Há profissões que guardam segredos, outras que se alimentam da discrição. Claro que todas estas condicionantes óbvias dependem muito de se ser bom ou mau profissional.
Foi por isso que me pareceu mal ver a empregada da loja prazenteira apontar o dedo a uma sexagenária, que naquele momento passou na rua, por ser sua cliente. Acrescentando entre sorrisos que a senhora devia ter uma das melhores colecções de vibradores da Cidade.
Fiquei em silêncio, mas pensei logo em escrever uma história sobre uma qualquer mulher livre e madura, capaz de lutar contra os preconceitos que se espalham por aí, com o objectivo já muito pouco peregrino, de tentar "comandar" a vida dos outros.
Se é normal viver-se até depois dos oitenta, porque razão não se pode também prolongar a vida sexual?
Mas o mais grave para mim foi esta frase vir de uma mulher com mais de trinta anos. Nem sequer se tratava de uma pós-adolescente.
Ainda pensei falar com ela no assunto, dias depois, mas acabei por desistir. Poderia ser mal entendido. Ela nunca iria entender que o meu interesse era meramente literário.
E assim permaneço na dúvida, sem saber se a maior fatia dos seus clientes são homens ou mulheres.
Normalmente as piadas "sexistas" são masculinas (eu sei que isso acontece por não ouvirmos as conversas entre mulheres, mas...), deve ter sido por isso que estranhei aquela inconfidência. Claro que também fiquei com a sensação que para algumas daquelas mulheres os "devaneios sexuais" continuam a ser coisa de homem...
O óleo é de Felice Casorati.
Ser discreto consigo próprio e com os outros é uma virtude. Gostei de ler o teu texto que me deixou a pensar que também devemos pensar bem no que contamos a outros.
ResponderEliminarUm abraço, Luís.
É mesmo uma virtude, Graça.
EliminarMas estes tempos são de devassa...
Infelizmente,ainda há muito preconceito no que toca ao sexo, não só na terceira idade mas em geral.
ResponderEliminarDurante uns meses trabalhei num local onde a maior parte dos trabalhadores era do sexo feminino (eu incluída, ora pois). Uma noite, pela altura da saída de um colega, fez-se um jantar de despedida e, como já se sabe, com muito álcool à mistura.
A certa altura, apanhei uma conversa paralela entre duas das veteranas do grupo, onde uma que frequentara a casa de outra (esta já deixara o escritório) e que uma vez viu a outra preparar uma mala de viagem onde colocou uma quantidade exorbitante de tangas. Descreveu aquilo como uma vergonha, pois tinham variadas cores, rendas, algumas delas com pérolas e outros retoques que a colega intitulou como sendo "cuecas de puta". E depois riram muito. Sou sincera, aquilo chocou-me. Chocou-me especialmente pelo rótulo que se atribuiu a alguém com base na sua roupa interior. Irritou-me por ser algo vindo de duas mulheres ainda novas (na casa dos quarenta) em referência a uma rapariga com os seus trinta e muitos.
Não me admira, com muita pena, que quando se trata de uma mulher mais velha a ser o alvo de observações haja ainda mais intolerância.
As pessoas perderam o respeito por elas próprias, Ofélia.
EliminarE precisam mais do que nunca de criticar o outro, como se isso lhes massajasse o ego, as tornasse menos tristes...
um texto muito interessante pelo tema abordado.
ResponderEliminarinfelizmente há ainda muito tabu acerca desse tema.
muito bom mesmo!
um bom fim de semana.
beijinho
:)
Há muita mentira, muita inveja, muito fingimento, Piedade.
EliminarE muita cobardia...
Os anos passam, a virada do século já foi há quinze anos, mas o preconceito continua vivo e arreigado no espírito de muita gente. O preconceito e a má educação que leva a que pessoas comentem coisas que não pertencem à sua vida, e são de exclusiva pertença de outrem.
ResponderEliminarDeixo um abraço e votos de uma boa semana
É verdade, o preconceito aliado à inveja e à mentira, dão cabo de vidas, Elvira...
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