Claro que a conversa avançou logo para outro lado, quando o Carlos disse: «Quem não quer ter limites, não tem muita vontade de jogar ao jogo da democracia. E também gosta muito pouco de respeitar os outros.»
A resposta, entre a estupefacção e a indignação, foi colectiva. Houve mesmo quem dissesse que os limites faziam parte dos regimes fascistas.
Foi quando o Carlos resolveu ser ainda mais contundente: «Vocês andam mesmo distraídos. Felizmente, em democracia, quase tudo tem limites, ao contrário das ditaduras. Talvez vocês prefiram esses regimes onde vale tudo, onde é costume prenderem-se pessoas, apenas porque sim.»
E foi buscar um exemplo fresquinho: «Não viram o que o senhor todo poderoso da Hungria tentou fazer com a manifestação sobre a liberdade sexual lá do sitio? Ameaçou prender todos os que fossem a manifestação "ilegal". Só não estava à espera que saíssem à rua mais de duas centenas de milhares de pessoas. Deve ter ficado a coçar a cabeça, por não ter prisões suficientes para toda aquela "paneleiragem".»
Foi quando todos percebemos que estávamos a ver o filme errado e voltámos a colocar os pés no chão.
E ele continuou: «O "Monteverde" também não deve gostar nada da palavra limite. Se ele pudesse, tinha silenciado os jornais e continuava a receber avenças da clientela.»
Para depois dar-nos o "safanão final": «Acredito, cada vez mais, que as pessoas estão fartas da democracia. E apenas por uma coisa, por ela gostar de impor limites.»
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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