terça-feira, abril 23, 2024

Cada vez ligo menos aos dias disto e daquilo...


Não devia dizer isto (é de livros que se trata), mas cada vez ligo menos aos dias disto e daquilo.

Não foi por isso, mas, consegui, sem esforço, não ler nenhuma página de um livro, e melhor ainda, não comprei também nenhum livro. Mas evitei passar em frente da "Bertrand", podia estar alguém por ali e chamar-me...

A única coisa que fiz de "condenável", foi pegar em vários livros, para os mudar de lugar (estava distraído e...).

O maia curioso, foi a meio da tarde, ter-me cruzado com uma jovem com a pele morena de África, de óculos e com uma máscara pandémica a esconder-lhe parte do rosto, a caminhar e a ler.

Quando nos cruzámos, olhou para mim, talvez espantada, por perceber que olhava para ela e para o livro. Parecia uma jovem presa ao telemóvel, sem sequer olhar para o passeio. Felizmente era um livro que tinha nas mãos (devia ser dos bons...). Não a fotografei, porque dava demasiado nas vistas.

Pensei que não devia ligar aquele pormenor, até porque me cruzo com mais leitoras nos outros dias, que não têm livro como apelido. 

E não devia mesmo, porque para mim todos os dias são dias do livro, menos o dia de hoje...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, abril 22, 2024

As revoluções e os saneamentos costumeiros...


Uma das questões mais controversas em qualquer Revolução, são os saneamentos que se seguem, nos meses seguintes, envolvendo praticamente todos os sectores da sociedade.

Mesmo pessoas que eram olhadas como progressistas a 24 de Abril, que ocupavam cargos com alguma notoriedade, graças à sua competência, acabaram vítimas desta transformação social, a 26 de Abril...

Foi facílimo passar-se de "comunista" a "fascista", em apenas meia-dúzia de dias no nosso País.

Como de costume, quem tinha mais peso mediático, foi quem sofreu mais na pele estas mudanças. As grandes figuras da televisão, da rádio e do espectáculo, foram aquelas que mais sentiram a diferença no tratamento, ao ponto de muitos terem de "fugir" para Espanha ou para o Brasil.  Na música e no teatro, houve mesmo quem mudasse de país (para o Brasil...), para continuar a trabalhar...

O fado foi sem qualquer dúvida o género musical que mais foi perseguido durante o PREC, fazer parte da mítica trilogia dos três éfes, "Fátima, Fado e Futebol", não ajudou nada. A sua grande diva, Amália Rodrigues, também foi perseguida (e até "abandonada" e "desprezada" por amigos próximos, estupidamente...). Como se ela tivesse alguma culpa por ter sido usada como "símbolo" da pátria (tal como Eusébio, embora este não fosse vítima de qualquer acto de menorização, provavelmente a sua cor de pele ajudou...)...

Algumas injustiças foram repostas, outras nem por isso. Houve gente que nunca mais teve qualquer oportunidade profissional, para se "levantar", socialmente. Um desses casos foi o excelente fotógrafo, Artur Pastor, cuja obra tem sido popularizada nos últimos anos. Mas existem dezenas de casos, desde o ensino superior ao jornalismo televisivo. Neste último caso, Henrique Mendes foi a excepção que confirmou a regra, tendo sido "recuperado" profissionalmente, alguns anos depois, com o aparecimento das televisões privadas (na SIC)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, abril 21, 2024

A gente que gosta muito de andar com a palavra liberdade (só) na boca...


Este mundo está cheio de gente que gosta muito de andar com a palavra liberdade na boca, mas que passa a vida a tentar condicionar a liberdade dos outros.

Isto passa-se um pouco por todo o lado. Podia começar pelo interior dos partidos políticos (todos...), passando depois pela mesa dos café e acabando nos campos de futebol.

Os únicos lugares onde normalmente não somos "condicionados" (pelo menos descaradamente), são os espaços onde gastamos as moedas que temos no bolso, desde a mercearia de bairro ao nosso barbeiro (os taxistas não contam, gostam de comer "reis" ao pequeno almoço...).

Talvez seja um problema de interpretação da palavra. 

Talvez pensem que a liberdade é um direito individual (e que seja mais de uns que de outros...) e não colectivo.

