Estava a conversar sobre escritores e editores antigos com um amigo e veio à baila o Luiz Pacheco e algumas das suas histórias mirabolantes. Confessei que foi uma personagem que nunca me despertou qualquer interesse em conhecer.
Quando disse isto reparei no seu ar de espanto. Expliquei-lhe que tenho dificuldade em lidar com pessoas que sobrevivem graças a "expedientes", que passam o tempo a servirem-se da sua esperteza para ludibriar os outros (que na maior parte das vezes fazem-se de parvos, por razões óbvias...), mesmo que isso aconteça por uma questão de sobrevivência e que sejam talentosos, como era o caso, etc.
Ele insistiu com a história do Pacheco ter vivido nas Caldas da Rainha, a minha "terra". E eu continuei a dizer-lhe que esse tempo foi péssimo para ele e para a família (foi quando lhe retiraram os filhos e ele escreveu a obra "O Caso das Criancinhas Desaparecidas"...).
Foi quando fui qualificado como moralista e mais algumas coisas que não dá muito jeito escrever.
E nem sequer falámos da sua vida pessoal, dos seus casos amorosos com irmãs ainda meninas. Ficámos-se pelos "vintes" que cravava a toda a gente conhecida com que se cruzava...
Talvez seja mesmo um "moralista". Mas somos o que somos. Nem melhores nem piores que os outros, apenas diferentes. Se os exemplos que recebemos em casa são completamente antagónicos destes estilos de vida, que agora até estão na moda, em que muita gente passa o tempo a tentar enganar o próximo, é mais difícil aceitar aquilo que para mim não passa de mais uma "deturpação social". Ou seja, algo que em vez de nos engrandecer, nos empobrece como pessoas.
(E tens mesmo razão, sou muito mais moralista do que pensava, O escrever também nos ajuda a conhecermos-nos melhor, é mais um espelho...)
(Fotografia de Ann Mansolino)
Escrever é uma espécie de conversa com nós próprios :)
ResponderEliminarSem qualquer dúvida, Glória.
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