Ninguém gosta de justificar opções estranhas, embora existam situações em que não há nada para justificar.
Num filme ou numa peça de teatro o realizador ou o encenador escolhe as pessoas com quem quer trabalhar, não só pelo talento, mas também pelas afinidades que existem, pelo que já viveram juntos e pelo que conhecem um do outro.
Todos estranharam que o realizador fosse escolher um actor que estava quase esquecido, uns diziam por vontade própria outros culpavam o mercado. Mas ele apenas vivia o drama do desemprego já de média duração, algo mais comum do que se poderia pensar. O produtor não achou piada à gracinha, até por já ter na sua cabeça dois ou três actores para aquele papel. Mas o realizador foi inflexível, jogou o tudo ou nada. E ganhou, pelo menos desta vez.
O filme acabou por correr bem e o actor voltou à ribalta (o que quer que isso seja...), voltou a ter trabalho, que era o mais importante em alturas em que a crise ultrapassa tudo, até o bom senso e a normalidade das coisas.
O realizador nunca justificou esta escolha, pelo menos nas revistas. Mas quem o conhecia sabia que era um gajo antigo, daqueles que têm orgulho em ter memória. E nunca esqueceu, que dez anos antes, quando quase não tinha dinheiro para pagar a actores para um dos seus filmes, aquele rapaz aceitou trabalhar com ele, recebendo como pagamento pouco mais que umas sandes e o quarto da residencial, partilhado, durante mais de um mês.
Ele sabia bem que era nas dificuldades que se conheciam as pessoas...
E se havia coisa que se orgulhava de ser, era um bem agradecido. Quem lhe fazia bem, sabia que podia contar sempre com ele.
[o som das noites sem dormir ecoaram no lugar certo....]
ResponderEliminarbeij0
fixe, Margot. :)
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