O "Correio da Manhã" consegue ser o jornal mais criticado e também o mais lido do nosso país. Ou seja, o facto dos títulos da capa serem diferentes das notícias, não altera qualquer mudança na vontade de se lerem as suas páginas de papel, muito menos o facto de muitas delas serem capazes de nos deixarem com as mãos manchadas de um vermelho invisível.
Também não podemos dizer que este é o jornal do povo, porque se estivermos atentos descobrimos que é de toda a gente que gosta de viver num outro país, que nem sequer discuto se é real ou imaginário. Apenas tenho a certeza que não é o meu.
Alguns amigos meus lêem este jornal. Não os questiono em relação ao gosto, apenas brinco em relação a algumas notícias com mentiras de perna curta. Gostos não se discutem e eles gostam de estar informados de que houve mais um fulano qualquer que matou a mulher, um pedófilo que foi preso, uma princesa qualquer da telenovela das nove que mudou de namorado ou de um novo episódio do seriado sobre o prisioneiro 44.
Outros não conseguem esconder as dores do passado, como é o caso do Sá, o engenheiro da nossa rua, que lê de uma ponta a outra as notícias sobre mulheres vítimas de violência doméstica, oferecendo-nos quase sempre ditos que são tudo menos simpáticos sobre elas. Quem não conhecer a sua história de vida, estranha, que alguém culto e educado, seja capaz de dizer tantos disparates sobre o "sexo" cada vez mais "forte".
Mas mesmo nós que sabemos que a mulher o trocou há mais de vinte anos por um desses homens que se afirmam como seus donos e as trazem sempre de rédea curta, não entendemos que ele insista que elas gostam e respeitam quem as maltrata, por isso é que ficam com eles até ao fim das suas vidas.
Quando ele se vai embora comentamos uns com os outros se haverá "cura" para casos como o dele. Queremos acreditar que a psicanálise seria capaz de lhe fazer bem. Ou então o encontro com uma dessas mulheres raras, com paciência e amor suficientes para lhe devolver o que ele perdeu naquele dia em que entrou em casa e descobriu a falta de tudo o que lhe preenchia a vida, quando se deparou com a ausência de alguns dos objectos que decoravam a sala.
O óleo é de Duncan Grant.
Eu comecei a lê-lo por causa das revistas ao Sábado e ao Domingo - numa viagem de avião há alguns anos ofereceram-nos o CM. Não gosto lá muito de jornais, mas gosto das revistas dos jornais, como a do DN de Domingo e gostava muito da do Público.
ResponderEliminarNunca gostei muito do estilo, Gábi.
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