terça-feira, novembro 19, 2024

Conseguir resistir ao fascínio da televisão...


Conheci duas ou três pessoas que nunca tiveram televisão em casa. E estavam longe de ser aparentados com "marcianos". Era apenas uma questão de opções, de escolhas. Preferiam conversar uns com os outros, ler, ouvir música ou dar uma volta ao quarteirão, que  ficarem presos às notícias ou à telenovela da noite. E também tinha uma apetência especial por ver teatro e cinema.

O curioso era os filhos crescerem (falei com alguns...), sem sentir a falta do "pequeno ecrã", que nos influencia, muito mais do que pensamos.

Mas por alguma razão elas eram tão poucas...

É muito difícil resistir ao fascínio da "caixa mágica". E quem vive sozinho ainda terá mais dificuldade em deixar de fazer esse gesto simples, de carregar no botão e ficar com o "mundo em casa"... 

A não ser que não goste de companhia, de "ouvir outras vozes" à sua volta.

(E mais uma vez, não era bem sobre isto que queria escrever, mas agora já está...)

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 18, 2024

«O que é hoje a Arte? O que é hoje um artista plástico?»


Cada vez gosto menos de ser demasiado afirmativo (a idade oferece-nos a dúvida e a incerteza, que nos tornam mais humanos...).

Tantas vezes que me limito a sorrir, por não saber que palavras usar, para responder a isto e aquilo.

Dois amigos tinham visitado uma exposição estranhíssima e tinham muitas dúvidas  de que aquilo fosse arte. Não "embarcavam" nas novas formas de expressão artística, que pelo simples facto de nos surpreenderem, mesmo que fosse pela negativa, já transportavam arte dentro de si...

Quando o Rui nos questionou: «O que é hoje a Arte? O que é hoje um artista plástico?»

Ninguém respondeu. Aliás, houve alguém que soltou uma palavra, mas mais a gozar com tudo aquilo que de que falávamos, que a explicar o que quer que fosse. E sim, ele estava certo muitos artistas são isso mesmo, uns "pantomineiros".

Eu viajei no tempo, fui até às "instalações artísticas" e às pinturas dos portões do nosso casal, criadas pelo meu pai, que mesmo sem ter qualquer formação, tinha dentro de si a alma de artista. Talvez todas aquelas coisas estranhas, que ele montava com o que já não prestava, hoje fossem Arte...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 17, 2024

"Vinde a mim, pobrezinhos do mundo..."


Os dias disto e daquilo, sobrepõem-se cada vez mais. Hoje era  dia mundial de pelo menos três coisas diferentes. Apenas vou falar de uma delas, por esta continuar a ser um dos nossos maiores flagelos sociais: a pobreza.

Depois dos tristes anos da "troika" (com o nosso Governo a ir ainda mais longe que essa gente...), o fosso entre ricos e pobres, em vez de diminuir, foi aumentando. Haverá várias explicações para isso acontecer, mas hoje nem me quero focar muito no "capitalismo selvagem" ou nas "más políticas sociais" de um partido, que de socialista só tem o nome, muito menos do seu sucedâneo, que nunca escondeu ao que vem.

Quero falar sim de toda uma indústria que tem florescido em volta dos "pobrezinhos" (sem meter no mesmo saco as associações de voluntários que tentam mesmo ajudar as pessoas...), que gosta de "coitadinhos" e se esforça para roubar a dignidade ao ser humano. 

Indústria que tem a seu lado uma igreja quase moribunda, que também sempre fez a sua "luta" em redor dos "pobrezinhos", e claro, as grandes famílias do poder, que sempre gostaram de distribuir esmolas. Com algumas "esposas do regime" a voltarem a ter a sua "corte de pobrezinhos" a quem dão "pão e agasalhos", e claro, a fazerem o respectivo sorteio, para terem um "pobrezinho" na mesa de Natal...

É por estas pequenas grandes coisas, que se percebe que crescemos muito pouco, como seres humanos. Tenho cada vez mais vergonha de viver numa sociedade que se alimenta e alimenta este "mundo dos coitadinhos", que prefere dar esmolas em vez do pagamento justo pelo trabalho.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 16, 2024

Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...


Penso que é a primeira vez que escolho a resposta a um comentário, como título de um texto por aqui, no "Largo".

Isso aconteceu por estar a pensar em coisas próximas, que acabaram por me levar a comentar desta forma: «Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...»

Muitas vezes, estamos tão próximos das transições, que passamos por elas sem olhar para elas, mesmo quando quase "nos tocam"...

