Há muito que não me apercebia, de uma forma tão nítida, o quanto era importante que o Benfica ganhasse, para o conforto, ainda que por apenas algumas horas, daquele "Vencido da Vida", que saiu de casa cedo, com o cachecol encarnado ao pescoço.
Conhecia-o de vista. Era pouco mais velho que eu e estava desempregado há tempo demais, ao ponto de não se lembrar de quando tinha tido um emprego certo. A sua vida era feita de biscates, fazia tudo para ganhar uns cobres, para o tabaco, para o tinto e para o Benfica, quando tinha mesmo de ser.
Este domingo era um desses dias. Nem sequer se assustou com a chuva matinal. Calçou as botas de borracha, certo que por ali não iria entrar água, assim como o seu impermeável. Não queria perder a oportunidade de se associar às assobiadelas monumentais que iriam oferecer ao Jesus no estádio, esse traidor. Pior que ele só o Cavaco. Mas como ele disse, hoje não era dia de se falar de política. Era dia de gritar pelo Glorioso.
Encostado ao balcão do café, disse ao empregado que nem se importava que o Benfica ganhasse só por um zero, mas iam ser pelo menos dois ou três, com o Jonas e o Mitroglou (nem se enganou ao dizer o nome do grego, sabia mais de português que o Jesus...) a trocarem os olhos aos defesas dos "lagartos".
Percebi o quanto ele precisava de se sentir feliz, de ter uma alegria, ainda que fosse só por umas horas. Só era preciso que os jogadores encarnados estivessem pelos ajustes...
Coitado. Hoje nem essa alegria teve.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
No meio de toda esta tristeza, Elvira, há pelo menos um dado menos negativo. Como este "Vencido da Vida" está separado há uns anos, a antiga esposa não foi utilizada como alvo de toda aquela frustração, alimentada pelo álcool...
EliminarA tristeza de uns -vencidos da vida- foi a alegria de outros (existem, infelizmente, nos dois lados).
ResponderEliminarÉ sempre assim, Severino...
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