especialmente deste post. Palavras e foto a combinar muito bem.
Claro, Isabel, a melhor ou pior capacidade de adaptação a um "mundo-cão", que muitos pintam cor de rosa.
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ResponderEliminarNão sendo apreciadora de «Big Bands» - com exceção para a do Bruce Springsteen» - nunca reparei ou ouvi falar destes casos.
Uma narrativa impecável e eloquente.
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Há muitos casos desses, em Portugal e no Mundo, Majo.
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