domingo, fevereiro 11, 2007

Primeiros Tempos em Lisboa


Os meus primeiros tempos de Lisboa não foram fáceis. Acho que nunca são, para quase ninguém...
Quem chega da província sente um choque grande porque descobre pessoas diferentes, e sobretudo, um novo ritmo de vida. É como se de repente as horas passassem a ter menos minutos, porque tudo se passa mais rapidamente.
O facto de Lisboa ser uma cidade de gente solitária, apesar dos milhões que vivem à sua volta, faz com que também seja mais difícil fazer amigos que noutra cidade qualquer...
Tinha acabado de fazer dezoito anos, uma idade complicada, em que já não somos adolescentes, mas também ainda não somos adultos, na plenitude, apesar de já podermos votar...
Estas primeiras dificuldades foram ultrapassadas, por ter sido acolhido como um filho, pelos primos Zé e Elisete... que também passaram a viver uma experiência nova, já que não tinham filhos, e também por ter continuado a fazer atletismo, no Belenenses, onde aí sim, foi possível fazer novos amigos. Não fosse o desporto uma grande "escola de virtudes"...
Fui trabalhar como aprendiz de offset, nas artes gráficas da então EPNC (Empresa Pública Notícias e Capital), à qual estavam associados o “Diário de Notícias” e “A Capital”.
Foi aqui que tive o primeiro contacto com os “pintas” da Capital, que se julgam sempre mais espertos que quem chega de fora (e realmente esperteza é coisa que não lhes falta, embora seja quase sempre uma forma de se defenderem...) e estão sempre prontos a esticar a perna, para nos verem no chão.
Caí algumas vezes, mas levantei-me sempre pelo próprio pé, sem parar de os olhar de frente...
De uma forma quase inconsciente estava a defender-me, com a melhor arma que temos, o carácter...
Outra coisa curiosa, foi ter ido viver para a Cruz Quebrada, onde aprendi a olhar para o Tejo, Rio que nunca mais se afastou de mim...
Este texto está ilustrado com o belo óleo de Botelho, "Lisboa e o Tejo".

9 comentários:

  1. E Esta?

    Mas não dizem que os lisboetas são todos da provincia (claro que estou a brincar Luís)?

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  2. "De uma forma quase inconsciente estava a defender-me, com a melhor arma que temos, o carácter..."

    Esta a frase que te define, luís, e a que eu mais aprecio num ser humano...

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  3. Dizem...

    Mas há muita gente por aí, que a sua aldeia é Lisboa, Alice...

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  4. A minha experiência não se pode dizer que fosse má... eu apenas quis dar relevo aos "pintas", que estão sempre prontos para participar em qualquer "caldeirada".

    Dinis Machado com o seu extraordinário "O que Diz Molero", e até Mário Zambujal, com a sua "Crónica dos Bons Malandros" levantam muito bem o véu...

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  5. Também aqui, acho que os lisboetas são mais maleáveis, mesmo em termos de carácter, que quem vem da provincia, Maria...

    Isto acontece pelas próprias agruras da vida e pelo movimento quase giratório da "grande cidade"...

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  6. Apesar de ser "alfacinha", posso entender a nostalgia que sente quem teve de mudar de local para viver.
    Passei toda a juventude no Porto e é de lá que sinto saudades, de vez em quando.
    Aprendeste na escola da vida e essa é a única que fornece as defesas de que vamos precisando, ao longo dos anos.
    Aí se vê, realmente, quem tem carácter e quem o não tem.
    E não há melhor herança para se deixar a um filho.

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  7. Provavelmente dei uma impressão errada... nesta minha viagem para a Capital.

    No fim da adolescência queria muito escapar das Caldas, sentia-me a mais em todo aquele ambiente de "faz de conta", que se vivia na cidade. Onde as pessoas adoravam fingir que eram mais do que de facto eram (mentalidade pequeno-burguesa)...

    Já me tinha inscrito com voluntário para a Marinha, mas o convite do meu primo Zé (Felicidade Alves), para experimentar as artes gráficas, foi mais forte... os meus pais também ficaram descansados porque ia viver com "gente boa".

    A Marinha ficava para depois...

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  8. Foi bom ter voltado a este post, hoje.
    Tens toda a razão no que dizes sobre caldas, Luís, é esse o motivo por que não gosto muito de estar por lá muito tempo...
    É uma sociedade faz de conta, ainda...
    E eu não tenho nada a ver com aquilo...

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  9. Eu também sinto isso, Maria...

    Gosto muito da cidade e de alguns amigos que ficaram (além da família claro), mas penso que grande parte daquelas pessoas ainda devem fingir que fazem parte de algumas estórias copiadas de novelas, onde eu não entro, nem mesmo como actor secundário...

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