terça-feira, fevereiro 20, 2007

Lisboa dos Anos Oitenta (Conclusão)


Acabei o meu último texto sobre Lisboa, a falar da dispersão humana do centro da cidade, sem falar da principal tragédia, que transfigurou completamente a baixa lisboeta no final da década de oitenta.

Foi propositado. E como focou muito bem a Sininho, no seu comentário, o que mudou realmente o movimento e a vida na Baixa Lisboeta, foi o incêndio, que deflagrou no coração do Chiado, no Verão de 1988.

Recordo-me bem desse dia, porque estava a algumas centenas de quilómetros de distância. Estava acampado no Gerês com amigos. Quando ouvimos a notícia na rádio, ficámos de tal maneira chocados, que fomos à procura de um lugar com televisão, para vermos a verdadeira dimensão da tragédia, no jornal da tarde.

E foi mesmo uma verdadeira tragédia, porque além de toda a destruição provocada pelo incêndio, durante anos, as "ruínas do Chiado", não passaram disso mesmo...

A canção dos UHF, «Olha como é, a Rua do Carmo!», que homenageia as mulheres bonitas que subiam o Chiado, presas às montras, gingando as ancas... recorda memórias, que ainda não voltaram, completamente, àquela rua...

O único acontecimento equivalente a esta tragédia, foram todas as peripécias à volta do túnel do metro na Praça do Comércio, que deslocaram da Baixa milhares de pessoas que vinham da Margem Sul e tiveram de arranjar novas alternativas (metro do Cais Sodré e comboio da Ponte...), em relação aos transportes utilizados no seu dia a dia.

Mais uma vez, o coração da Baixa, viu-se privado de milhares de visitantes, diariamente...

O problema do túnel subsiste nos nossos dias, em mais uma obra digna de Santa Engrácia (e existem tantas, à boa maneira portuguesa...).

2 comentários:

  1. Eu sou um tanto pessimista, no que toca a certas coisas.
    Talvez o Chiado não tivesse, de facto, morrido, se as obras de reconstrução não tivessem demorado tanto.
    E isto das malfadadas obras do túnel do Terreiro do Paço, mais, ainda, do que as da estação do Rossio, palpita-me que foi um cancro aberto, cuja cura, se calhar, só com um grande milagre...
    Lamentàvelmente, parece que tudo acontece por desleixo, ou grande incompetência.

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  2. Não sei...

    Aliás o Chiado não morreu, é a única zona da baixa que continua a ter movimento, há sempre turistas, para cima e para baixo.

    Às vezes fico com a sensação que há mais estrangeiros que portugueses na baixa, porque eles descem, à procura de coisas com história, como o Tejo, que é de facto magnífico, olhado de qualquer lado ou ângulo, enquanto os portugueses têm mais coisas em que pensar e fazer...

    A única vantagem do decréscimo de pessoas é tornar mais fácil a circulação pela baixa e nos próprios transportes públicos, que não andam tão cheios.

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