quinta-feira, setembro 16, 2021

O Quase Normal não é o Normal... e "Telefona-me"...


Como antes da pandemia já andava ligeiramente afastado das coisas do associativismo e da cultura, mais de dois anos depois da pandemia, participei numa homenagem a um amigo e à apresentação de um opúsculo biográfico, escrito por outro amigo.

Por muito normal que queiramos que as coisas sejam, as máscaras e a redução da presença humana nos auditórios (aquele, segundo as novas regras da DGS, poderia e deveria levar mais pessoas, até por ser arejado) causaram-me mais estranheza do que estava à espera. 

A coisa melhor foi reencontrar pessoas que não via "há séculos" (pois é, parece que esta coisa já dura há tanto tempo...). Como acontece sempre, algumas são mais especiais que outras. Foi por isso que depois do lançamento eu e uma amiga saímos juntos e ficámos a conversar sentados no pequeno muro da Praça da Liberdade. E como não moramos muito longe um do outro fomos juntos até à Praça Gil Vicente (com obras e mais obras, cujo o objectivo principal é gastar dinheiro para que "fique quase tudo na mesma")...

Mas não foi apenas a conversa que foi boa, tinha também "dois presentes" da Clara (um ainda era do Natal passado...). Gostei particularmente do seu caderno "Ironias", onde ela mistura as suas palavras poéticas com imagens que recorta daqui e dali (um excelente exemplo de "poesia ilustrada"). É por isso que publico aqui o seu poema "Telefona-me", que tem tanto que ver com este tempo:

Telefona-me, não te esqueças
P'ra não nos sentirmos sós
Não quero mensagens nem emails
Quero ouvir a tua voz
Ouvindo a voz dos amigos
É totalmente diferente
Tudo o resto que inventaram
Não é bem cá para a gente
E aqui botei a sentença
"Que me andava a incomodar"
Estou achando impessoal
"As maneiras de falar"

Tantas pessoas de quem nos esquecemos de ir telefonando (eu esqueci-me tantas vezes, até de meter a conversa em dia com a Clara...), nestes tempos estranhos. Sim, todos temos amigos e familiares que vivem sozinhos, que precisam tanto de receber palavras com sabor a "mel"...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


6 comentários:

  1. Falo diariamente com familiares e amigos.
    Belo poema|!

    Abraço

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  2. Boa tarde
    Sei que este não é o lugar ideal para desabafar, mas como sinto falta de ouvir a voz de alguém que amo. Um simples telefonema e eu era o homem mais feliz do mundo.

    JR

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    Respostas
    1. A voz de quem gostamos pode ter esse efeito, ao mesmo tempo que encurta distâncias, Joaquim.

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