sábado, abril 02, 2022

"Uma Receita para o Desastre"


Lia-o quase sempre, embora raramente concordasse com o Vasco Pulido Valente escrevia nos vários jornais onde colaborou. Isso acontecia pelo seu pessimismo e também pela sua vontade de "nadar contra a corrente" (adorava ter um ponto de vista original, diferente de todos os outros, mesmo que não passasse de um disparate...).

Curiosamente "bati de frente" com um pequeno recorte de uma das suas colunas do "Diário de Notícias" (Faz de Conta), datada de 5 de Setembro de 1999. Ou seja, uma coisa ainda do século passado, onde ele "tem razão antes de tempo". Tem como título "Uma Receita para o Desastre" e explica um pouco o porquê da tentativa da invasão Russa e destruição da Ucrânia, que todos assistimos, diariamente. Vamos lá à transcrição:

«A entrada na NATO da Hungria, da Polónia e da República Checa e sobretudo o próximo alargamento da UE a leste transformarão fatalmente a Alemanha na potência hegemónica da "Europa do Meio" /definida, reconheço, sem grande rigor). De qualquer maneira, do Adriático às fronteira da Ucrânia, mandará Berlim. O objectivo histórico do II Reich e do nazismo ressurgiu assim sob os nossos olhos e, prodigiosa coisa, em nome dos direitos do homem. Só falta (mas já se fala nisso) que a Estónia, a Letónia e a Lituânia entrem na NATO - e a Rússia ficará "cercada". Claro que a Alemanha avançou, e avança, no vácuo deixado pelo abjecto fim da URSS e pela actual impotência de Moscovo. Sucede que esta situação não vai durara sempre e que, uma vez arrumada a casa, nenhum governo russo aceitará perder por completo a sua influência na "Europa do Meio". Os perigos da política expansionista (que hoje surpreendentemente ninguém contesta) são mais do que óbvios. Levam em linha recta a uma Rússia humilhada e revanchista, que ainda é a segunda potência militar do mundo e que deverá o "Ocidente" (a Alemanha e a América) como o seu inimigo principal. Uma receita para o desastre.»

Os russos só esperaram vinte e dois anos e alguns meses, para "responder" ao Ocidente e dar razão a Vasco Pulido Valente. E a Alemanha, por muito que disfarce, não está longe do "olho do furação".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


4 comentários:

  1. Ora nem mais! É mesmo isto!Isto é fazer análise política. Não é dizer baboseiras como leio em todo o lado!

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    1. Mas houve alguma "sorte" em acertar, vinte anos depois, Maria.

      Aconteceram muitas conjecturas negativas e inexplicáveis, para lhe darem razão...

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  2. No que ele acertou foi no facto de uma Rússia capitalista e com meios para se tornar numa potência económica se ter mantido como pasto de uma camarilha dirigente incapaz de medir o seu poder que não em domínio militar... quando a Alemanha trocara o domínio militar pelo domínio económico!

    Talvez agora tenha obtido que uma Alemanha armada que lhe limite ainda mais o poder.

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    1. Acho que ele demonstrou conhecer muito bem o povo russo, José.

      E também percebeu que a Europa ia "facilitar", até se chegar a este ponto.

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