Graças a dois amigos especiais, o Tozé e o Henrique, lisboetas de gema, percorri várias Lisboas, muitas vezes a passo, porque a cidade dos primeiros anos da década de oitenta era muito mais aberta e descontraída, praticamente sem focos de criminalidade violenta. A única coisa que tínhamos de ter cuidado, era com os muitos carteiristas que apareciam e desapareciam nas carruagens do metro e nos autocarros, nas horas de ponta.
Nessa época víamos muito cinema, nas salas grandes - ainda existia o Condes, o São Jorge e o Eden, que davam vida à Avenida da Liberdade – e nos pequenos estúdios espalhados pela cidade, como o Apolo 70, o Londres, o Castil ou o Nimas.
Também nos aventurávamos na noite (quase sempre às quintas), muito mais curta que nos nossos dias. Às quatro da manhã fechavam quase todos os bares e discotecas. Os únicos locais que permaneciam abertos estavam ligados a uma Lisboa mais marginal, onde acabam a noite prostitutas, proxenetas, homossexuais e gente da vida artística, que também conheci, muito superficialmente.
Voltando à Avenida da Liberdade, as esplanadas enchiam-se de gente de todas as idades, da Primavera até ao Outono.
Era uma cidade mais viva, mas também mais viciosa...
Próximo do Elevador da Glória passeavam prostitutas, sempre com o mesmo convite: «Queres vir para o quarto querido?», e claro com outras promessas, que de certeza, ficavam por cumprir... Os homossexuais também apareciam em todas as esquinas, com perseguições e olhares matadores, que tinham tanto de cómico como de ridículo.
Com o aparecimento do HIV, as prostitutas e os homossexuais quase que desapareceram das ruas da baixa.
Os outros lisboetas? Devem ter começado a dispersar, lentamente, frequentando outros lugares, primeiro as “Amoreiras”, depois o “Colombo” e mais tarde o “El Corte Inglês”...
Nessa época víamos muito cinema, nas salas grandes - ainda existia o Condes, o São Jorge e o Eden, que davam vida à Avenida da Liberdade – e nos pequenos estúdios espalhados pela cidade, como o Apolo 70, o Londres, o Castil ou o Nimas.
Também nos aventurávamos na noite (quase sempre às quintas), muito mais curta que nos nossos dias. Às quatro da manhã fechavam quase todos os bares e discotecas. Os únicos locais que permaneciam abertos estavam ligados a uma Lisboa mais marginal, onde acabam a noite prostitutas, proxenetas, homossexuais e gente da vida artística, que também conheci, muito superficialmente.
Voltando à Avenida da Liberdade, as esplanadas enchiam-se de gente de todas as idades, da Primavera até ao Outono.
Era uma cidade mais viva, mas também mais viciosa...
Próximo do Elevador da Glória passeavam prostitutas, sempre com o mesmo convite: «Queres vir para o quarto querido?», e claro com outras promessas, que de certeza, ficavam por cumprir... Os homossexuais também apareciam em todas as esquinas, com perseguições e olhares matadores, que tinham tanto de cómico como de ridículo.
Com o aparecimento do HIV, as prostitutas e os homossexuais quase que desapareceram das ruas da baixa.
Os outros lisboetas? Devem ter começado a dispersar, lentamente, frequentando outros lugares, primeiro as “Amoreiras”, depois o “Colombo” e mais tarde o “El Corte Inglês”...
Este texto está ilustrado com um óleo de Botelho sobre Lisboa, os "Restauradores".
Essa é uma grande verdade, jcfrancisco...
ResponderEliminarNos anos oitenta as minhas noites passavam-se entre o Largo da Misericórdia, o João Sebastião Bar e a Trindade...
Depois era apanhar o último combóio no Cais do Sodré, dormir a correr, tomar um duche e ir trabalhar...
Era muito agitado, mas tenho saudades.
BOm fim de semana
Não foram apenas estes aspectos que falas, que afastaram as pessoas de Lisboa.
ResponderEliminarSe quem quer comprar casa (ainda hoje é assim) tem de ir para fora da cidade, isso dá cabo do coração de qualquer cidade.
Quem manda quis transformar o centro da capital num espaço preferencialmente de serviços. Isso mais tarde ou mais cedo, paga-se.
Essa Lisboa ds anos sessenta devia ser tão diferente...
ResponderEliminarPara o bem e para o mal, Zé do Carmo.
Já não conheci essa Lisboa solidária, das lancheiras dos autocarros. Conheci a Lisboa da indiferença, ignorando os outros passageiros.
A agitação foi sempre crescendo, Maria.
ResponderEliminarOs lugares iam mudando, do bairro alto para a 24 de Julho, e posteriormente para as docas...
Há realmente outros problemas sociais, que vou focar numa outra crónica, Alice, que desertificaram o centro da cidade.
ResponderEliminarComo eu gostava do bulício da "Baixa", do Grandella, dos Armazéns do Chiado, dos cinemas, das pastelarias, de subir a Rua do Carmo e entrar nas sapatarias, nas discotecas (que eram lojas de venda de discos...),
ResponderEliminarde comprar tecidos a metro, quando havia quem os costurasse e até de ver os "sinaleiros" a orientar o trânsito...E dos cisnes, nos lagos da Avenida da Liberdade.
E de tudo isso e outras coisas, o que mais sinto é o desaparecimento de todas as grandes salas de cinema.
Para mim, a Baixa morreu com o incêndio do Chiado.