Do que não tenho qualquer dúvida, é que, o que vem aí, em vez de nos facilitar a vida, só a irá complicar mais. E não estou apenas a falar da "inteligência artificial" (que será de grande utilidade para quem não gosta de pensar e criar, pela sua própria cabeça...). 

O que é mais incompreensível, para mim, é reparar que há demasiados países na europa a suspirarem por "salazares", "hitleres" e "stalines"...

Será que esta gente anda toda com medo da liberdade (dos outros, claro)? Ou será que estão cansados desta (falsa) democracia?

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 15, 2024

Conversas com memórias (das curiosas e boas)...


Por motivos profissionais, por vezes cruzamo-nos com figuras públicas, e por razões óbvias, tratamos-as como qualquer outra pessoa. Até somos capazes de fingir que não vemos telenovelas ou programas de "novidades artísticas", apenas porque sim...

Conversámos sobre isso ao jantar, porque a minha filha, que dá os primeiros passos na sua vida profissional, confrontou-se com uma situação destas e disse-nos que se sentiu confortável, por ser capaz de tratar a "vedeta" como qualquer outro paciente.

Acabei por viajar no tempo e ver alguns "filmes" a passarem por mim. 

Primeiro passaram estes artistas da televisão. Nunca esqueci a cena patética de um actor que passou por mim, três ou quatro vezes no corredor de um supermercado, e em vez de ser eu a olhar para ele, era ele que não parava de olhar para mim. Não se tratou de uma cena de "assédio sexual" (duas palavras que andam na moda...), mas sim de busca de reconhecimento. Não só fingi que não o conhecia, como deixei o meu olhar ficar preso nas prateleiras deste espaço comercial.

E depois apareceu-me um outro "filme" e passaram por mim as pessoas que só são conhecidas por uma minoria, os leitores. Claro que falo de escritores. Normalmente preferem observar em vez de ser observados, pelo que têm uma postura antagónica em relação à gente da televisão, que já sai de casa com a preocupação de ser vista. 

Penso que a primeira pessoa do "mundo dos livros" que cruzou o seu olhar comigo, foi o grande José Gomes Ferreira, no Chiado, no começo da década de 80 (tinha acabado de chegar à "cidade grande"...). A sua farta cabeleira branca que o vento levantava, não enganava. Durante uns segundos olhámos um para um outro com espanto e também com vontade sorrir, como se fossemos apanhados em qualquer situação imprevista. Depois perdemo-nos na multidão, sem sequer trocarmos um bom dia ou boa tarde. Fiquei sempre com pena de não lhe dizer: "Olá "Poeta Gigante".

Acabei por recordar outros encontros. O mais curioso aconteceu com a Maria Gabriela Llansol, que estava à porta de uma livraria (também no Chiado...) e me ofereceu um sorriso, daqueles bonitos, também sem palavras. Sem fugir da zona, na escadaria do metro, na estação Baixa-Chiado, cruzei-me, recentemente, com o Mário de Carvalho, ele descia e eu subia. Também ficámos uns segundos a olhar um para o outro, mais uma vez sem dizermos uma palavra, com a tal vontade de sorrir, fruto da cumplicidade que existe entre leitor e autor.

Também podia falar do encontro na Praça Gil Vicente com Luísa Costa Gomes, onde experimentámos o mesmo espanto. Mas tenho uma história ainda mais curiosa e diferente, de todas estas, que teve como protagonista a minha poeta preferida, a Sophia. Nos anos 90 cruzámo-nos na Graça (nessa altura não sabia que ela vivia por ali...), ela vinha com um saco de compras e falava sozinha. Por ter óculos escuros, só a reconheci depois de nos cruzarmos. Desta vez não houve troca de olhares. Ela estava tão entretida a "falar com os seus botões", dentro do seu mundo, que o resto devia ser apenas paisagem. Mas pela elegância e altivez, só podia ser ela, a minha Poeta...

Só por estas "viagens dentro da minha memória", valeu a pena a conversa durante o jantar...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, novembro 14, 2024

Quando se "mostra (quase) tudo", fica sempre pouca coisa para esconder...


Basta andar na rua, para ver que um dos usos do smartphone é o "auto-retrato", é normal vermos as miúdas passarem o tempo a olharem-se ao "espelho", através das câmaras deste pequeno rectângulo, que tem sido ainda mais revolucionário, que a televisão quando apareceu, no final dos anos cinquenta.

