segunda-feira, setembro 07, 2015

Sabe Bem Falar com Quem Sabe Coisas


Não somos o que se poderá chamar de amigos nem nos encontramos todos os dias ou todas as semanas.

Somos outra coisa qualquer, que por acaso também é boa. Gostamos de falar sobretudo das coisas que estão ausentes na maior parte das conversas. Provavelmente o meu amigo Francisco diria que se tratam de conversas "intelectuais". Talvez sejam um pouco, mas apenas por uma razão: eu aprendo sempre qualquer coisa nova quando estou à mesa com estes dois grupos de gente, da música e do cinema.

O mais curioso é não haver gente comum nos dois grupos. O primeiro encontra-se num café de Alcântara, perto da "garagem-estúdio" do Necas. Eles não só me apresentam novos músicos como falam de coisas técnicas quase estrambólicas que simplificam com a maior paciência do mundo. Eu acho que gosto deles pela sua capacidade de partilhar conhecimentos uns com os outros, contrariando tanta gente que adora esconder o que sabe, para poderem ser olhados como "sabichões das dúzias". 

O segundo não tem poiso certo. Esta malta dos "filmes" é gente das avenidas novas, que tanto pode encontrar-se rente ao Monumental, como para os lados de Alvalade (mas não no "Vává"...). Cresceram no saudoso Quarteto, onde sonharam com as suas primeiras fitas ou escreveram as primeiras críticas de cinema. Comecei a aparecer levado pelo Gui, que queria à força que eu escrevesse para a "sétima arte". Este grupo é muito menos técnico e mais má língua. Fala-se de tudo, até de futebol (para dizer mal da praga dos programas com gente que insulta a inteligência de quem tem dois dedos de testa...) e dos "chupistas" que viraram a sociedade de pernas para o ar e que tentam arrebanhar todos os subsídios e oportunidades de ganhar algum (incluindo cineastas...), roubando o "pão" a tanta gente...

Claro que as conversas que gosto mais são as sobre filmes. Talvez por terem presente a tal componente técnica, ao mesmo tempo que são aprofundados planos e criticados os lugares comuns explorados por tantos realizadores (devo confessar que não fui ver o "Pátio das Cantigas" por sua culpa. Disseram tanto mal da fita, que não consegui entrar numa sala. Provavelmente por saber que estavam certos. Fazer filmes deve ser muito mais que fazer rir o "pagode").

Quando venho Lisboa abaixo, na direcção do Cais de Sodré, onde tenho um cacilheiro à minha espera, penso nas coisas que falámos. Paro aqui e ali para escrever notas em qualquer papel, daquelas que poderiam muito bem entrar dentro dos livros.

O óleo é de Dimitri Vojnov.

Sem comentários:

Enviar um comentário