Já devo ter escrito por aqui, que com dezoito anos deixei a minha cidade natal e parti para a Cidade Maior.
Sentia que as Caldas da Rainha pouco tinha para me oferecer. E estava certo. Até por estar longe de me rever na mentalidade pequeno-burguesa virada para o mundo das aparências. Se não partisse, talvez fosse sempre um "inadaptado", talvez escrevesse sobretudo poesia subversiva...
Mas os primeiros tempos não foram fáceis... nunca são para um provinciano "perdido" em Lisboa.
Felizmente tive a sorte de receber dois "pais" emprestados, que me deram uma liberdade que eu desconhecia. Cresci muito mais de um palmo com o Zé e a Elisete, que foram a melhor coisa que poderia acontecer a um jovem rebelde, a dizer adeus à adolescência.
Embora nunca tivesse pensado que iria encontrar um ambiente que me daria a ilusão de ser invisível, sinto que foi uma das melhores coisas que recebi. Já sonhava com a escrita e encontrei pela primeira vez a possibilidade de observar tudo o que me rodeava, sem que alguém reparasse que eu existia.
Claro que não me habituei logo a viver num mundo de "estranhos", gente com dificuldade em soltar qualquer bom dia ou boa tarde... mas não se pode ter tudo.
Ainda hoje gosto de andar perdido na imensidão de Lisboa...
O óleo é de Judith Peck.
Que bom que encontrou um porto para abrigar a nau dos seus sonhos.
ResponderEliminarUm abraço e boas festas.
E ainda bem que se perdeu na imensidão de Lisboa :)
ResponderEliminarbjs