Provavelmente, depois, enviam os seus "retratos" por esse mundo fora...

Foi esta imagem que me fez pensar, neste tempo em que se "mostra tudo", mas que também dá espaço para todo o género de "ficções". Sim, oferece a possibilidade de se jogar vezes demais às escondidas, mentir (aliás fugir da realidade, talvez seja mais certo...), é mais normal que nos tempos da minha adolescência.

Claro que é um tempo de riscos, destapa-se de um lado e tapa-se de outro. Claro que ao "tapar", há sempre algo que fica à vista, que fica de fora...

São os riscos da exposição excessiva, algo que antes só acontecia com as figuras públicas quer gostavam de ser capa das revistas "cor de rosa". Agora está a banalizar-se. 

E tudo indica que todas estas "ficções" irão piorar, com as inúmeras possibilidades oferecidas pela "inteligência artificial"...

(Fotografia de Luís Eme - Alcochete)


quarta-feira, novembro 13, 2024

Mulheres bonitas muito distraídas...


Há uma coisa que sempre me fez alguma confusão, as pessoas bonitas (falo de mulheres, os jornalistas só fazem estas perguntas ao "mais belo animal do mundo"...) que dizem nunca terem dado conta do efeito que a sua beleza provocava nos outros (em nós, homens, claro)...

Ainda ontem li uma entrevista, com vinte e alguns anos, em que uma mulher elegante e bonita, de cabelo e olhos claros, disse isso. Nesse tempo ela "parava o trânsito"...

Talvez fosse uma rapariga loura muito distraída. Até porque nessa altura os piropos na rua (daqueles muito ordinários...) e os assobios, eram o "pão nosso de cada dia".

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, novembro 12, 2024

A quase lenta mudança de regime sente-se nas pequenas coisas (essenciais à vida)


Pensamos em muitas coisas, que esquecemos, porque a nossa cabecinha é demasiado pequena, para dar abrigo a tanta informação, significante e insignificante...

Pensei nisto, quando ouvi uma mulher com idade para ter netos já crescidotes, falar do aumento do custo de vida, dando um foco especial ao preço do pão, na mercearia do bairro.

Não disse nada mais fiquei com o "pão" na cabeça, ao qual somei o "leite".

Vinha a andar para casa e continuei a pensar, neste tempo em que se pensa mais do que se fala. Sabia que era nas pequenas coisas, essenciais para a vida de todos nós, como são o pão e o leite, que se percebe e sente que esta gente que governa, além de ter perdido o bom senso, também perdeu o pudor. Sim, perdeu o pudor, bens essenciais como o pão e o leite estão no "mercado livre", podem ser aumentados semana sim, semana não como a gasolina ou o gasóleo. Acabou-se a sua "protecção", o tempo em que havia algum cuidado, para que pelo menos o pão e o leite, não faltassem aos pobrezinhos.

É através destas pequenas coisas, que percebemos que de uma forma lenta, vamos mudando de regime, abrindo portas aos gajos e gajas que aspiram a ser "donos disto tudo"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, novembro 11, 2024

Fartos (e cansados) de perceber a parte do "não há dinheiro"...


Já escrevi vários textos sobre a vida difícil de quem tenta ser artista a tempo inteiro, viver apenas da sua arte, sem ter uma outra primeira actividade que chama segunda...

Talvez a teimosia maior resida em quem faz teatro e raramente recebe convites para  qualquer papel, grande ou pequeno nas telenovelas. Alguns fingem que não suportam a televisão, cada vez mais estupidificante, e acrescentam que nunca aceitariam fazer parte do elenco telenovelesco.

Dizem isto, mas contam os tostões até ao fim do mês, para sobreviverem com a dignidade possível (para alguns isso só acontece porque almoçam e jantam vezes demais na casa dos pais...). Comecei a contá-los e já ultrapassam os dedos das minhas duas mãos...

Olhando para a nossa realidade, só dois ou três "consagrados" é que se podem dar ao luxo de não fazer telenovelas. Mas para contrabalançar este "luxo", fazem publicidade, que normalmente dá mais dinheiro e menos trabalho, que as fitas por episódios que ocupam diariamente os serões televisivos portugueses.

Lá estou eu a querer dizer uma coisa e acabar por escrever sobre outra...

