Aconteceu há dias a um amigo, o que me aconteceu há anos. Viu um amigo dos seus tempos de escola, sentado na entrada de um prédio, com os seus parcos haveres, de "filho das nuvens". Olharam-se por breves segundos e baixaram os olhos quase em simultâneo. Depois aproximou-se e perguntou-lhe se ele era o Pedro. Claro que o homem disse que não, que ele estava enganado. Com alguma lata e para desviar o assunto, pediu-lhe uma moedinha. O meu amigo, que tal como eu nunca anda com muito dinheiro na carteira, deu-lhe uma nota de vinte euros, a maior que tinha na carteira. E depois virou costas, sem ficar à espera de agradecimentos e sem voltar a olhar para trás.
Eu depois de o ouvir, contei-lhe o que me acontecera, há uns bons trinta anos, ainda mais dramático. Cruzei-me com um dos muitos companheiros de infância na Rua Augusta. Estava descalço, vestido apenas com uma manta com um buraco que enfiara na cabeça e muito sujinho. Andava depressa e ia dizendo coisas sem nexo. Sei que gritei o seu nome, "Manel", ao mesmo tempo que ele soltou uma gargalhada louca. fiquei atónico por alguns segundos e ele aproveitou para desaparecer no meio da multidão. Ainda andei uns metros na sua direcção, mas nem um sinal dele. Claro que a única coisa que poderia fazer era o mesmo que o meu amigo fez, dar-lhe uma "moeda" maior do que as que ele costumava receber...
Acabámos a falar da "merdola" de sociedade, em que vivemos, que permite todos estes altos e baixos.
Não podíamos estar mais de acordo, quando recordámos que quando se entra num "beco sem saída", os familiares, amigos e conhecidos, começam a desaparecer todos à nossa volta. E quando damos por ela, estamos caídos e perdidos na rua...
(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)
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