Somos um mundo cheio de talvez...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, abril 20, 2024

"As donas de casa não são donas de nada"


Gostei de ler (como de costume...) o artigo de opinião de Susana Peralta, no Público" de ontem, intitulado, "As donas de casa não são donas de nada", em que historiou a vida familiar das avós e tias, que acaba por ser comum a muitos de nós, que descendemos de habitantes das aldeias portugueses, onde por exemplo, a electricidade só chegou depois de Abril...

À mulher estava destinado um papel secundário na sociedade. E isso fazia-se sentir logo no acesso ao ensino primário, que se não era para todos os meninos, menos seria para todas as meninas... E nem vale a pena falarmos do ensino secundário ou da universidade...

É muito importante termos memória (mesmo que exista tanta gente a querer fugir dela, por representar uma vida de pobreza...). Foi por isso que gostei de ler a Susana. Sim, as minhas avós, materna e paterna, também não foram à escola. Mas o mesmo se passou com os meus avôs. Claro que eu sou da geração anterior da economista (devo levar-lhe uns vinte anos de avanço...), os seus avós já são da geração dos meus país, que embora fossem confrontados com os mesmos problemas, puderam lutar mais pela aprendizagem, nem que fosse já "fora de horas" (como ela refere em relação a uma tia...).

Não posso deixar de transcrever a parte final do seu texto, que diz muito do que se avançou e também dos defensores do "estatuto da dona de casa": 

«O enorme contraste entre a minha vida e a das mulheres da geração que me precede na família é revolucionário, no sentido Goldiano e no sentido de Abril. Neste lugar de fala que granjeei, penso muito na voz que elas não tiveram: apesar da inteligência e fino espírito analítico de algumas delas, o país decidiu encerrá-las numa vida de donas de casa na qual, na verdade, não foram donas de nada.
A revolução silenciosa de Claudia Goldin demonstra que a participação de pleno direito das mulheres no mercado de trabalho. é a conquista de um lugar na sociedade, o domínio da fertilidade e a libertação da tarefa de cuidar, que não é paga, nem valorizada. Uma história de poder. As mulheres poderosas metem medo aos machos fracos que as querem mandar para casa.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, abril 19, 2024

A simpática Vila Franca de Xira


Hoje dei um "pulo" a Vila Franca de Xira, uma terra que me é simpática e onde me sinto bem. Penso que isso acontece por manter uma arquitectura tradicional, não se deixando "desfigurar" pelas partes novas da Cidade.

Claro que isto não tem nada a ver com o facto de ser uma "terra de touros e toureiros", embora José Júlio e Vitor Mendes (tive o grato prazer de conhecer ambos...), fossem óptimos anfitriões e mestres desta arte e tradição local.

Acho que é também por isso que gosto do Seixal. Tem uma personalidade muito própria, esforça-se por não se desligar da sua própria história.

Visitei o sempre  agradável "Museu do Neo-realismo", onde além das fotografias de Alfredo Cunha, vi uma bonita exposição de pintura de Amândio Silva, um pintor portuense que fez cem anos em 2023 (e claro, os quadros bonitos da sua colecção, em exposição permanente).

(Fotografias de Luís Eme - Vila Franca de Xira)


A Resistência Almadense e as Bibliotecas Humanas


Voltei a aparecer na sessão da tarde de hoje das "Bibliotecas Humanas" (foi a quarta, é mensal...), cujo tema era a "Resistência Antifascista em Almada", muito graças ao entusiasmo do Luís e do David, os bibliotecários que festejam Abril desta forma, de Janeiro a Dezembro.

Como de costume dizem-se coisas interessantes e pertinentes. Até se questiona o regime actual, que se percebe à légua que se finge mais democrático do que o que é realmente, com novas formas de censura, sem lápis azul, mas com outras subtilezas, próprias deste tempo, cada vez mais estranho.

Já percebi há algum tempo que Almada é um Concelho, que diverge de muitos outros, porque se antecipou vezes demais à história. Foi por isso que falei da sua vocação de resistente, que se mantém bem viva, quase desde a fundação da Nacionalidade, com D. Afonso Henriques. E continuou presente na Crise de 1383, na Restauração de 1640, antecipou o 24 de Julho para 23, na Revolução Liberal, o 5 de Outubro, para 4. E no dia 25 de Abril não antecipou nada, mas saiu descaradamente para a rua, para dar vivas à liberdade, enquanto uma boa parte do país passou este dia agarrado à rádio, fechado em casa...