Eu só queria dizer que não há um actor português, das pequenas e grandes companhias de teatro, que não esteja farto e cansado, do disco riscado, que lhes é oferecido, quase todos os dias, de que "não há dinheiro" (quase sempre pelas autarquias...), porque é preciso alimentar as criancinhas nas escolas, sim a fome existe, em quase todo o lado; porque têm de fazer obras para realojar as pessoas; porque é preciso tapar os buracos da estrada, etc.. Ou seja, a cultura não consegue sair do último lugar das prioridades deste país, "cada vez mais de brincar"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 10, 2024

Ainda as estranhezas (dos que lutam para não mudar)...


(não é a continuação de ontem, mas até podia ser, quase no sentido inverso)

Curiosamente, dois dos lugares mais avessos a mudanças (talvez por serem estranhos por natureza), são o futebol e a política.

Apesar das aparentes inovações e das palavras bonitas ditas pelos dirigentes da Liga e Federação, a "chico-espertice" continua a reinar em toda a linha no futebol (são muitos milhões a saltar de bolso em bolso, por cima e por baixo da mesa...), assim como a habitual má gestão (são muito mais os clubes "falidos" que os com as chamadas "boas contas"...).

É toda esta incompetência que faz com que a "corda" seja cortada sempre no mesmo lado: o canto dos treinadores, que se perderem duas vezes seguidas, são despedidos e obrigados a assumir todas as culpas, desde a falta de qualidade dos atletas contratados até ao dinheiro que não chega às contas dos profissionais no final do mês (nem o sindicato os vale). 

Na política, embora também continue a prevalecer a "chico-espertice", é um mundo mais "finório" (até porque nem nos tempos de "banca rota", o dinheiro falta...). Mesmo que existam mais "rabos de palha", há muito mais "arte" para os esconder.

Isso faz com que aconteça o inverso do futebol: só se demitem ministros e secretários de estado (por mais incompetentes que sejam ou por serem suspeitos de ter feito desaparecer a "caixa das esmolas" da paróquia onde eram autarcas...), se não existir outra alternativa qualquer, como eles saírem pelo próprio pé...

Pois é. Há coisas que passam o tempo a mudar... e outras que nunca mudam.

Vá-se lá perceber porquê...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, novembro 09, 2024

A "Fenomenologia do Entroncamento" nas Culturas


Se o mundo se tornou um lugar mais estranho, o normal é que aconteçam muitas mais coisas estranhas, que no tempo em que tudo parecia ligeiramente mais normal.

E isso acontece em todas as áreas da sociedade. A cultura, apesar de esquecida, vezes de mais, não escapa às estranhezas deste tempo...

Vou dar apenas dois exemplos, só deste nosso Portugal: editam-se muito mais livros que há dez anos, mesmo que os leitores sejam cada vez mais menos; fazem-se também mais filmes falados em português, mesmo que espectadores continuem a preferir a língua inglesa.

E é possível viver assim, muito tempo? às vezes sim. Depende dos expedientes usados para se tentar "sobreviver"...

Acontece que os custos de produção de ambas as áreas são cada vez mais reduzidos: as tiragens são cada vez mais curtas no mundo dos livros - há primeiras edições de apenas de 100 exemplares;  os filmes produzidos têm muito menos custos e são realizados quase de forma caseira.

E ainda bem que somos bons na "guerra da sobrevivência", é a explicação simplista para a existência de um número significativo de livros e filmes portugueses novos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 08, 2024

A única estatística que tenho é o meu olhar, mas...


Embora não tenha nenhum dado estatístico sobre qual é o animal doméstico mais popular na actualidade em Almada, noto um grande crescimento de cães. E isso acontece desde a pandemia.

Antes, o que se via mais em Almada, eram gatos. Muitos deles "vadios", mas como tinham sempre várias distribuidoras de comida e de água, pelas ruas da Cidade, sobreviviam sem grandes dificuldades.

Depois veio a pandemia e quase que se deu ouvidos à sabedoria popular (sempre ela...), e quem "tinha medo", acabou mesmo por comprar um cão, nem que fosse para ter uma desculpa para andar na rua, nesses tempos de quase reclusão...

Alguns deles devem-se ter afeiçoado aos animais, outros habituaram-se a estes passeios, como momentos de evasão familiar, outros mais estranhos, perceberam que os cães nunca refilam com os donos, nem quando levam um ou outro pontapé...

A única coisa de que tenho a certeza, é que nunca vi tanto cão a passear na cidade, atrelado a seres humanos...

Também sei que antes da pandemia, havia mais humanidade pelas ruas. Claro que se há alguém que não tem nenhuma culpa disso, são os cães e os gatos...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)