quinta-feira, novembro 06, 2014

Às Vezes Amor com Amor se Paga


Ninguém gosta de justificar opções estranhas, embora existam situações em que não há nada para justificar.

Num filme ou numa peça de teatro o realizador ou o encenador escolhe as pessoas com quem quer trabalhar, não só pelo talento, mas também pelas afinidades que existem, pelo que já viveram juntos e pelo que conhecem um do outro.

Todos estranharam que o realizador fosse escolher um actor que estava quase esquecido, uns diziam  por vontade própria outros culpavam o mercado. Mas ele apenas vivia o drama do desemprego já de média duração, algo mais comum do que se poderia pensar. O produtor não achou piada à gracinha, até por já ter na sua cabeça dois ou três actores para aquele papel. Mas o realizador foi inflexível, jogou o tudo ou nada. E ganhou, pelo menos desta vez.

O filme acabou por correr bem e o actor voltou à ribalta (o que quer que isso seja...), voltou a ter trabalho, que era o mais importante em alturas em que a crise ultrapassa tudo, até o bom senso e a normalidade das coisas.

O realizador nunca justificou esta escolha, pelo menos nas revistas. Mas quem o conhecia sabia que era um gajo antigo, daqueles que têm orgulho em ter memória. E nunca esqueceu, que dez anos antes, quando quase não tinha dinheiro para pagar a actores para um dos seus filmes, aquele rapaz aceitou trabalhar com ele, recebendo como pagamento pouco mais que umas sandes e o quarto da residencial, partilhado, durante mais de um mês. 

Ele sabia bem que era nas dificuldades que se conheciam as pessoas...

E se havia coisa que se orgulhava de ser, era um bem agradecido. Quem lhe fazia bem, sabia que podia contar sempre com ele.

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