Ainda bem que somos uma comunidade que, sempre sentiu que tinha mais a ganhar que a perder com as várias Revoluções, que foram mudando o rumo da nossa história.

Nota: Esqueci-me de escrever que no final da sessão cantámos todos a "Grândola Vila Morena" do nosso Zeca e de Abril, em homenagem ao António Policarpo, escritor de Almada, que nos deixara ontem.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, abril 17, 2024

Crimes (quase) perfeitos e polícias demasiado humanos...


A televisão alimenta muitas conversas, penso mesmo que falo mais de séries policiais que de "livros pretos". Entre outras coisas, porque se vê mais televisão e se lêem menos livros. Mas há trinta anos já era assim, não fale a pena falarmos da mudança de hábitos provocada pelos ventos da modernidade.

Por causa de uma série, a conversa avançou e fixou-se em quase uma dúzia de crimes que nunca foram resolvidos (andámos desde o padre Max até à jovem grávida da Murtosa, sem esquecer a menina inglesa que estava de férias no Algarve...).

Claro que as causas da não resolução dos crimes nem sempre tinham pontos comuns (a excepção era a falta do corpo da vítima em vários casos...). Foi por isso que acabámos por focar a conversa nos "crimes perfeitos" e nos "polícias incompetentes", por fazerem mais parte da ficção que da realidade, ou seja, serem normalmente mais explorados nos livros, nos filmes e nas séries. 

Nos livros então, há quase sempre um detective particular (que funciona em paralelo com as polícias...), que é mais aberto e mais claro na exploração das pistas, descobrindo a maior parte dos assassinos, antes das autoridades policiais, que também têm como papel fazer "figura de parvo" nas histórias. 

As conversas são mesmo como as cerejas. Continuámos de viagem, ao lado de autores, que tal como nós, dispensavam a arrogância e as "certezas" das polícias, tão fáceis de caricaturar na ficção...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, abril 16, 2024

A aposta na diferença (mesmo que seja absurda)


Primar pela diferença não está ao alcance de todos.

Até porque há coisas que são difíceis de colocar em prática, por muito que nos apeteça andar por aí de pernas para o ar. 

É por isso que normalmente muitos dos amantes das diferenças preferem fazer coisas mais cómodas, mantendo bem vivo o "espírito inventivo da coisa".

É o caso do Manuel, que tem em casa um relógio que anda ao contrário e também têm os números colocados em sentido contrário, para que possa dar as horas certas (é quase como ver um "tic-tac" ao espelho...).

Claro que é mais uma maluquice que uma "descoberta da pólvora", como disse o Fernando. E há também a possibilidade de ser um problema de "quedas" e "trambolhões" na infância...

Lembrou-me o Jorge, que adorava ser o único com o "passo certo" nas paradas militares...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, abril 15, 2024

Eu sei que a palavra "incomoda-me" é forte de mais...


A palavra "incomoda-me" é forte de mais. Mas acho estranho que de um momento para o outro, tenham crescido tantos comentadores e comentadoras de guerra, em todos os canais televisivos. São mais que os cogumelos...

E agora vem a parte sexista... Acho ainda mais estranho ver tantas mulheres a comentarem guerra, a falarem de armas e de tácticas militares, como se fossem autênticas peritas.

E até podem ser, mas...

Imagino que toda esta "sapiência" tem mais a ver com o "negócio", que com outra coisa. 

É provável que tenham pensado: "esta guerra é capaz de ser uma boa oportunidade para ganhar uns cobres." E depois devem ter ido ainda mais longe: "dizer o que o Milhazes e o Rogeiro dizem, é mais fácil que comentar futebol".

Eu sei que com as guerras não se deve brincar, mas de certa forma, é o que se passa nas nossas televisões, com o "desfile" diário de gente que adora dizer banalidades e falar de "marcianos"...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


domingo, abril 14, 2024

«Não foi para isto que fiz o 25 de Abril!»


O meu único amigo, que foi "Capitão de Abril", era especial. Conversámos sobre muitos episódios que continuavam mal explicadas e outros que não nos deixavam qualquer dúvida, sobre todo o processo revolucionário.

