Mas não, surgiu a partir de uma conversa, sobre o PREC, que, 50 anos depois, ainda não acalmou todas as almas.
Estou a fazer um trabalho sobre uma pessoa especial e tenho falado com algumas pessoas que se cruzaram com ele pelo caminho.
Uma das pessoas com quem conversei, disse-me que a última vez que tinha estado com ele, fora no final de 1975. Nunca mais se encontraram. Começou por se desculpar com a vida, que é uma coisa estranha, muito estranha. Mas depois confessou que embora nunca tenha deixado de ir aos sítios que quis, não fez qualquer esforço para se voltarem a encontrar.
Não ficou nenhuma mágoa, mas tomaram opções diferentes e acabaram por seguir também caminhos diferentes. O homem que estava à minha frente, com um ar de avozinho simpático, disse-me meio a sorrir meio a sério, que em 1976 e 1977 era um "perigoso esquerdista" e o Zé era um "pacifista"...
Felizmente houve dois acontecimentos que mudaram o rumo da sua vida: foi trabalhar para a Gulbenkian de Paris e conheceu a mulher da sua vida. Como qualquer emigrante, só voltou ao nosso país de férias, até se reformar.
Acrescentou ainda que houve pessoas amigas e até da mesma família, que não se voltaram a relacionar, meramente por questões ideológicas e partidárias. Com algum humor disse que era uma maçada termos braços, pernas e mãos direccionados de forma diferente, uns no lado direito e outros no lado esquerdo.
Contou-me também que durante todo este tempo teve saudades de dois ou três amigos, de quem era mais próximo. Foi sabendo coisas deles pelos jornais, pelo menos dos mais bem sucedidos profissionalmente, como foram os "manos nuno". Mas, apesar disso, nunca fez nada para os encontrar. E era fácil, até por serem todos pessoas das culturas.
Meio a sorrir, meio a sério, disse-me que foi um erro ter-se fiado no "destino" e ter-se escondido atrás da tal frase, "talvez um dia te encontre"...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Ainda há traumas por resolver na gente que fez Abril!
ResponderEliminarE Abril fez-se para unir, não para afastar.
Abraço
Tens razão, Rosa.
EliminarPercebeu-se isso agora nos 50 livros da revolução, com a edição de livros povoados de "recalcamentos", sobre o 25 de Novembro, por exemplo...