Uma das coisas que mais o irritava, era ouvir, um ou outro camarada de armas, em momentos mais polémicos do nosso país, dizerem: «Não foi para isto que fiz o 25 de Abril!» 

Irritava-o por duas razões, pela exploração do "eu", quando a Revolução foi um Movimento Colectivo, mas sobretudo por saber que as questões mais importante tinham sido resolvidas com o 25 de Abril de 1974.

Ele dizia com um sorriso, que o MFA, além da democracia (que nem sempre é muito palpável), devolveu-nos a Liberdade e a Paz. E só por isso, a tarefa dos Capitães ficou cumprida. 

50 anos depois não tenho dúvidas, de que o Carlos, estava mais que certo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, abril 13, 2024

Como dizia o Poeta Eduardo: isto está tudo ligado (e está mesmo...)


Não deixa de ser curioso, que sejam muitos destes liberais, empresários e gestores, que se dizem defensores da "família tradicional" (há a possibilidade de as suas teorias serem só para os condomínios de luxo onde vivem, desgostosos por oferecerem às esposas todas as condições para lhes darem "um magote" de filhos, e elas não estarem para aí viradas...), quem mais tem contribuído para o empobrecimento da maior parte das famílias portuguesas, pagando ordenados miseráveis aos seus "colaboradores", ao mesmo tempo que lucram milhões.

São eles, os defensores e grandes beneficiados deste capitalismo selvagem (com a tal capa do "liberalismo"), que tem desregulado todos os sectores da nossa sociedade, com a teoria de que o "mercado tudo conserta" (mesmo que cada vez existam mais pobres e miséria à sua volta...), quem mais têm contribuído para que cada vez seja mais complicado constituir famílias (tradicionais ou das outras) e deixar descendentes. Com ordenados baixos, casas caríssimas no mercado, o mais sensato continua a ser dar ouvidos ao "apresentador da obra" em causa, que há uns anitos aconselhou os jovens a emigrarem...

Podem escrever os livros que quiserem, mas se continuarem a pensar apenas nos cinco por cento, que têm rendimentos que lhes permitem alimentar o sonho de ter, no mínimo, um número de filhos que lhes dê o prazer de formar uma equipa de "futebol de cinco", continuam a reduzir o mundo aos seus condomínios fechados, ao mesmo tempo que "expulsam" os nossos jovens para fora do país...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, abril 12, 2024

O "silêncio ensurdecedor" das mulheres portuguesas (as "esquerdistas" do costume não contam...)


Estava à espera de assistir a reacções mais contundentes das mulheres portuguesas sobre o que alguns homens escreveram (num livro) e disseram (na apresentação e depois). Sim, alguns não se sentiram completamente realizados na sua tarefa da defesa da "família tradicional" e já vieram com propostas ainda mais "interessantes", como a do "estatuto da dona de casa".

Não frequento as redes sociais, pelo que não sei se estou completamente certo, sobre este "silêncio ensurdecedor" das mulheres portuguesas (tanto as antigas como as modernas).

E há ainda outra questão: até podem haver por aí muitas mulheres que querem que se volte ao tempo em que elas se limitavam a ser mães e donas de casa... Só que isso só poderá ser garantido a uma minoria de mulheres (as esposas dos "empresários" e dos "políticos"  bem sucedidos do nosso país...), pelo menos com um nível de vida economicamente aceitável.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, abril 11, 2024

A nossa irracionalidade (tão mal disfarçada)...


Pois é, também pertencemos ao grupo de animais (racionais é apenas um apelido...), num mundo onde continua a imperar a lei do mais forte.

Embora eu soubesse, o Carlos fez questão de quase "me esfregar na cara" a nossa animalidade, com os exemplos de Gaza e Ucrânia, onde se mata, tortura e faz sofrer o semelhante, por razões que a própria razão e a nossa humanidade começa a desconhecer (ou nunca conheceu...).

Isto claro, se esquecermos o negócio das armas, que vai de vento em popa, para a América dos loucos (sim loucos, que malucos somos nós, que fingimos não conseguir viver sem eles...) ou para a China, que fingiu ser uma "loja dos trezentos" para nos comer a todos por parvos, aqui nas europas... e até para a Coreia dos nortes e o Irão.

Como o Carlos disse, somos mesmo uns "gatinhos" (até me sugeriu uma fotografia...)...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)